Edvaldo e Déda entregam revitalização do antigo farol de Aracaju
Com os olhos mareados pelas lembranças de um tempo para ele inesquecível, Manoel Carlos dos Santos assistiu, no dispositivo de honra, à solenidade de entrega das obras de recuperação do antigo farol de Aracaju e urbanização da área do entorno do monume
Publicado 28/04/2009 23:19 | Editado 04/03/2020 17:20
“Estou muito contente e satisfeito. Trabalhei neste farol em 1958 e ficava com muita pena quando passava aqui e via que ele estava abandonado. Agora está tudo bonito e a estrutura igualzinha”, conta seu ‘Maneca', que mora em um sítio em São Cristóvão e fez questão de viajar até a capital para acompanhar a inauguração, tendo a companhia do seu amigo Aldovandro dos Santos, também ex-faroleiro.
Executadas pela Prefeitura de Aracaju e pelo Governo do Estado, numa parceria que resultou em um investimento de quase R$ 1,3 milhão, as obras eram uma antiga reivindicação da população, em especial da classe estudantil. O movimento pela recuperação do farol começou em 1995, quando o monumento, desativado em 1991, foi tombado pelo Estado. Quase 15 anos depois, o poder público devolveu aos aracajuanos um dos maiores símbolos da história da cidade. “Sem esse farol, Aracaju não teria crescido tanto e hoje não estaria desse jeito”, lembra Manoel Carlos.
Com estrutura francesa e todo feito em ferro, o monumento foi inaugurado em 1888 para substituir o primeiro farol da cidade, construído em 1868 a mando do então presidente da província de Sergipe, Inácio Barbosa, responsável pela transferência da capital de São Cristóvão para Aracaju. A troca foi necessária porque um incêndio destruiu a base original da edificação, feita em madeira.
“Esse farol guiava a entrada e a saída de embarcações, que vinham e partiam pelo rio Sergipe com pessoas e mercadorias. Foi ele que permitiu o escoamento da produção local, principal motivo da mudança da capital. Se esse farol não existisse, Aracaju não teria se desenvolvido, se tornado um centro econômico e cumprido seu papel de propulsora do crescimento de Sergipe”, analisou Edvaldo Nogueira.
Assim como seu ‘Maneca', o prefeito se disse emocionado com a inauguração da obra. “Fico extremamente feliz e orgulhoso por ter sido na nossa administração que o poder público devolveu à população esse farol completamente revitalizado e construiu ao redor dele essa praça tão bonita e aprazível. Com isso, estamos perpetuando o sentido da transferência e da fundação da capital e a importância de Aracaju para o Estado”, disse, acrescentando que o espaço tem tudo para se tornar o mais novo ponto de atração turística da cidade.
Para Marcelo Déda, o farol tem grande importância histórica por ser o mais antigo testemunho da trajetória e da história da capital e do seu povo. “Com sua luz, ele trouxe mercadorias, esperanças, progresso e ainda guiou para fora daqui sergipanos ilustres que foram levar seu talento, sua inteligência e o brilho da cultura sergipana para todo o país”, falou.
Parceria
A obra foi executada em duas etapas. A primeira, custeada pelo Governo do Estado, por meio do Banese, consistiu na revitalização da estrutura metálica do farol. Para isso, foi contratada uma empresa especializada sediada em Salvador. Grande parte das peças foi recuperada, com a retirada da camada de ferrugem por jateamento e a aplicação de uma tinta protetora especial contra corrosão.
Aquelas que estavam muito danificadas foram refeitas, com a mesma composição e dimensões das originais. Ao todo, foi necessário substituir 500 m² da estrutura metálica e mais de 2.000 m² de pintura. Os serviços levaram cerca de seis meses para ficar prontos e custaram R$ 832.619,44.
“Todos nós que fazemos o Banese nos sentimos muito felizes e honrados por termos contribuído para a concretização desse projeto, que é um sonho de tantos aracajuanos. Também nos sentimos motivados a continuar apoiando toda ação voltada ao desenvolvimento econômico e social do nosso Estado”, destacou o presidente do Banese, Saumíneo Nascimento.
