Luis Nassif: O capital de volta à economia real
Ontem o dólar voltou a subir no país, inflado pelas expectativas negativas da economia norte-americana. Será assim por bom tempo. Algumas notícias positivas farão o dólar cair e a Bolsa de Valores subir; e o movimento inverso, quando for a safra de not
Publicado 08/07/2009 14:03
Para entender esse torvelinho especulativo, é necessário dividir os investimentos em dois grupos: aqueles calçados em um fluxo contínuo de resultados; e aqueles que dependem apenas de movimentos tópicos de capitais.
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Explico melhor.
Se alguém aplica em commodities, por exemplo, em períodos de alta volatilidade estará sujeito a quedas bruscas ou altas repentinas. Isso porque as commodities dependem de um conjunto de fatores de difícil aferição imediata: o desempenho futuro da economia mundial; o fator China, meio desconcertante; e, principalmente, o efeito-manada dos investimentos especulativos.
Por exemplo, a China puxa um pouco a demanda por petróleo. Imediatamente os fundos vão até as Bolsas para aproveitar a alta. E acabam produzindo um movimento muito mais agudo do que aquele baseado na análise dos fundamentos do mercado – oferta e procura. Quando o pêndulo volta, a queda costuma machucar, porque é difícil se estabelecer o que é piso e o que é pico para essas cotações.
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No caso de empresas, o jogo é outro.
Suponha uma empresa que tenha uma rentabilidade de 100 por ano. E um investidor que planeje um retorno de 10% ao ano. Ao final de dez anos, o valor residual da empresa será, digamos, 900. O investidor faz as contas e define o que considera o preço justo: 930. Comprando o papel por esse valor, receberá 100 por ano de dividendos e no final do 10º ano poderá vender a empresa por 900. A rentabilidade total será de 10% ao ano.
Mas suponhamos que do 5º ano em diante os dividendos cairam para 80 por ano e o valor residual da empresa para 700. Nesse caso, se ficar com o papel até o vencimento, a rentabilidade cairá para 7,7% ao ano.
Em qualquer hipótese, sempre será possível calcular as variações no preço das ações. Se o valor for tal que a rentabilidade se torne excessiva, hora de vender e lucrar. Se cair tanto que a rentabilidade prevista se torne muito pequena, hora de comprar.
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O exemplo acima é bem simples. Mas explica porque uma quantidade cada vez maior de fundos e de grandes investidores passam a procurar as atividades reais para investir – tanto as tradicionais quanto as ligadas às novas tecnologias já comprovadas.
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Ainda haverá movimentos especulativos remanescentes. Há muita liquidez no mundo. As medidas adotadas pelos Bancos Centrais dos países desenvolvidos visaram muito mais prover de liquidez o sistema financeiro do que a economia propriamente dita. Ou seja, não foi dinheiro injetado com o propósito de aumentar a oferta de crédito, mas simplesmente de tirar os bancos do enrosco em que se meteram.
Mas, gatos escaldados, nos próximos anos o capital se aproximará cada vez mais das atividades produtivas.