As cúpulas dos grandes e a movimentação dos povos
Já se sabia que a reunião do G20 ia dar em quase nada. Deu em mais um pacote de US$ 1 trilhão. Mais dinheiro para o ralo ou destinado a virar cinzas. Uma apagada e vil tristeza, como diria o escritor português Gil Vicente, é o estado de ânimo que carac
Publicado 02/04/2009 17:53
O mundo capitalista-imperialista encontra-se mergulhado em profunda crise e fica mais uma vez patente que esta não é de fácil solução, mesmo com pacotes trilionários e o reforço financeiro e institucional dos organismos financeiros internacionais. Num ambiente de incerteza provocado pelo terremoto econômico-financeiro que tem epicentro nos Estados Unidos, as declarações de intenções e o pacote do G20 também tendem a resultar inócuos.
O Brasil, a China e a Rússia, países continentais, de grandes economias, tentaram cumprir o papel que lhes cabe. Empenhados em neutralizar em alguma medida os efeitos mais deletérios da crise e contornar o perigo de eclosão de uma crise social, usaram o G20 como tribuna para, cada um à sua maneira, denunciar o caráter da crise e responsabilizar quem de fato tem culpa no cartório – os países imperialistas, à frente os EUA. A China, apoiada pela Rússia, propõe nova moeda de reserva internacional, pondo a nu a fragilidade do dólar, sintoma incontornável do declínio histórico do imperialismo estadunidense.
De resto, a reunião de Londres pôs a descoberto as contradições interimperialistas entre a França e a Alemanha, por um lado, e os Estados Unidos, por outro.
O G20 não tinha como oferecer soluções para a crise. Até agora esta tem ignorado os pacotes salvacionistas. Tudo indica estar-se diante de sintomas realmente muito graves e frases de efeito como “combater os excessos do mercado”, “adotar mecanismos de regulação”, e “refundar o capitalismo” não vão adiantar muita coisa.
Por outro lado, o G20 ,longe de ser um fórum destinado a estabelecer em bons termos a governança no mundo, revelou-se como mais um desses engendros que aparecem no cenário internacional com o fito de estabelecer algum mecanismo multilateral de consulta e intervenção. Desta feita, à diferença do G7/G8, não apenas entre as potências imperialistas, mas permitindo também a presença dos chamados países emergentes sobre os quais se fala muito para efeito publicitário, mas que não são levados em tanta conta assim.
Da parte do povo brasileiro e de suas forças políticas progressistas, não nutrimos qualquer ilusão de que os interesses nacionais e populares irão prevalecer em tal cenário. Nossa voz poderá ser escutada entre os povos do mundo, mas no cenário do G20 faz-se muito pouco caso do que venhamos a dizer, apesar do “Eu te adoro” declarado por Obama a Lula e da “identidade total” do francês Sarkozy com as opiniões do brasileiro. As potências imperialistas tentam atrair o apoio do Brasil numa quadra histórica em que cresce o prestígio de nosso país. Nada de bom se poderá esperar delas. A vocação do imperialismo não é a paz nem fazer bondades com os povos e as nações que lutam por firmar sua independência.
Sem ignorar a importância da diplomacia e das brechas que as disputas e conflitos internacionais abrem, sabemos que as grandes conquistas nacionais e populares serão arrancadas em outros cenários de luta e através de outros conteúdos e formas. No último dia 30 de março centenas de milhares de trabalhadores foram às ruas em várias partes do mundo para protestar contra a tentativa de jogar sobre os ombros dos trabalhadores e dos povos os efeitos da crise. Na própria Londres ocorreram veementes protestos de massas na véspera e no dia da cúpula.
Além da reunião do G20, realiza-se a partir de amanhã outra cúpula de chefes de estados, desta feita com sentido geopolítico e militar. Trata-se da cúpula da Otan – Organização do Tratado do Atlântico Norte, braço armado do imperialismo norte-americano no continente europeu, instrumento agressivo voltado para sufocar as lutas dos povos não só na Europa, mas em toda a parte, segundo a nova concepção estratégica. A Otan hoje está bem presente nas ocupações do Iraque e do Afeganistão. Segundo proposta do presidente estadunidense Barack Obama, é necessário incrementar a presença da Otan nesse país centro-asiático para exterminar o “terrorismo” dos Talebans. Isto mostra que o militarismo continua sendo a principal vertente da política do imperialismo.
Neste contexto, ganha relevo a realização dos eventos organizados em Buenos Aires e Belgrado em 20 e 24 de março, sob os auspícios do CMP, para advertir o mundo quanto aos perigos que emanam dessa aliança militar agressiva, assim como os eventos programados para 3 e 4 de abril em Estrasburgo, quando, ao lado de outras organizações e redes pacifistas e de solidariedade internacional, o Conselho Mundial da Paz irá reiterar uma viva denúncia das políticas de guerra do imperialismo e fazer um vigoroso chamamento aos povos para a luta pela paz, numa perspectiva antiimperialista.
* Jornalista, secretário de Relações Internacionais do PCdoB