A segunda etapa, que ficou sob a responsabilidade da Prefeitura de Aracaju, consistiu na urbanização da área do entorno no monumento. Com 8.798 m², o espaço foi transformado na praça Tenente Domingues Fontes, que agora conta com estacionamento, piso tátil, rampas de acesso, espelho d'água com cascatas, iluminação cênica, pergolado, passeios, jardins, lixeiras, bancos e mesas de jogos, além de um ambiente com palco para a realização de pequenos eventos, como apresentações de dança, esquetes teatrais e exibições de grupos folclóricos.
Os trabalhos foram executados pela Empresa Municipal de Obras e Urbanização (Emurb) e o investimento foi de R$ 447.984,72. Durante a solenidade de inauguração, o governador Marcelo Déda elogiou o projeto e exaltou a beleza da obra. “Essa praça serve como moldura para um monumento tão cheio de significados para o nosso povo e referências para a nossa cidade. A Prefeitura está de parabéns”, disse.
De acordo com o presidente da Emurb, Paulo Costa, a administração municipal ficou satisfeita com o resultado. “Os comentários têm sido excelentes. Todos gostaram da praça e temos certeza que ela será um importante espaço de lazer e convivência para os aracajuanos e também um cartão postal que vai atrair os turistas que aqui chegam”, avaliou.
Assim como Déda e o presidente da Emurb, a funcionária pública Lúcia Oliveira leite, que mora perto do farol, também aprovou a obra. “A praça ficou linda demais! Valorizou muito o nosso bairro. Há muito tempo esperávamos por isso. Antes era tudo escuro, só tinha areia e lixo e o farol estava completamente abandonado. Fazia medo passar por aqui. Agora me sinto mais segura e vou vir caminhar na praça todos os dias”, relatou.
Curiosidades
Em 118 anos de existência, o farol nunca havia passado por reformas. Ele foi inaugurado em 1888 e desativado em 16 de julho 1991, quando foi aceso o novo farol de Aracaju, no bairro Coroa do Meio. No ano de 1995, o monumento foi tombado pelo patrimônio histórico e artístico de Sergipe, através do decreto 15.295 de 21 de abril.
“Esse farol ficou em atividade por mais de 100 anos e quando foi desativado, em 1991, nós, marinheiros, ficamos muitos tristes, principalmente ao ver o farol, que é um símbolo da Marinha e cuja história se confunde com a história da nossa cidade, numa situação tão degradante. Por isso ver o farol como ele está hoje, bonito e imponente, é motivo de muito orgulho para a gente”, disse o capitão dos portos de Sergipe, Vanley Monteiro.
Segundo ele, a Marinha também foi parceira do Governo do Estado e da Prefeitura de Aracaju, uma vez que repôs a lanterna do farol. “Trouxemos a lanterna da Bahia e ela chegou aqui em novembro do ano passado. Já está instalada, mas não pode ser acesa porque as leis internacionais não permitem. Apesar disso, ela está lá no topo, lembrando a função desse monumento”, destacou o capitão de fragata.
O farol possui 35,5 metros de altura e está 55 metros acima do nível do mar. Seu alcance é de 17 milhas náuticas. Apesar de ter composição francesa e ter sido projeto pelo francês Vitor Alinquat, o monumento foi montado por um inglês. Com 50 toneladas, sua estrutura feita em ferro fundido não possui soldas. Todas as placas são unidas por 8.600 parafusos e contraventadas com caveirões (chapas que passam por dentro de duas peças para unificá-las) e travas.
A empresa contratada para realizar os serviços, a Jedida Projetos e Manutenção Industriais Ltda., foi constituída em 1988 com a finalidade exclusiva de trabalhar com sinalização náutica, faróis e projetos de bóias. Os engenheiros que trabalharam no projeto de restauração passaram um ano estudando as particularidades do antigo farol de Aracaju: tipo de aço, modo como foi feita a montagem, tratamento, tipo de tinta etc. Com a recuperação, a expectativa é que a durabilidade chegue a seis décadas, desde que haja manutenção preventiva permanente.
Já o projeto da praça Tenente Domingues Fontes foi elaborado pela arquiteta da Emurb, Angélica Rocha. Tudo foi pensado para dar destaque ao farol, elemento central do espaço. O piso foi paginado em mosaico com motivos marinhos (âncoras, cavalos marinhos, ondas) e tem dois níveis: um mais elevado, na parte do farol; e outro mais baixo, à frente dele, para melhorar a visualização.