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Risco de mutilação: por trás da greve dos ferroviários do RJ

A greve dos ferroviários do Rio de Janeiro, iniciada nesta segunda-feira (13), estava prevista para durar 24 horas — mas agora não tem data para terminar. É o que afirma Valmir Índio Lemos, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviária

Segundo Índio, não há condições de segurança para funcionários e passageiros. Além disso, a concessionária privada Supervia — que administra os cinco ramais de trens que passam por 11 cidades no Rio de Janeiro — recusa-se a dialogar. O aviso da greve foi comunicado à empresa na última quinta-feira (9).


 


“Queremos que a Supervia invista efetivamente no sistema ferroviário. É comum haver trens com problemas nos freios, é comum haver problema com sinalização. Isso está causando uma intranquilidade muito grande para a categoria”, denuncia o sindicalista. Pelo menos uma vez por semana ocorre um acidente de trem — e os maquinistas são quase sempre responsabilizados.


 


De acordo com o presidente do sindicato, a empresa obriga os trabalhadores a seguirem viagem mesmo com as portas dos vagões abertas — o que põe em risco a vida dos usuários. As portas são forçadas pelos passageiros, que se queixam de falta de ventilação no interior dos vagões. A Supervia admite seu crime: a recomendação para os maquinistas prosseguirem viagem com as portas abertas — diz a empresa — é para evitar tumultos nas estações, caso os trens ficassem parados.


 


Índio Lemos também acusou a Supervia de demitir injustamente dez maquinistas grevistas e de ameaçar com a perda do emprego funcionários que participarem da paralisação. “Ainda assim, a adesão foi de quase 85%”, informa o sindicalista.


 


A empresa segue negando o diálogo e busca o fim da greve por meios judiciais. Segundo o diretor de Marketing da Supervia, José Carlos Leitão, as recentes demissões ocorreram devido a atos de indisciplina e insubordinação — mas quais atos, exatamente? Para o presidente do sindicato, essa lengalenga da empresa “acabou estendendo para o resto da categoria a insatisfação com o desrespeito aos trabalhadores”.


 


O diretor da Supervia procurou ainda manipular a opinião pública, ao dizer que o propósito da paralisação é exigir aumento salarial — uma tática que a empresa usou até numa nota à imprensa. O sindicato considerou de má-fé o comunicado. Índio Lemos garantiu que a paralisação não tem motivos salariais, pois a data-base da categoria só vai ser discutida em maio.


 


“A reivindicação é só por segurança no trabalho. Não queremos prejudicar a população”, enfatiza Índio. “Estamos lutando para que as pessoas tenham segurança no nosso transporte ferroviário e não venham a ficar mutiladas ou até falecer, em decorrência de algum acidente.”


 


Os representantes do sindicato se reuniram com integrantes da Agência Reguladora de Serviços Públicos concedidos de Transportes do Estado do Rio (Agetransp) para apresentar denúncias de falta de segurança nos trens. Índio informou que, no final da tarde, os ferroviários farão uma assembléia — mas já descartou o fim da paralisação.


 


Às 10 horas de terça-feira, haverá uma passeata, que começará na Central do Brasil e vai até a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro. Na quarta-feira, o sindicato se reunirá com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) — que financia projetos de melhoria nos serviços ferroviários do Rio.


 


Os vagões lotados e abafados dos trens da Central do Brasil transportam 250 mil pessoas por dia e ligam principalmente a zona oeste e a Baixada Fluminense ao centro da cidade. Dos cinco ramais que operam, dois estão fora de operação (Belford Roxo e Saracuruna). Os ramais de Deodoro, Santa Cruz e Japeri operavam com intervalos irregulares durante toda a manhã.