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Carta de Lula e proteção de Tupã abrem Conferência da Igualdade Racial

A apresentação do Hino Nacional pela Filarmônica Afro-Brasileira (Filafro) e um ritual indígena pela proteção de Tupã foram algumas das atrações culturais que fizeram parte da abertura da 2a Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CONAPIR

A carta foi lida pelo ministro da Igualdade Racial, Edson Santos. No texto, o presidente lembrou que mais de 700 mil alunos das universidades são originários de famílias pobres e que os bolsistas do Programa Universidade para Todos (ProUni) estão entre os melhores. “É preciso ações afirmativas, como estamos fazendo agora”, acrescentou o presidente.



Ele lembrou que muitos torceram o nariz quando a SEPPIR foi criada, assim como ocorreu com a Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e outros. No entanto, dados revelam que as políticas do governo têm dado certo: 20 milhões de brasileiros deixaram a base da pirâmide social.



O presidente finalizou a carta citando a criação do sistema de cotas nas universidades, a demarcação da área dos quilombolas e a edição da Lei de 2003, que torna obrigatório o ensino de história da África e dos negros brasileiros nas escolas, como exemplos de ações afirmativas que estão dando certo.



O ministro  acrescentou que, apesar da política racial não ser sua área histórica de atuação, tem se dedicado de corpo e alma a essas causas e a esse direito do “nosso povo”.  “Que façamos um bom debate. Que saiamos daqui unidos em defesa da igualdade racial. A Conferência dará uma contribuição inestimável a esse processo”, emendou.



Já o ministro Luiz Dulci, da Secretaria Geral da Presidência, destacou o objetivo do evento, que não é apenas um evento de troca de ideias, mas de cobranças, que são muitos importantes para a sociedade e para o governo. E disse ainda que repeita uma frase que não era dele, mas na qual credita: “A libertação dos negros neste país liberta o conjunto de toda a sociedade.”



Caminho correto



Kika de Bessen, integrante da Coordenação Nacional de Entidades Negras e do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR), disse que a SEPPIR é a materialização da longa e contínua luta dos movimentos sociais contra o racismo e que os números provam que as ações afirmativas, como as cotas para negros nas universidades, estão no caminho correto. Citou como exemplo dados das universidades da Bahia e do Rio de Janeiro. Ela relatou que os estudantes cotistas dessas universidades têm rendimento igual ou superior aos demais, o que acaba com o discurso de que a política das cotas diminuiria a qualidade da educação.



A atriz Isabel Fillardis foi uma das apresentadoras do evento. Ela disse acreditar nos resultados do encontro depois de lembrar ser vítima três vezes de preconceito: por ser negra, mulher e mãe de uma criança com deficiência. A atriz disse ainda que o Brasil tem capacidade de ser exemplo se cada um fizer a sua parte.



Entre os vários artistas e autoridades presentes estavam os ministros da Educação Fernando Haddad; do Esporte, Orlando Silva e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias. Além do secretário-executivo da União Africana e presidente da Academia de Línguas Africanas (Acalan), Adama Samasse Kou, e atores como Zezé Motta e Leci Brandão e o cantor e vereador pelo PCdoB em São Paulo, Netinho de Paula.



Marcha



As comunidades quilombolas, que participam do evento, realizaram uma marcha nesta quinta-feira (25) na Esplanada dos Ministérios, reunindo representantes de comunidades espalhadas em 22 estados do país. A história de luta por uma vida digna estava no discurso de cada um deles.



Alguns ainda trazem na pele as marcas da incompreensão de uma sociedade que não entende o papel dos descendentes dos escravos. É o caso do quilombola Nilson Reis, da comunidade Brejo dos Criolos, de São João da Ponte (MG). Ele foi baleado por funcionários de uma fazenda vizinha e perdeu os movimentos na mão esquerda. Ele conta que o proprietário disse que passaria fogo naqueles que aparecessem perto da fazenda. O colega José Neto conta que, dois anos depois, o terror na região ainda é uma constante. ''Eles sempre vão às nossas casas para fazer ameaças'', desabafa.



Elda dos Santos, da comunidade quilombola Linharinho, em Conceição da Barra (ES), vive há 30 anos uma disputa de terras com uma multinacional de reflorestamento. Cerca de 60 famílias reivindicam a ocupação e preservação de um território tomado por eucaliptos e cana. ''Vivemos aqui há mais de 300 anos, nunca nos preocupamos em buscar documentação de terras. Agora, além de roubarem nossa cultura, querem roubar nosso sustento e moradia e a saúde da natureza'', denuncia.



Ao mesmo tempo em que se preocupam com o meio ambiente, os quilombolas também denunciam a dificuldade para trabalharem a terra e produzirem o próprio sustento. ''Não conseguimos as licenças para desmatar e plantar nossas roças. Hoje não conseguimos mal tirar o que comer'', diz Áurico Dias, morador do Quilombo de São Pedro, em Eldorado Paulista (SP).



Fonte: SEPPIR