Frasson: ''É preciso ir além dessa disputa grenal que existe na política gaúcha''

O Diário passofundense O Nacional fez entrevista exclusiva com o presidente estadual do PCdoB, Adalberto Frasson, que foi publicada na edição do dia 1º de maio. O dirigente falou sobre a conjuntura política do Rio Grande do Sul, sobre o partido e suas

Conforme Frasson, o PCdoB está estruturando-se para as eleições de 2010, principalmente costurando alianças partidárias. Segundo ele é necessário apresentar uma alternativa para que o estado dê um passo adiante: ''É necessário ir além dessa disputa meio `grenal` que existe na política gaúcha'', afirma.


 



O Nacional – Qual é a situação do PCdoB no Rio Grande do Sul atualmente?
Adalberto Frasson – É uma situação muito boa. O PCdoB ainda é um partido pequeno comparando-se às referências de partido, como deputados e prefeitos eleitos, mas tem um vínculo muito grande em muitos pontos do estado. E tem lideranças muito expressivas, entre elas a deputada federal Manuela d`Ávila, o deputado estadual Raul Carrion, a Jussara Cony e o vereador Juliano Roso em Passo Fundo. Além de ter uma atividade política intensa, é um partido que também está presente nos movimentos sociais diversos do estado. Temos uma forte presença no movimento sindical da Serra, a gente dirige a maioria dos sindicatos, entre eles o principal que é Sindicato dos Metalúrgicos. Temos atividade no movimento estudantil, que inclusive é uma tradição nacional do partido. Na saúde, a gente também desenvolve um bom trabalho através da coordenação do grupo hospitalar Conceição, que a Jussara Cony exerce. Enfim é um partido que tem uma militância que atua cotidianamente. É uma militância constante que vem crescendo e vem ocupando espaços cada vez maiores na luta social e política do estado.


 



ON – Esse é o principal diferencial do partido?
AF – Eu acho que o diferencial é o nosso projeto. É em torno dele que a militância aglutina-se. Acredito que no Rio Grande do Sul, nós temos muita dificuldade de abordar um projeto nacional. A maioria das forças políticas no estado olha exclusivamente para dentro. Nem é para o estado como um todo, mas sim para os interesses das próprias forças políticas. O PCdoB tem por característica a visão de um projeto para o país. É um projeto socialista, avançado, mas que realiza-se no Brasil como um todo, não apenas em uma área. E nós achamos que hoje enfrentar o problema dos sem terra, do trabalhador, das pessoas que não têm uma casa digna para morar, enfim tudo isso depende de um projeto nacional em que o país possa afirmar-se soberanamente e possa desenvolver sua economia olhando para dentro.


 


O PcdoB entende o Rio Grande do Sul nesse contexto nacional e acha que o estado pode ter um papel muito importante, como já teve na história, quando  teve lideranças como Getúlio Vargas, que determinou uma era de desenvolvimento para o Brasil, teve Leonel Brizola, que com a Campanha da Legalidade levantou o país em torno da democracia e permitiu a posse do Jango-João Goulart. E de uns tempos para cá o Rio Grande do Sul perdeu a capacidade de olhar e lutar pelo Brasil ficou num plano secundário na nossa visão. E o que tratou-se entre os partidos gaúchos foi de fazer disputas locais com visões parciais e que não contemplam um projeto que insira o estado de forma mais forte no cenário nacional. E, que, portanto, permita uma melhora na economia e que seu povo viva melhor. Se analisarmos a metade Sul do estado, ano após ano a sua economia e o seu povo vem ficando mais pobre. E isso enfrenta-se com um plano nacional que possa, a partir da ação local, ajudar o Brasil a desenvolver-se mais.


 


 


ON – No último final de semana (no dia 25 de abril) Passo Fundo sediou uma reunião de uma série de encontros regionais que está sendo realizada pelo partido no estado. Qual é o objetivo desses encontros?
AF – O primeiro objetivo é reforçar a estrutura do partido na região. A nossa visão é que esse ano é um momento bom, porque não tem eleição, para o partido tratar do seu fortalecimento nas suas fileiras atraindo novos filiados e para discutir a luta social nas diversas áreas em que atua. E, também, para o partido se preparar para a disputa do ano que vem. O PCdoB trabalha com a perspectiva de ampliar a sua bancada federal e a sua presença na Assembleia Legislativa. A candidatura da deputada Manuela nos permite trabalhá-la como uma grande puxadora de votos para a Câmara dos Deputados, na expectativa de eleger uma representação maior de deputados gaúchos também na Assembleia.


 


Portanto, esses encontros também têm o objetivo de ir traçando as linhas da atuação em torno de candidaturas. O partido também está aberto para novas filiações de lideranças que venham a concorrer. Sabemos que há lideranças expressivas que muitas vezes não estão na política.


 



O PcdoB está aberto a lideranças que são dedicadas ao povo que e entendem que o partido tem um projeto avançado e progressista para o país.


 


 


ON – Para eleição do ano que vem como a legenda está se articulando?
AF – Já fizemos várias reuniões. Partimos de uma resolução que a nossa direção estadual, adotou em março, que propôs uma mesa de diálogo entre os partidos que compõem a base do governo Lula no estado. Sabemos que aqui, esses partidos não dialogam, mas nós temos dito que quem mudou o Brasil, pode mudar o Rio Grande do Sul. Sabemos que o estado, com o governo Yeda, está em uma situação muito difícil, assim é preciso enfrentar na eleição no ano que vem essa falta de opção mais audaciosa em torno do desenvolvimento do estado e no enfrentamento dos problemas.


