Peru: para grevistas, momento é de acumulação de forças
A greve andino-amazônica no Peru segue com mobilizações e paralisações em diversas regiões do país. Representantes de organizações indígenas, sociais e camponeses do país avaliam a paralisação de forma positiva.
Publicado 10/07/2009 11:49
Na quarta-feira (08), o presidente do Conselho de Ministros, Yehude Simon, cedeu à pressão dos movimentos e reiterou sua renúncia ao cargo. A saída de Simon foi anunciada em uma carta ao presidente Alan García, na qual assumiu o custo político dos conflitos de Bagua, que resultaram na morte de 34 pessoas, entre civis e policiais.
“Como o senhor sabe, querido Presidente, assumi, como deve ser, o custo político desta desgraça que marca toda a pátria e assumo por respeito que tenho ao país e pela lealdade a seu governo”, escreveu.
Ademais da saída de Simon do Gabinete, as principais organizações sociais, indígenas, camponeses, sindicais e partidos políticos de esquerda da nação andina participantes da greve querem a mudança do modelo econômico neoliberal, a convocatória de uma Assembleia Constituinte que reconheça o país como um Estado Plurinacional, a derrogatória do pacote legislativos do Tratado de Livre Comércio (TLC) com Estados Unidos, e o fim da criminalização do protesto social.
Ontem, diversas organizações divulgaram comunicados em que confirmam o êxito dos três dias da greve nacional no Peru. “As cidades de Arequipa, Puno, Ayacucho, Huaraz, Cusco, Huancavelica, Junín, Pasco, Huanuco, Satipo, Pichanaki e Pangoa, foram centro de protestos, fechamento de vias e mobilizações, ao tempo que o deslegitimado regime de Alan García expede ordens de captura contra dirigentes da Aidesep (Associação Interétnica de Desenvolvimento da Selva Peruana).”, disse a
Aliança Social Continental.
O dirigente peruano da Coordenação Andina das Organizações Indígenas (CAOI), Miguel Palacín, por sua vez, avaliou, em entrevista, a greve como “uma etapa de acumulação de forças”. Confira abaixo:
Qual é sua avaliação da Greve Andino-Amazônica?
A greve se fez sentir com muita força nas províncias, em especial na serra do centro e do sul. As regiões onde a paralisação foi total e as mobilizações massivas são Puno, Arequipa e Ayacucho. Em troca, nem em Lima nem na costa norte sentiu-se o paro, tampouco as mobilizações. Isto deixa claro uma mensagem: que as principais demandas e lutas estão no Ande, nas províncias, nas zonas rurais, onde vivem os mais afetados pelo modelo capitalista neoliberal.
O senhor crê que estão conseguindo os objetivos?
Estamos em uma etapa de acumulação de forças de diversos setores, de construção de uma agenda comum e uma plataforma de luta unitária. Nesta etapa, nossa tarefa é fazer visível no exterior a problemática do país: denunciar os decretos legislativos do Tratado de Livre Comércio com Estados Unidos, que vulneram os decretos e a soberania nacional, a criminalização do protesto social, o autoritarismo do governo, a extrema pobreza que sofre grande parte da população. Daí em diante, conquistada essa sensibilização, o passo seguinte é ser escutado pelo governo para que se deem as alternativas de solução da dita problemática.
Como tem reagido a sociedade frente à paralização?
Em primeiro lugar, frente à jornada dos povos indígenas amazônicos, a solidariedade e o respaldo foram amplos e massivos, como se pôde ver na Jornada Nacional de 11 de junho, com mobilizações que remexeram todo o país. Demonstrou-se que a problemática dos povos indígenas já é parte da agenda.
A paralisação Andino-amazônica é o passo seguinte, é uma medida de luta política, que inclui outras demandas (trabalhistas, regionais, etc.). Já não se trata só da solidariedade, mas de uma luta política – insisto – pela transformação do Estado e pala atenção às demandas de todos os setores. É em Lima onde nos falta aglutinar mais forças; é na capital, a de maior população, mas ainda conservadora. Porque nas províncias, sobretudo na serra sul, as pessoas estão plenamente convencidas da urgência de mudar o modelo econômico e o sistema de administração do Estado.
Fonte: Adital