Fidel: OEA coleciona lixo e traição à América Latina
O líder da Revolução Cubana, Fidel Castro, declarou, na última terça-feira (14) que não deseja se reintegrar à Organização dos Estados Americanos (OEA), como solicitado por alguns de seus aliados. No segundo artigo de três redigidos, ontem, em menos de oi
Publicado 15/04/2009 11:28
De acordo com o ex-presidente, a OEA “tem uma história que coleciona todo o lixo de 60 anos de traição às pessoas da América Latina”. Ele disse ainda que a organização esteve envolvida em “ações agressivas” que resultaram em mortes de centenas de milhares de pessoas.
O artigo, intitulado “A OEA tem direito de existir?”, é uma resposta ao secretário-geral da entidade, Miguel Insulza, que defendeu que “Cuba deve expressar claramente o compromisso com a democracia se quer voltar à OEA”, como exige um crescente grupo de governos latino-americanos. “Insulza afirma que, para entrar na OEA, Cuba tem primeiro que ser aceita pela instituição. Ele sabe que nós não queremos sequer escutar esse infame nome”, afirmou o ex-presidente.
Cuba foi excluída da OEA em 1962, dias antes de o então presidente americano, John F. Kennedy, ordenar o embargo comercial contra o país. Fidel Castro tem criticado o grupo por anos, chamando-o de “Ministério de Colônias” dos Estados Unidos.
“Até mesmo nos ofende supor que nós desejamos reingressar na OEA. Este trem passou há tempos, e Insulza ainda não sabe disso”, disse Fidel, no artigo em que dedica também algumas palavras à greve de fome do presidente da Bolívia, Evo Morales. Segundo o líder cubano, o boliviano “obteve uma clara e contundente vitória” sobre a oposição, com a aprovação da lei eleitoral transitória, que garantirá as eleições gerais de dezembro.
Em outro artigo, escrito ontem por Fidel, ele se refere em parte à decisão tomada segunda-feira pelo presidente dos EUA, Barack Obama, de permitir que cubano-americanos viajem livremente a Cuba e enviem quanto dinheiro quiserem aos seus parentes na ilha. “A medida de aliviar as restrições às viagens é positiva, mas mínima”, diz Fidel. Ele também lembrou o 48º aniversário da invasão da Baía dos Porcos.
Nesse episódio histórico, cerca de 1.500 exilados e mercenários cubanos financiados e treinados pelos Estados Unidos desembarcaram no litoral sul da província de Matanzas em 17 de abril de 1961, sendo derrotados dois dias depois.
“Essa data não pode ser esquecida. A grande potência do norte pode aplicar a mesma receita a qualquer país latino-americano. Em nosso hemisfério, isso já aconteceu várias vezes ao longo da história”, disse o ex-presidente, de 82 anos.
“Gostaríamos de ouvir alguma autocrítica do poderoso país e a garantia de que nunca (algo parecido) voltará a acontecer em nosso hemisfério”, acrescentou Fidel
Já no terceiro texto produzido pelo líder cubano, ontem, ele acusou o primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown, de se comportar “de forma visivelmente depreciativa com os participantes do Terceiro Mundo” e de “tratar com preconceito” o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, “por sua condição de homem negro”
Leia abaixo a íntergra do artigo de Fidel sobre a OEA
Reflexões do companheiro Fidel
A OEA tem direito a existir?
Hoje falei com franqueza sobre as crueldades cometidas contra os povos de América Latina. Os do Caribe nem sequer eram independentes quando triunfou a Revolução Cubana. Justamente no dia 19, em que se encerra a Cúpula das Américas, se completarão 48 anos da vitória de Cuba em Girón. Fui cauteloso com a OEA; não disse uma única palavra que pudesse ser interpretada como uma ofensa à ultrapassada instituição, embora todos saibam quanta repugnância ela nos produz.
Uma informação bastante hostil da agência britânica Reuters afirma “'Cuba deve expressar claramente seu compromisso com a democracia se quer voltar à OEA, como demanda um grupo crescente de governos latino-americanos’, disse Insulza em uma entrevista para o jornal brasileiro O Globo”.
“O presidente norte-americano, Barack Obama, está revisando a velha política de isolamento com a ilha comunista antes da Cúpula das Américas deste este fim de semana, onde está previsto que líderes latino-americanos pressionarão para a eliminação do embargo dos Estados Unidos a Cuba, vigente desde 1962.
“Alguns países também prevêm pedir o reingresso de Cuba à OEA, após de sua supressão em 1962 em plena guerra-fria”.
“Insulza advertiu que 'a cláusula democrática da OEA fica como um obstáculo dentro das exigências para permitir o reingresso de Cuba, um Estado unipartidista.‘”
“Precisamos saber se Cuba está interessada em voltar aos organismos multilaterais ou se só está pensando no fim do embargo e no crescimento económico’”.
“Esta é uma Cúpula de países com boa vontade, mas a boa vontade não é suficiente para provocar a mudança”, acrescentou.
“Os 34 líderes que assistirão à Cúpula, da qual Cuba não pode participar, são países democráticos”, apontou Insulza, ex- ministro das Relações Exteriores do Chile.
“A Assembléia Geral da OEA decidiu que todos os países membros devem aderir-se aos princípios democráticos”, declarou Insulza à O Globo quando lhe perguntaram sobre Cuba.
“Mas o presidente venezuelano, Hugo Chávez, um forte crítico de Washington, já anunciou que tentará colocar o tema de Cuba no centro do debate da Cúpula”.
“'O regresso de Cuba ao organismo não depende só da Cúpula das Américas, mas sim da Assembléia Geral do OEA’, disse Insulza”.
A OEA tem uma história que compila todo o lixo de 60 anos de traição aos povos de América Latina. Insulza afirma que para entrar na OEA, Cuba tem que ser aceita primeiro pela instituição. Ele sabe que nós não queremos nem sequer escutar o infame nome dessa instituição. Não prestou um só serviço aos nossos povos; ela é a encarnação da traição.
Se somarem todas as ações agressivas das quais ela foi cúmplice, estas alcançarão centenas de milhares de vidas e acumularão dezenas de anos sangrentos. Sua reunião será um campo de batalha que colocará a muitos governos em situação embaraçosa. Que não se diga, porém, que Cuba atirou a primeira pedra. Nos ofende, inclusive, supor que estamos desejosos de ingressar na OEA. O trem já passou há muito tempo e Insulza ainda não se apercebeu. Algum dia muitos países pedirão perdão por ter pertencido a ela.
Evo falou ao meio-dia de hoje. Ainda não disse a última palavra sobre sua participação ou não na reunião da ALBA e da Cúpula das Américas. Obteve uma clara e categórica vitória.
Porém, aceitou, a redução a 7 do número de cadeiras atribuídas aos povos indígenas, de 14 que tinha proposto. O opositor, com certeza, tentará explorar aquele ponto para as maquinações contra o Movimento ao Socialismo, apostando no desgaste.
O MAS terá que lutar duro para assegurar o padrão eleitoral biométrico e uma alternativa, caso a oligarquia consiga dilatar a consolidação do novo padrão. Sua greve de fome foi uma decisão corajosa e audaciosa, e o povo de Bolívia ganhou muito em consciência.
Agora o centro da atenção se concentra na Cúpula das Américas. Significará um privilégio saber o que lá seja dito; será um teste de inteligência e vergonha. Não lhe pediremos de joelhos a OEA para ingressar na infâmia.
Fidel Castro Ruz
Abril, 14 de 2009
16h43
Com agências