Indefinições travam cultura do girassol para biodiesel

Para   evitar o mesmo destino que teve através da cultura de mamona, o Programa de Agroenergia do Rio Grande do Norte luta para não dar seus últimos suspiros. Ao contrário do que se esperava, a iniciativa lançada pelo governo do estado no ano

Atendendo uma demanda da própria Petrobras, o Estado firmou parcerias para desenvolver um programa que envolvesse os pequenos agricultores na produção de oleaginosas, abastecendo as usinas experimentais de biodiesel  instaladas em Guamaré. Porém, já em 2008 os agricultores enfrentaram a falta de conhecimento técnico e as chuvas em excesso.


 


Em 2009, enquanto o governo tem firmado parcerias para capacitar melhor os trabalhadores, a falta de garantias de compra por parte da Petrobras e incertezas com relação ao preço do quilo das sementes deixaram desconfiados os agricultores.


 


O adjunto da Secretaria Estadual de Agricultura (Sape), Tarcísio Dantas, adianta que as chuvas também foram entrave. “Ainda não temos os números fechados, mas eles devem ser praticamente os mesmos de 2008, quando plantamos cerca de 5 mil hectares”. Sobre o preço estabelecido pela Petrobras, Dantas informa que não tem conhecimento do valor que foi negociado hoje. Atualmente, a Sape é responsável apenas pelo apoio técnico aos agricultores em parceria com o Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado (Emater RN).


 


Porém, neste ano, o contrato de assistência técnica entre Estado e Petrobras não foi renovado. Segundo o coordenador do Programa Agroenergia pela Emater, Emmanoel Alves Costa, a empresa optou por administrar o programa através de uma assistência não-estatal. Costa declara que, por se tratar de uma cultura nova, faltava conhecimento técnico  e o mercado também era difícil. Mas o fim do acordo parece ir a questões mais profundas. “A Petrobras não tem uma formação clara do preço que será pago pelas sementes. Essas indefinições criam dificuldades porque o agricultor não sabe qual a receita que terá depois que investir no plantio”.


 


Parceria internacional oferece apoio técnico


 


Para oferecer uma melhor organização dos produtores, o governo do estado firmou uma parceria com a Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica, na sigla em inglês). As ações são feitas através da metodologia de Unidades Técnicas Demonstrativas (UTDs). “Selecionamos produtores para se instalarem na plantação e, em seguida, destacamos outros para conhecerem o trabalho”, explica Emmanoel Alves, da Emater.


 


Ao todo, serão dez UTDs distribuídas nos municípios de João Câmara, Ielmo Marinho, Macaíba, Lagoa de Pedra, Nova Cruz, Espírito Santo e Canguaretama. O projeto conta com recursos do Ministério do Desenvolvimento Agrário e procura trabalhar a tecnologia com o uso mínimo de adubos e defensivos químicos. Exemplos, respectivamente, são o esterco de curral e o óleo do nim (uma planta repelente para algumas pragas).


 


Inicialmente, a ação da Jaica está focada no Alto Oeste nas cidades de Pau dos Ferros e Umarizal. Outra das melhorias previstas é a instalação de mini-usinas para extrair o óleo das sementes, agregando valor ao produto vendido. “Com isso, os agricultores também podem ficar com subprodutos que servem para alimentação animal, por exemplo”.


 


Em 2009, programa foi perdido


 


Quando foi lançado em 2008, o  Programa de Agroenergia propunha à Petrobras o pagamento ao agricultores de R$ 0,81 pelo quilo da semente de girassol. Esta situação é desfavorável aos agricultores, segundo o presidente da Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado (Fetarn), Manoel Cândido.


 


“Houve uma série de discussões, foi criado um comitê estadual, mas está tudo parado. Não houve muito investimento no plantio nesse ano, e estamos trabalhando no sentido de fazer algum acerto para o próximo inverno”, afirma. De acordo com Cândido, faltou uma proposta interessante para estimular que os trabalhadores continuassem a produzir girassol no RN.


 


A expectativa da Fetarn era de que, através de um trabalho de mobilização, se conseguisse plantar de 15 mil a 20 mil hectares de girassol no estado em 2009. O representante dos agricultores lamenta a postura da Petrobras diante do programa. “Eles (Petrobras) não querem investir, acham que a responsabilidade deve ser só do agricultor, que já não tem capitalização nenhuma. Apesar de termos interesses e acharmos importante o programa, não é possível estimular desse jeito”.


 


Além das críticas à falta de garantia de compra, ele afirma que o zoneamento das áreas está distorcido. “Há regiões em que é possível produzir, mas não foram contempladas. Isso dificulta o acesso ao crédito junto aos bancos e prejudica os agricultores”. Segundo ele, 60 municípios têm capacidade técnica e natural para produzir o girassol.


 


Planejamento


 


Manoel Cândido também afirma que o preço de R$ 0,80 não era satisfatório. “Pelos nossos cálculos traria prejuízos. E é um investimento de risco que pode ser prejudicado se chover demais, mas também se não chover”.


Ele espera que o debate sobre  o biodiesel no RN avance e a produção possa ser recuperada em 2010. “Neste ano, o programa já está perdido porque chegamos ao final do inverno”.


 


Petrobras


 


Na segunda-feira passada, a TRIBUNA DO NORTE entrou em contato com a Petrobras para que se pronunciasse sobre o programa de biodiesel no Rio Grande do Norte, as plantas experimentais de Guamaré e o trabalho junto à agricultura familiar. A estatal – através de sua assessoria de imprensa – limitou-se a responder os questionamentos relativos à planta experimental. Segundo as informações, as duas usinas funcionam desde 2006, e “têm por objetivo desenvolver tecnologias próprias para a produção de biodiesel” . A capacidade é de produção de 20 milhões de litros de biodiesel por ano.


 


Ainda segundo a assessoria de imprensa, o Plano de Negócios 2009-2013 prevê a adaptação das usinas experimentais para produção comercial. “A expectativa é que as usinas entrem em operação comercial em 2010”,  afirma a Petrobras em resposta encaminhada por e-mail. Entre os questionamentos enviados à estatal, havia pontos como a quantidade de famílias beneficiadas pelo projeto, quanto foi comprado em 2008 e o valor pago aos trabalhadores pelas produção. A reportagem também perguntou sobre a falta de definição com relação ao preço de compra e os parâmetros utilizados para chegar ao valor final. Nenhuma dessas questões foi esclarecida até o fechamento dessa edição.


 


Fonte: Tribuna do Norte