Venezuela no Mercosul atrai fúria de Collor e interesse de Supla
A Comissão de Relações Exteriores do Senado promoveu, nesta quinta-feira (30), mais uma audiência para tratar do ingresso da Venezuela ao Mercosul. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, defendeu a adesão da Venezuela ao bloco, lembrando que
Publicado 30/04/2009 17:12
Logo no início da reunião, o senador Fernando Collor (PTB-AL) pediu a palavra e leu um duro discurso contra o ingresso daquele país no bloco econômico e contra o presidente venezuela Hugo Chavez, a quem acusou de não seguir os princípios básicos de democracia – que norteiam a adesão de qualquer país ao Mercosul.
Respondendo a críticas endereçadas ao presidente venezuelano, Amorim afirmou que “não há como os outros países terem a nossa imagem e semelhança”. Por outro lado, salientou a disposição de Chávez de fomentar o comércio com o Brasil.
Celso Amorim anunciou que teve um encontro com o presidente Hugo Chávez no último sábado (25) e testemunhou seu interesse em enviar uma missão técnica ao Brasil, nos dias 19 e 20 de maio, para negociar pendências comerciais que tangenciam a adesão da Venezuela ao Mercosul.
Tanto a Câmara dos Deputados quanto a representação brasileira no Parlamento do Mercosul já acolheram o Projeto de Decreto Legislativo que aprova o texto do Protocolo de Adesão da Venezuela ao Mercosul, assinado em quatro de julho de 2006, em Caracas. O protocolo também já foi ratificado pelos Congressos Nacionais da Argentina, do Uruguai e da própria Venezuela. A confirmação dessa adesão depende do Senado, que tem protelado a decisão com inúmeras audiências.
Intenção favorável
Após assistir a audiência pública, o presidente da Federação de Câmaras de Comércio e Indústria Venezuela–Brasil, José Francisco Marcondes avaliou-a como muito positiva. “A participação do ministro Celso Amorim na audiência pública de hoje foi de grande importância. Ficou clara a relevância estratégica da relação entre o Brasil e a Venezuela, antes discutida de forma segmentada ou parcial, em debates sobre aspectos políticos ou econômicos, por exemplo.”
Marcondes criticou a fala de Collor e a forma como a mídia trata o assunto, “amplificando artificialmente” os debates que são parte do processo político. Para ele, “ficou muito clara uma distensão na discussão, antes tão apaixonada do tema, e me atrevo a dizer uma intenção majoritariamente favorável na Comissão.”
Ele, a exemplo do ministro celso Amorim, manifestou interesse na apresentação do parecer do relator, senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), para a rápida aprovação na Comissão de Relações Exteriores do Senado, passando para a última e definitiva etapa da aprovação pelo Senado Federal, no plenário, em curtíssimo prazo.
Para Celso Amorim, um eventual atraso nesse ingresso poderia criar um clima político menos favorável ao processo, advertindo, em seguida, que o clima político é tão ou mais importante para o comércio que a revisão tarifária.
Chance de mudança
Além do ministro Celso Amorim, participaram da audiência o embaixador do Brasil naquele país, Antonio José Ferreira Simões, e o governador de Roraima, José de Anchieta Junior. O estado faz fronteira com a Venezuela.
De acordo com o governador, as economias dessas duas regiões atuam em complementaridade com as economias dos países andinos e caribenhos. José de Anchieta Junior afirmou que a Região Norte será o portal da integração da Venezuela com o Mercosul – os estados de Roraima e Amazonas fazem fronteira com o país – e acredita que, se essa adesão se confirmar, Roraima, que tem 70% do PIB formado com recursos públicos, pode ter a chance de mudar sua matriz econômica.
“Não se está aqui para discutir a política interna, mas a integração dos povos de países da América do Sul para a criação de emprego e renda para as pessoas que precisam. Evitar a inserção da Venezuela no Mercosul é um retrocesso e vai inibir esse processo crescente de integração comercial”, previu.
Collor e Supla
A fala do senador Fernando Collor, que atraiu as atenções tanto quando a presença do cantor Supla (filho do senador Eduardo Suplicy (PT-SP) e seu visual excêntrico, foi de acusações contra Hugo Chavez. Ele disse que a entrada da Venezuela no Mercosul poderia trazer “graves fissuras” ao bloco econômico, em virtude “da falta de comedimento de seu presidente”.
Para Collor, o próprio Mersocul foi alvo de ataques do presidente venezuelano. Como exemplo, lembrou declarações de Chávez quando disse que o bloco econômico e a Comunidade Andina de Nações, “nasceram dentro do neo-liberalismo e constituem integração de elite, de empresas e de transnacionais”.
De Brasília
Márcia Xavier
Com Agência Senado