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Documentário de animação retrata massacre de Palestinos

No filme Valsa com Bashir, que estreia nesta sexta-feira (4), o diretor Ari Folman, 46, subiu alguns degraus na escala evolutiva das animações com um documentário no formato de desenho, sobre o massacre de palestinos ocorrido em 1982, no Líbano,

O gênero inovador, com belas imagens e uma trilha sonora marcada por hits de bandas da década de 80 — como Public Image Ltd. (PIL) e Orchestral Manoeuvres in the Dark (OMD)–, tem objetivo claro: ''a intenção é alcançar públicos mais jovens. Quero que o filme chege a pessoas cujas vidas e decisões futuras ainda podessam ser afetadas'', diz o diretor.


 


Folman não só assume a influência de quadrinistas como Art Spiegelman e Joe Sacco como arrisca uma previsão: ''As graphic novels se tornaram uma forma moderna e artística de jornalismo. E a tendência é que elas levem a mais animações para adultos''.


 


O diretor levou cerca de dois anos e meio para finalizar Valsa com Bashir, que disputou a estatueta de melhor filme estrangeiro no Oscar 2009. O documentário surgiu, em parte, como uma maneira de burlar o serviço militar. Na reserva, Folman prestava serviços como diretor de curtas-metragens sobre, por exemplo, como se proteger de um ataque atômico.


 


Aos 40 anos, ao pedir uma dispensa, Folman foi aconselhado a ver um psicoterapeuta do Exército e contar sua experiência no conflito no Líbano para obter a liberação. Durante as 20 sessões, de duas horas cada uma, a história foi vindo à tona, e o diretor procurou amigos e familiares. Começou aí a desenrolar o novelo das lembranças do massacre dos campos de refugiados palestinos em Sabra e Chatila, no sul do Líbano.


 


Mais de três mil mortos


 


Estima-se que mais de três mil civis tenham sido mortos pela milícia cristã dos falangistas (aliados a Israel), em represália ao assassinato de seu líder e então presidente libanês Bashir Gemayel, a quem o título se refere. A valsa, a propósito, é uma metáfora do tempo cinemático, segundo Folman: um soldado sai em disparada atirando com sua metralhadora. O que teria durado dez segundos pareceu-lhe uma eternidade.


 


Para a animação, Folman gravou em um estúdio entrevistas com sete de seus contemporâneos. Outros dois não quiseram participar, e suas histórias foram narradas por atores. O diretor defende que seu filme é apolítico, pois ele não entrevistou palestinos ou cristãos. Isso não evitou, no entanto, críticas da esquerda — para quem o filme não assume a parcela de culpa de Israel — e da direita — que, por sua vez, achou que o documentário fere a imagem do Estado judaico.


 


Apesar de querer atingir em cheio corações e mentes do público jovem, Folman, que transformou o filme em HQ, lançada aqui pela L&PM, faz questão de ressaltar as diferenças entre seu filme e longas de ação dos EUA que retratam guerras: ''Ninguém quer ser um dos personagens de Valsa com Bashir, diz. ''Eles não são 'cool' [legais], não se trata aqui de uma história de bravuras ou amizades heroicas.''


 


Originalidade


 


Segundo o blog Spoiler ,“o que o filme tem de mais original é sua estrutura. Copia os rostos das pessoas reais e as torna personagens, mais perto da história em quadrinhos que dos desenhos animados. E faz isso como um documentário, misturando imagens falsamente reais com depoimentos de protagonistas da história que narra”.


 


Apesar de ser uma animação, o Spoiler destaca a dureza da realidade presente no longa. “Com uma colocação puramente cinematográfica, o diretor joga com as cores e mal sai do espectro cinzento nas cenas de guerra, para usar, na última seqüência, posterior ao massacre, imagens reais do momento.”


 


O filme parece mesmo elevar as sensações. “No mar de monólogos surdos em que nos encontramos atualmente, em que (quase) todos querem somente usar o espaço que existe para pregar suas crenças pré-estabelecidas e não para tentar ouvir antes de falar, pensar antes de julgar, sentir antes de concluir, o réquiem para um sonho de paz de Folman é sinfonia para os olhos”, reflete Spoiler.


 


– Confira abaixo o trailer legendado: