Reservas mundiais em títulos dos EUA encolhem, diz FMI
O agravamento da crise internacional interrompeu o intenso processo de acumulação de reservas que nos últimos anos levou a China e vários países “em desenvolvimento” a adquirir trilhões de dólares em títulos do Tesouro norte-americano e outros ativos p
Publicado 03/04/2009 12:39
O movimento concentrou-se nos países “emergentes”. Eles queimaram US$ 292 bilhões em divisas na segunda metade do ano, quando precisaram do dinheiro para estimular suas economias e combater a crise. Em dezembro, os emergentes ainda tinham US$ 4,2 trilhões nos seus cofres, de acordo com o Fundo. Essa redução ocorre em um momento em que a China, dona de mais de US$ 2 trilhões em divisas, tem manifestado grande preocupação com o futuro do dólar e os prejuízos que poderá sofrer se uma deterioração mais profunda da economia norte-americana levar à desvalorização das reservas acumuladas pelo país.
Na semana passada, o presidente do Banco Popular da China, o banco central chinês, Zhou Xiaochuan, defendeu a criação de uma nova moeda e um conjunto de reformas que poderia encerrar décadas de domínio do dólar no comércio e nas transações financeiras internacionais. Ninguém acha que mudanças desse tipo possam ser executadas com rapidez ou que o dólar esteja com os dias contados. Mas as propostas de Zhou foram interpretadas como um recado importante. ''Os chineses estão em busca de alternativas ao dólar e estão falando sério'', diz o economista Peter Kenen, da Universidade Princeton.
Moeda sintética
Segundo o FMI, 64% das reservas internacionais conhecidas estavam atreladas ao dólar no fim de 2008. A China não diz ao Fundo a composição das suas reservas, mas o economista Brad Setser, um especialista do Conselho de Relações Exteriores, um centro de estudos, calcula que mais de dois terços das reservas chinesas estão aplicadas em títulos do Tesouro e outros ativos denominados em dólar. A crise aumentou nos últimos meses a demanda pelos papéis do governo norte-americano, que continuam a ser vistos pelos investidores como o refúgio mais seguro da praça.
Mas o governo chinês está preocupado com o risco de que os títulos do Tesouro se desvalorizem no futuro se os Estados Unidos tiverem um surto inflacionário ou não puderem frear o aumento do seu endividamento. Na semana passada, Zhou sugeriu que uma alternativa seria ampliar o uso dos Direitos Especiais de Saque (DES), uma moeda sintética criada em 1969 pelo FMI e cujo valor é calculado com base numa cesta de moedas que inclui o dólar, o euro, o iene e a libra esterlina. Países com excesso de divisas poderiam transferir parte de suas reservas para o Fundo gerir, recebendo em troca o valor correspondente em DES.
Falta de liquidez
A China apresentou a ideia como uma forma de tornar o sistema financeiro internacional mais estável e menos dependente do dólar. Mas o esquema também permitiria transferir para os demais membros do Fundo uma parte dos riscos que a China enfrenta atualmente por causa de sua enorme exposição aos EUA, um fator que tende a alimentar resistências à proposta. O FMI tentou criar um esquema semelhante na década de 80, mas fracassou. Um dos motivos foi que nem os EUA nem os demais países avançados aceitaram assumir o risco de que uma desvalorização das suas moedas gerasse perdas para os países que trocassem suas divisas pelos DES.
O mesmo problema teria que ser resolvido agora se os membros do FMI quiserem implementar a proposta da China. Outro problema que precisaria ser resolvido é a falta de liquidez do instrumento. O Fundo até hoje só fez duas emissões de DES e os papéis em poder dos seus membros equivalem a apenas algo em torno de US$ 32 bilhões, o equivalente a uma fração minúscula das reservas que os países “emergentes” possuem.
Maior credor
Os DES só podem ser usados em transações entre governos e não existe um mercado em que possam ser negociados.''Se quiserem ampliar o uso desse instrumento, alguém terá que subsidiar a formação de um mercado até que ele ganhe profundidade e liquidez'', diz o economista Barry Eichengreen, da Universidade da Califórnia em Berkeley. ''Os governos, ou seja, os acionistas do FMI, teriam que assumir esse custo, o que exigiria muitos anos de trabalho'', destaca.
A China é atualmente o maior credor dos EUA, com US$ 740 bilhões em títulos do Tesouro. Se seu apetite pelos papéis norte-americanos diminuir, os EUA terão maiores dificuldades para financiar sua economia. Mas a China tem interesse em continuar acumulando reservas porque, além de oferecer proteção nas crises, elas ajudam a administrar sua taxa de câmbio e assegurar vantagens para seus exportadores.
A informação é do Valor Econômico