 


 


Audacioso não quer dizer que nós temos que comprar briga, como existe hoje, e também não adotar políticas que mostram-se superadas. Nós entendemos que com essas conversas, que partem dos partidos que formam a base do governo Lula e que estão ajudando a mudar o Brasil, possa-se produzir uma alternativa no estado que dê um passo adiante dessa disputa meio ''grenal'' que existe na política gaúcha. Estamos conversando com PT e PMDB. Nossos deputados tiveram a iniciativa de fazer um almoço que envolveu as bancada do PDT. PSB, PCdoB, PTB e PP na Assembleia em torno da construção de uma alternativa que envolva esses partidos saindo da polarização PT e PMDB.


 


 


Também temos dito ao PT, que até pouco tempo tem sido nosso parceiro, que o grande problema do partido no Rio Grande do Sul é o isolamento em que ele se colocou. Achamos que uma candidatura do PT que fique isolada, não deve jogar com papel decisivo tanto nas disputa estadual quanto no processo nacional. Portanto, um grande desafio do PT é superar o isolamento que foi construído por uma prática deles e, que se eles quiserem ter uma alternativa precisam conversar com as outras forças políticas.


 


O PT tem um processo interno que orienta-se muito pelas disputas internas. Nós temos dito a eles que esse não é o melhor caminho, a meta principal deve girar em torno de construção de um programa para o estado e definir um leque de forças que vai viabilizar esse acordo. A candidatura deve ser resultante desse processo e não o primeiro passo, que é o que o PT sempre faz. Eles colocam a candidatura, dizem que é para conversar, mas no fundo a gente sabe que a candidatura deve ser a deles e pronto. É um processo delicado que ainda não sabemos o caminho que vai seguir.


 


 



ON – E para Passo Fundo e região quais são as perspectivas para o próximo pleito?
AF – Estamos discutindo aqui, inicialmente, a candidatura do vereador Juliano, provavelmente para deputado estadual, ainda vamos examinar junto com o partido em Passo Fundo se essa é melhor situação. Também estamos vendo uma outra candidatura aqui na região que represente o partido e a gente possa buscar eleição. O Juliano é uma liderança em ascensão e o partido aqui também está nesta situação. E nós consideremos que o partido deve ter uma ação decisiva nesta eleição, inclusive para preparação para as eleições municipais de 2012, com uma presença mais protagonista no pleito, ao contrário do que foi feito na última. Assim o partido já pode reunir forças para que na próxima eleição municipal possa ter candidaturas a prefeito na região e ter presença mais significativa nas Câmaras de Vereadores.


 


 



ON – Na tua opinião o que não pode faltar na Reforma Política?
AF – Financiamento público e lista partidária são os dois pressupostos que achamos fundamentais para a Reforma Política. Porque o sistema eleitoral brasileiro baseia-se no candidato e não no programa e isso gera grandes distorções. Com isso, mesmo internamente nos partidos os candidatos não são parceiros, são inimigos porque o candidato precisa fazer mais votos que o colega de partido. E aí fica em segundo plano toda a discussão programática, os compromissos partidários também ficam de lado. Acontece que ficam compromissos que o candidato assume pessoalmente com determinados setores para garantir sua eleição. Portanto, a necessidade de nós termos listas partidárias no Brasil. Isso permitiria que o eleitor votasse em programas e não em pessoas. É claro que as listas vão ter as pessoas com as suas representatividades. Mas a lista como um todo vai estar trabalhando em torno do programa que o PCdoB está apresentando para o eleitor e não em torno do indivíduo. Essa seria a grande diferença e que permitiria também o financiamento público.


 



Hoje fala-se muito na questão da corrupção, agora o problema é que os candidatos precisam de dinheiro para fazer campanha e onde eles vão buscar dinheiro se não existem financiamento público? Assim acaba ocorrendo esse tipo de atividade ilícita que gente vê de compromissos com empresários, que depois vão conseguir algum favor através do exercício do poder daquele candidato e que vão financiar determinados candidatos pelo interesse que têm em realizar um projeto depois. Eu não acredito, com alguma exceções óbvio, que um empresário dá dinheiro para um candidato porque ele é mais bonito ou mais feio. É claro que às vezes até existe uma identidade muito grande com as ideias do candidato, mas o fundamental é que na política brasileira, os empresários financiam as campanhas que eles sabem que depois vão dar retorno. E, aí é que surge toda essa situação que estamos vendo. Portanto, não há como enfrentar a corrupção no Brasil, na área da política, senão implantarmos uma Reforma Política que garante financiamento e lista partidária entre, outras questões.


 


 


Quem é Adalberto Frasson:
Iniciei na política através do movimento estudantil. Fui delegado do Congresso de Reconstrução da Une em 1979, realizado em Salvador. Em 1981 ainda no partido de clandestinidade me filiei ao PCdoB.


 



De lá para cá, tenho militado em Caxias. Na direção estadual, em Porto Alegre, trabalhei como secretário de organização. Nos últimos dez anos desempenho a função de presidente estadual do partido