Corretas as mudanças no BB. Agora falta o Banco Central!

O governo brasileiro, usando de suas atribuições, substituiu o presidente do Banco do Brasil, alegando buscar uma gestão comprometida com o desenvolvimento nacional, a geração de emprego e a distribuição de renda no país.


Por Carlos Henrique Ti

O novo presidente, Aldemir Bendine, em entrevista, afirmou que o BB terá uma atuação mais agressiva com o objetivo de ganhar participação no mercado. E que esta política faz parte do contrato de gestão assumido com o ministro da fazenda. Uma atuação que colaborará para o destravamento do crédito no país, desejo do controlador majoritário do banco que é a união. Este ato foi o suficiente para que a grande mídia, comprometida com teorias que levaram o mundo à crise que vivemos, deflagrasse verdadeira cruzada contra o governo. Partem da busca de uma pauta permanentemente negativa e abrem matérias e editoriais para combater as mudanças.
 

Numa manipulação contábil grosseira, que já tinha sido feita para afirmar que a Vale do Rio Doce privatizada valia mais que a Petrobrás, que mantivemos estatal apesar da abertura de capital, O Globo destacou em manchete que “a mudança de presidente faz BB perder R$ 5bi em dois dias”, isso a partir do “mercado de ações”. Fazem isso tudo para impedir que o BB, a Caixa Econômica e o BNDES sejam instrumentos públicos a favor da maioria dos brasileiros.  Tem saudades do período em que o BNDES era usado para viabilizar as suspeitas privatizações no país. Tal chantagem e terrorismo é comparável com o chamado “risco Lula”, que criaram quando já era eminente a vitória deste e a derrota do condomínio tucano/pefelista. Vale lembrar que empresas privadas qualificadas como sólidas, nos EUA e Brasil, pelas ditas “agências de risco”, dissolveram-se no ar.
 

Afirmam que a fórmula é salvacionista, que tecnicamente é uma intervenção inadequada e apontam fórmulas para promover a queda dos juros e spreads, afastando o uso dos bancos públicos desta tarefa. Sugerem mais uma vez o corte dos gastos de custeio, para com isso reduzir a dívida interna, e por tabela, o custo dos juros. Por ideologia e compromisso com a minoria rentista no país, não dizem que a última redução pelo COPOM da taxa SELIC, ainda que insuficiente, correspondeu a uma economia praticamente correspondente ao programa Bolsa Família no ano inteiro. Por estes articulistas e senhores da mídia, o Brasil teria se desfeito dos Bancos Públicos, nos processos das privatizações. Por termos impedido estes intentos, hoje o BNDES é o segundo banco em importância do mundo e o Brasil conta com o BB e a Caixa para elaboração de políticas públicas, a favor do desenvolvimento. Nos EUA, intervenções estatais são feitas para salvar empresas financeiras com o sofisma de “nacionalização” ou “pré privatização”. Aqui, segundo estes setores, o governo não pode mudar o presidente do BB, onde é majoritário.
 

Temos ainda a maior taxa de juros reais básica do mundo, a SELIC. Isso quando vários países praticam juros negativos para fazer frente à crise. Convivemos com enormes “superávits primários”, verdadeiras reservas ao pagamento da remuneração dos rentistas que funcionam como entraves ao desenvolvimento e à busca de saídas à crise que vivemos. Estudos citados na última Carta do IBRE da FGV mostram que o spread no Brasil é o segundo mais alto numa amostra de 72 países.
 

O título desta “Carta” é “Spread bancário no Brasil: nem todas as armas foram usadas” que na conclusão afirma: “a idéia de envolver a CAIXA no esforço para reduzir os spreads no Brasil pode ser ousada, mas o arrojo, com racionalidade, pode às vezes ser a melhor resposta a distorções que se mostrem muito difíceis de corrigir pelos métodos convencionais”. Tendo sido divulgada dias antes da “crise” da mudança no comando do BB, a “Carta” ajuda a entender, pela palavra de uma instituição respeitada e insuspeita, a FGV, a possibilidade de ações via bancos públicos na busca da diminuição dos escorchantes spreads.

 
Como afirma Julio Gomes de Almeida da Unicamp e do IEDI, o governo “precisa dar um empurrãozinho” para que os bancos estatais baixem suas taxas: – se pedir muita licença, os bancos não vão baixar os juros.

 
Os apologistas do “livre mercado” têm que entender a gravidade da crise que esta política levou aos quatro cantos do planeta.  Defendiam o “estado mínimo” e agora recorrem e dependem da intervenção estatal para retirar a humanidade do descalabro. Querem repassar a conta da crise aos trabalhadores e o povo que não são responsáveis por esta. Os governos devem condicionar o aporte de recursos e de intervenção pública à aplicação de políticas desenvolvimentistas de longo prazo.
 

Estudo do IPEA, de 7 de abril, aponta a existência de um sistema concentrado e desigual. E que a taxa de juros real praticada aqui é até dez vezes maior, a pessoas físicas, que nestes mesmos bancos em suas matrizes. O estudo mostra que a participação dos 20 maiores bancos em operação no Brasil saltou de 1996 a 2007, de 72% para 86% dos ativos bancários. E que em 505 municípios brasileiros inexiste a presença de instituições financeiras. Diz também que, o número de bancos caiu de 230 para 156, refletindo a redução da presença de bancos públicos que passaram de 32 para 13.
 

Diante deste quadro, foi correta a mudança operada no Banco do Brasil para fazê-lo cumprir seu papel de banco público, restando ao governo alterar as políticas recessivas do Banco Central, inclusive mudando sua direção.
 

*Carlos Henrique Tibiriçá Miranda (Caíque) – Conselheiro do CORECON-RJ e COFECON e membro da Comissão Política estadual do PCdoB-RJ.