Artigo: O Governo, a mídia e os índices de Lula
Artigo publicado por Carlos Lindenberg, editor do jornal Hoje em Dia.
Está ficando repetitiva a informação de que a popularidade do presidente Lula continua em alta e que também se mantém em patamar invejável a aprovação do Governo. Da mes
Publicado 10/06/2009 16:09 | Editado 04/03/2020 16:51
Não basta apontar a popularidade em alta do presidente Lula. É preciso conectar esse dado a um outro: a popularidade vem subindo a despeito do barulho que a oposição faz na Imprensa em torno de problemas tais como a criação da CPI da Petrobras, que há cerca de um mês é manchete no “Globo”, por exemplo, e não muda um pontinho sequer na popularidade ou na confiança da população no presidente e na aprovação do Governo.
Isso leva a dois questionamentos, pelo menos. De um lado, qual a influência da mídia na formação da opinião pública do país? Do outro, qual o papel da oposição no jogo jogado? Pode-se perguntar mais. Por exemplo: por que Serra continua liderando a corrida presidencial? E por quanto tempo essa liderança poderá se manter – ou se manterá até o fim?
No primeiro caso, repete-se hoje o que houve na campanha eleitoral de 2006. À época, os principais jornais do país opuseram-se claramente à reeleição do presidente Lula, quem sabe arrependidos do apoio dado no primeiro mandato. Lula não tomou conhecimento da oposição que lhe fazia a chamada grande Imprensa e derrotou seu adversário, Geraldo Alckmin. Alguns articulistas alertaram a mídia para o equívoco do comportamento, explicando que se Lula ganhasse a eleição acabaria passando um atestado da irrelevância dessa mesma Imprensa partidarizada. O alerta de nada adiantou, e assim ficou: a despeito da oposição que lhe faziam os jornais de Rio e de São Paulo, Lula ganhou com folga.
Naquela época, também era barulhento e afinado com a grande Imprensa o desempenho da oposição. Por coincidência, é o mesmo que está acontecendo hoje. Tanto naquela época como agora, o jogo era jogado da seguinte forma: a Imprensa levantava as denúncias e a oposição requeria uma CPI que, por sua vez, realimentava a Imprensa. O jogo acabou com os dois perdendo: a Imprensa e a oposição. Porque, na verdade, esses três ou quatro jornais que se consideram donos da opinião pública não têm esse poder e a oposição não entendeu ainda que não bastam as denúncias e as acusações. A opinião pública, assim entendida sociologicamente, não pode se restringir simplesmente à classe média, sob pena de se mascarar a realidade.
É por isso que, quanto mais a Imprensa bate no presidente e no Governo, mais parece crescer a popularidade de Lula. Ao fazer isso, os jornais satisfazem, de alguma forma, uma parcela de seus leitores, mas não contemplam o universo, ainda que parcialmente, da audiência do país. Mas parece que se contentam com isso, ainda que possam estar contribuindo para exibir em larga margem a temida “irrelevância” da Imprensa, de que falavam alguns articulistas argutos, em 2006. Repete-se, portanto, o erro. O que parece revelar que, na verdade, o que se busca não é necessariamente a informação precisa, senão o engajamento de alguns veículos de comunicação num projeto de poder que deve estar em curso.
A propósito, ainda agora abre-se uma nova discussão na mídia do país com a iniciativa da Petrobras de publicar num blog específico o que a Imprensa pede de informações à empresa – e que tem alguma relação com a CPI . Critica-se a Petrobras por quebrar o sigilo da informação solicitada ao publicá-la antes que tenha sido usada por quem pediu. Em parte, isso é verdade. Mas o que se deve perguntar é a razão pela qual a Petrobras resolveu agir assim. E a resposta é única: a empresa certamente viu-se vítima da conhecida técnica de edição, segundo a qual publica-se apenas aquilo que confirma a hipótese levantada pela pauta, desprezando-se o resto. Isso aconteceu recentemente com a UFMG, que não vendo suas informações publicadas em certo jornal, passou a publicar no seu site o que era respondido pela instituição e não usado pelo referido jornal, revelando a distância entre uma coisa e outra.