O Demo está nos detalhes

O apartheid social em nosso país é cantado em verso e prosa como uma chaga que deve ser eliminada. Todas as correntes políticas se arvoram combatentes contra a desiguladade. Todas sem exceção.

Mas é na vida real que estes discursos se sustentam ou não.

 

Em Brasília o demo-governador José Roberto Arruda tem se apropriado de bandeiras progressistas como a eleição de diretores, ou o passe-livre para os estudantes, como forma de nublar seus contornos políticos.

 

Ele também se apropriou da condição de amigo de Lula, fazendo inclusive com que determinados setores da sociedade o elejam como interlocutor do presidente em detrimento dos partidos da base.

 

Arruda apostou desde o começo na desconstrução de sua imagem como único governador da oposição. Inclusive incorporando à sua base partidos da base do governo Lula.

 

Nestes últimos tempos, inclusive, tem feito chegar aos ouvidos de todos que pode se mudar de partido e disputar a reeleição por um partido da base, ventilando as opções do PR ou até mesmo o PSB.

 

Estes movimentos embaralham o quadro político do DF, mas não tiram o sono dos Democratas. Eles não se preocupam, pois enquanto ele estiver envolvido nesta bruma as políticas implementadas pelo núcleo que envolve setores do PSDB nacional seguem a salvo de críticas.

 

Muito se falou em Brasília sobre a aprovação do PDOT, Plano Diretor de Ordenamento Territorial, que permitiu à Arruda e ao seu vice, o megaempresário do setor imobiliário Paulo Octávio, avançarem sobre imensas áreas que agora serão destinadas à especulação imobilária.

 

Os professores denunciaram a forma truculenta como foi tratada a sua greve. Mas fui testemunha do caráter mais significativo deste governo e a forma como ele enxerga a população.

 

Em Brasília, ou para quem mora no Distrito Federal no Plano Piloto, a avenida L2 foi reservada por Lucio Costa para concentrar escolas, igrejas e hospitais. 

 

Nesta avenida se concentram escolas de elite e escolas públicas de ensino básico e médio, e também algumas faculdades públicas. Semana passada a Polícia Militar realizava grandes operçãos na região. Em frente ao Colégio Marista dezenas de policiais se dedicavam a parar o trânsito, embora exista no local um semáforo, para que os estudantes pudessem atravessar e entrar na escola.

 

O congestionamento causado era justificado pela necessidade de proteger os estudantes daquela escola.

 

Entretanto, há pouco mais de um quilômetro, outra dezena de policiais também se posicionava em frente ao Centro Educacional Setor Leste. Esta escola, uma das melhores colocadas no ENEM dentre as escolas públicas, teve o privilégio de ter tido entre seus alunos Renato Russo e Cássia Eller, mas a PM a vê de outra forma.

 

A PM/DF deslocou um efetivo com o objetivo de revistar todos os alunos da escola. Abriu bolsas e mochilas, revistou e mostrou de forma contundente como a sociedade vê os alunos das escolas públicas, como suspeitos.

 

A presença da PM dentro da escola é uma constante, inclusive dentro das salas de aula. Esta é a forma encontrada pelo Governo Arruda para tratar os jovens que se deslocam das cidades satélites para concluir o Ensino Médio, e que atrapalham a visão da classe média moradora da cidade.

 

Segundo o governo esta é a forma de combater a violência. Sim, na concepção de Arruda, é com polícia que se faz inclusão social.

 

Diz a sabedoria popular que o ''Diabo mora nos detalhes'', mas pode ser apropriado dizer também que podemos reconhecer um demo pelos detalhes.

Não basta se arrogar moderno e progressista. Basta ver como a elite trata os filhos do povo, para que as ilusões e brumas se desfaçam.

 

Para a elite o Estado, para o povo a Polícia.

 

De Brasília

Gustavo Alves