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E a turma de Bush? Vai muito bem, obrigado

O Partido Republicano dos Estados Unidos está no fundo do poço da impopularidade. Mas o ex-presidente George W. Bush, a ex-primeira-dama Laura Bush, o ex-vice Dick Cheney e o resto da turma do ex-primeiro escalão da Casa Branca não têm motivos para queixa

George W. Bush rastejou para fora de seu silêncio na semana passada e fez um discurso em Erie, Pensilvânia, em que cotovelou o presidente Obama. “Eu disse a vocês que não iria criticar meu sucessor”, disse ele, antes de fazer exatamente isso. “Apenas direi que há pessoas em Gitmo [apelido do campo de Guantânamo] que mataram gente dos Estados Unidos à toa, e não creio que a persuasão funcionará aqui. Terapia não fará os terroristas mudarem de idéia”.



Ah, sim, eis a eloquência todos nos faz tanta falta desde janeiro. “Não creio que a persuasão funcionará” podia ser indicado para primeiro lugar no Hall da Fama dos absurdos. e essa tirada sobre terroristas em terapia é uma absoluta pérola da ironiar, como a ABC News assinalou. “Curiosamente”, relatou a rede de TV, “foi a administração Bush que enviou alguns dos prisioneiros de Gitmo para um campo de reabilitação saudita da jihad – o chamado Centro de Atendimento e Aconselhamento Príncipe Mohammed Nayef bin. Com um êxito decididamente controverso”.



Bem, imaginava-se. Não seria o legítimo Bush sem um monte de verborréia combinado com enlouquecedora incoerência factual, não é? Isso quase deu saudades das cotidianas câibras cerebrais que o então presidente costumava nos brindar com tão horrenda consistência. Ou, pensando bem, não, realmente, realmente não.



Com toda certeza virá o dia em que o Partido Republicano se recuperará do superlativo carnaval de bobagens, insanidades e autodestruição que o acometeu nos últimos três anos, mas esse dia não chegou e nem parece que chegará em breve. No momento e até segundo aviso, principalmente porque não se apresentou nenhum novo líder que não parecesse um pele-vermelha encantador de serpentes. E, enquanto isso, o GOP [o autor usa a sigla de Grand Old Party, Velho Grande Partido, tradicional apelido dos republicanos] é o partido de George W. Bush. Aí é ruim; não, é pior; não, é péssimo; e entretanto, assim é.



Greg Sargent,t em seu blog no Washington Post, salientou alguns dados escondidos em uma recente pesquisa do Wall Street Journal que deve ter feito todos os estrategistas republicanos da praça rangerem os dentes em desespero:




No seu conjunto, a popularidade do Partido Republicano hoje caiu abaixo até do abissal nível desfrutado por Dick Cheney [o vice-presidente da administração Bush, tido como sua eminência parda]. A pesquisa constatou que 26% dos entrevistados têm uma imagem muito positiva ou positiva de Cheney, oito pontos a mais que em abril. Entretanto,  o GOP em geral foi qualificado positivamente por apenas 25%, quatro pontos menos que em abril.



OK, a diferença está dentro da margem de erro, há um empate técnico. Mesmo assim, é um péssimo resultado para o GOP, dado que a continuada impopularidade de Cheney parecia para definir um tipo de piso para os republicanos.



Há um par de coisas a considerar aqui. Primeiro: parece que Cheney, embora sem mandato, está fazendo um trabalho melhor em proveito próprio, em comparação com o dos líderes do GOP em nome do partido como um todo. E segundo: fica desmentida a noção de que a presença de Cheney na mídia ajuda o GOP como um todo, como alguns líderes partidários dizem pensar. Na realidade, parece que ele só ajuda a si próprio.



No entanto, nem tudo está perdido nos arraiais do GOP. Aqueles fiéis republicanos que se afligem com o atual estado do partido se alegrarão ao saber que a turma pessoalmente responsável por detonar o GOP, graças à sua malcheirosa incompetência e desenfreada pelo poder fome de poder atualmente vai muito bem, obrigado.



Dick Cheney está negociando a venda de suas memórias por muitos milhões de dólares, que algum editor idiota provavelmente lhe dará. Karl Rove [consultor político de Bush] acaba de conseguir um contrato de sete dígitos para escrever as suas memórias sobre a era Bush. Condi [apelido de Condoleezza] Rice acabou de se comprometer com a elaboração de três livros, pelo valor declarado de US$ 2,5 milhões. Michael Mukasey, Tommy Thompson e Harriet Miers, todos fizeram lucrativos arranjos com prestigiados escritórios de advocacia, e Ari Fleischer deu um jeito de trabalhar para o time de futebol americano Green Bay Packers.



 Richard Armitage e Michael Hayden desembarcaram nos conselhos administivos de um par de grandes fornecedores do Estado. Só Alberto Gonzales permanece como o único homem da administração Bush incapaz de faturar às custas de seu tempo no governo: seu livro e foi veementemente rejeitada pelos editores, e nenhuma firma de advocacia o colocou em sua lista. Não consigo imaginar o porquê.



E quanto ao próprio George W. Bush? Obteve nada menos que US$ 7 milhões por suas memórias, que aparentemente terão o título Pontos de decisão, e incluirão “uma dúzia das mais interessantes e importantes decisões do ex-presidente em sua vida pessoal e política”. Laura Bush também assinou o contrato de um livro, por US$ 3,5 milhões. Ou seja, a ex-primeira família vai ganhar mais de US$ 10 milhões para nos contar como foi que aniquilou o Partido Republicano e afetou gravemente o país, enquanto se servia na melhor porcelana da Casa Branca.



O Partido Republicano é menos popular do que Dick Cheney, e Dick Cheney é quase tão popular como a catapora; mas as pessoas que descarrilharam o GOP e conduziram a nação a esta colossal bagunça estão se dando muito bem na hora de faturar. Causa constrangimento pensar como as  pessoas que votaram neles se sentem sobre isso. Pode apostar que elas não se sairam tão bem como seus líderes. Alguns podem chamar isso de karma, mas ninguém deveria se surpreender.



Afinal de contas, é o jeito de ser de George W. Bush: Eu levei o meu, os outros que se danem, amém.



* William Pitt Rivers é  autor dos livros War on Iraq: What Team Bush Doesn't Want You to Know e The Greatest Sedition Is Silence; fonte: http://www.truthout.org