'Observamos com cautela governo Obama', diz comunista cubano
''A atual realidade exige um novo enfoque político, social e econômico, na forma como vamos nos relacionar no continente. Temos que impulsionar os novos mecanismos de integrção regional. Nenhum país conseguirá ir adiante sozinho''. A opinião é de Orlan
Publicado 25/06/2009 16:55
Responsável pelas relações com o Cone Sul dentro do partido, Orlando Silva, esteve na sede do PCdoB, nesta quinta-feira (25), para estreitar relações, fazer um breve relato sobre a situação na ilha e conhecer a realidade política e social brasileira.
Ao lado de Maria Antônia, Conselheira Política da embaixada cubana no Brasil, ele descreveu as dificuldades vividas por seu país, que além das restrições impostas pelo bloqueio norte-americano, enfrenta os efeitos da crise e se recupera da destruição causada pela passagem de três ciclones no ano passado.
Diante dos desafios, mostrou-se otimista. Destacou a resistência do povo cubano, a importância das ações do governo e a perspectiva que a crise financeira abriu para as forças progressistas. O comunista afirmou que Cuba observa com cautela os passos do presidente norte-americano. E agradeceu a solidariedade que o PCdoB tem tido com a ilha.
A crise
''Nunca houve um momento tão promissor e bom para as forças progressistas da América Latina. Paradoxalmente, estamos em meio a uma crise que afeta a todos. Mas pensamos que ela também nos brinda com a possibilidade de avançarmos em nosso projeto, nos mecanismos de integração e em formas de buscar alternativas ao capitalismo'', disse o cubano.
Segundo ele, apesar de não estar conectada ao circuito financeiro internacional e de ter um sistema social que dá segurança à população, Cuba não tem escapado da crise. ''Circunstâncias como a queda dos preços da nossa produção, como a do níquel e do tabaco, nos golpearam fortemente. O níquel chegou a ter um preço de mais de US$ 60 mil dólares a tonelada. E agora está abaixo de US$ 7 mil'', lamentou.
Orlando Silva também relatou que o turismo teve contração. ''Em meio a tudo isso, seguimos mantendo nossos compromissos internacionais. Não houve retração de nossa coolaboração internacional''. De acordo com ele, a ilha abriga hoje mais de 35 mil estudantes de 40 países diferentes e são mais de 50 mil cubanos trabalhando em 96 outras nações. E de maneira solidária, ''sem cobrar um centavo''.
Silva ressaltou ainda que o governo preserva os elementos essenciais do sistema social da ilha. ''As pessoas têm educação, saúde, trabalho, alimentação, habitação. Não é um esforço pequeno'', considerou. E lembrou ainda que ''a isso, temos que somar as dificuldades da situação econômica complicada'', advindas do bloqueio norte-americano.
''Quando estamos saindo das sequelas do período especial, o mundo é que entra em um período especial'', afirmou, referindo-se à crise.
Adversidades
O dirigente comunista ainda lembrou que a ilha se recupera da passagem de três ciclones, que resultou em gastos para o governo cubano da ordem de US$ 1 bilhão. ''Não é só o número frio da economia. As pessoas sentiram. Foram 600 mil habitações destruídas'', colocou, completando que a infraestrutura agrícola e o sistema elétrico também ficaram prejudicados.
Ele, contudo, destaca que Cuba prossui um sistema de prevenção de desastres reconhecido internacionalmente. E que a ilha teve que aprender a conviver com a agressividade da natureza, evitando a preda de vidas.
Orlando Silva explicou que, apesar das dificuldades, o povo cubano tem a firme disposição de ''continuar resistindo e avançando''
Obama
''Observamos com cautela os movimentos desta adminsitração'', disse, recordando que Obama nunca disse, na campanha, que iria levantar o bloqueio à ilha. De acordo com Orlando Silva, o governo de Cuba já expôs a disposição de conversar com os EUA sobre todos os temas, desde que em condições de gualdade, sem ''sombras de interferência em assuntos internos e na soberania'' de cada país.
''Se vamos falar de direitos humanos, falaremos de direitos humanos em Cuba e nos EUA. Se vamos falar de liberdade de imprensa ou de partidos políticos, falaremos disso em Cuba e nos EUA. Essa é nossa posição. Há vontade de recosntruir uma relação, mas nessas condições, sob esses pressupostos''. declarou.
América Latina
O membro do PC de Cuba disse que percebe um cenário sem precedentes na América Latina, onde Cuba já tem relações com todos os países, exceto os EUA. Ele agradeceu o empenho dos governos latino-americanos que se esforçaram para conseguir a reintegração de Cuba à OEA. Mas reiterou a conhecida posição da ilha, que considera a Organização um mecanismo obsoleto.
''Reconhecemos o gesto dos governos de levantar essa injusta posição, mas dizemos que lá não temos o que fazer. A OEA foi sempre um instrumento de dominação e esteve sempre a serviço do governo americano. Essa é um questão de princípio'', colocou.
Para ele, o fato de Cuba não querer voltar à OEA não se trata de vingança. ''Teríamos todo o direito de tratar essa reinserção como um elemento de revanche, por tudo que nos fizeram, mas não é assim. Esse não é um mecanismo de concertação desenhado para um novo tempo'', ponderou, defendendo o desenvolvimento dos novos espaços de integração regional.
''Vamos impulsionar a Alba, a Unasul, o Petrocaribe, novos mecanismos a partir de nova realidade, porque nenhum país consegue ir adiante por si só. O panorama que temos é complicado, paradoxo, mas que oferece muitas possibilidades para nossas forças de esquerda, progressistas. E somos otimistas desse futuro, apesar dos desafios'', encerrou.
Informação para o povo
Orlando Silva apresentou ainda uma série de inserções televisivas, que estão sendo veiculadas em Cuba, informando a população sobre a crise do capitalismo. O material aborda os diferentes aspectos da crise, desde o ambiental e financeiro, até o cultural.
Trata-se de uma forma de explicar o momento delicado para todo o mundo e orientar o povo para um período em que a principal medida do governo tem sido economizar. ''Nossa principal medida é a economia frente à crise. Economizar nossos recursos, conter nossas possibilidades, e atender ao princípio de não gastar mais do que é necessário. E nosso povo está empenhado nisso'', disse Silva.
Além de optimizar recursos, o governo tem se posicionado pelo estímulo à substituição da importação, com a retenção de gastos que não sejam absolutamente necessários e com o estímulo à produção agropecuária. ''É um conjunto de temas que estamos impulsionando para enfrentar a crise, com a absoluta certeza de que vamos seguir adiante e defendendo a permanência das conquistas de nosso socialismo'', concluiu.