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Afeganistão: 'guerra que não podemos vencer'

Os britânicos e norte-americanos estamos habituados a ver os afegãos em prisões, ou em cavernas, ou à distância de um tiro de rifle: homens de turbante carregando bombas e foguetes, ou rezando de cócoras, ou em ruas sem asfalto em poças de sangue; ou,

Barack Obama, em discurso recente, pautou o medo para todos nós:



“O governo afegão está minado pela corrupção e não consegue oferecer serviços básicos à população. A economia está destruída pelo tráfico de drogas, que também faz aumentar a criminalidade e financia a insurgência. (…) Se o governo afegão for derrotado pelos Talibãs – ou se permitir que a al-Qaida continue ativa, sem controle – o Afeganistão estará novamente convertido em base para terroristas que desejam matar o maior número possível de norte-americanos. (…) Para o povo afegão, uma volta ao domínio dos Talibãs será como condenar o próprio país à brutalidade sempre crescente, ao isolamento internacional, à paralisação da economia e à negação de todos os direitos humanos básicos ao povo afegão – sobretudo às mulheres e meninas. A volta dos terroristas da al-Qaida trazidos pelos terroristas Talibãs ao poder, lançaria todo o Afeganistão na escuridão da perpétua violência.”



Quando não nos impingem essa visão distrópica, somos então estimulados a acreditar num futuro implausivelmente otimista. “Só haverá um vencedor: a democracia e um Estado afegão forte” – anteviu Gordon Brown em seu mais recente discurso profético.



Obama e Brown estão apostando todas as fichas numa linguagem política para hipnotizar as massas que pode ser – e talvez venha a ser – aplicada em doses idênticas e com idêntica facilidade, na Somália ou no Iêmen. Essa linguagem engana o público em vários aspectos simultaneamente: minimiza as diferenças culturais, exagera os medos, amplia a ambição e a arrogância, infla o senso de dever moral e de poder, e confunde todos os objetivos de todos no Afeganistão. São atitudes que correspondem, todas, a uma única estreita visão de mundo, que criam ilusões e induzem a crer de modo quase irresistível em fantasias inadmissíveis.



Mas essa linguagem política espanta o pesadelo do “Estado falido”; espanta também o pesadelo do “extremismo global”; e oferece a esperança da “construção de Estados” e a esperança da vitória da “contra-insurgência”; e oferece, como promessa, um sonho final de “governo transparente e legítimo”.



A fórmula é suficientemente frouxa para incluir desde ONGs escandinavas humanitárias até as Forças Especiais e a espionagem dos EUA; é suficientemente genérica para aplicar-se tanto a Botswana quanto ao Afeganistão; é suficientemente sinuosa e sofisticada para inspirar legiões de administradores públicos; é suficientemente sugestiva para soar como imperativo moral suficientemente moral para seduzir até o Daily Mail. E é tão abstrata, que é impossível desmontá-la ou contraditá-la.



Esse tipo de discurso serve para encobrir a fragilidade da comunidade internacional: nossa falta de conhecimento, de informação, de poder e de legitimidade. Mascara os conflitos que dilaceram nossos interesses: ou ajudamos os afegãos ou assassinamos terroristas. Esse discurso pressupõe que o Afeganistão seja simples e previsível. É linguagem que explora tautologias e negações… para mentir que haveria soluções inexoráveis. Faz a política inglesa (e a norte-americana) parecer uma obrigação moral, faz o fracasso parecer impensável, torna inconcebíveis todas as alternativas. E faz tudo isso tão bem, que torna quase impossível articular qualquer outra abordagem mais moderada, mais detalhada, mais realista.



O caso é que o Afeganistão é um cemitério de previsões fracassadas; lá acontece, quase sempre, o que ninguém previu. Nenhum especialista previu, em 1988, que o presidente Najibullah, apoiado pela então URSS sobreviveria por dois anos e meio depois de os soviéticos terem partido. Ninguém previu no início de 1994, que os famosos comandantes da Jihad Hekmatyar e Masud, então lutando uma guerra civil no centro da cidade de Cabul, seriam varridos do mundo por um grupo então desconhecido de estudantes de uma madrassa, chamados “Talibã”. Ninguém tampouco previu que os Talibã, em alguns meses, teriam conquistado 90% do território afegão, teriam eliminado quase toda a corrupção, teriam restaurado a segurança nas estradas e teriam dado abrigo à al-Qaida.



Pode-se afirmar, cedendo à tentação de também prever o futuro, que o crescimento econômico não converterá o Afeganistão nesse paraíso de terroristas que Obama pinta, nem na “democracia forte” com que Brown sonha. O mais provável é que o crescimento econômico converta o Afeganistão em algo bem parecido com o que são os seus vizinhos mais ricos. Irã, Turcomenistão, Uzbequistão, Tadjikistão, Paquistão e Afeganistão sempre estiveram, em diferentes momentos, sob os mesmos impérios muçulmanos. Há populações persas, turcas, uzbeques e tadjiques no Afeganistão, e os pashtun afegãos são divididos só muito arbitrariamente pela “Linha Durand”, dos pashtun paquistaneses.



As economias são interligadas e milhões de afegãos estudaram e trabalharam no Irã ou no Paquistão. Há mais razões para que o Afeganistão venha a ser país semelhante aos seus vizinhos, do que para que sofra colapso e guerra civil, como a Somália, ou para que aceite democracia à moda da Malásia. Mas Irã, Turcomenistão, Uzbequistão, Tadjiquistão e Paquistão são uma intrincada variedade de Estados: uma teocracia islâmica, uma autocracia tribal 'surreal', uma ditadura secular repressiva, um país que se equilibra a beira de uma guerra civil, uma ditadura militar com democracia. E ainda faltam muitos anos para que a economia afegã e suas instituições ganhem fôlego que as tornem semelhantes às dos seus vizinhos.



O Paquistão, frequentemente apresentado como “Estado falido” é Estado que tem, além de bombas atômicas, uma Diretoria da Inter-Services Intelligence, publica um Friday Times e abriga importante Escola Nacional de Artes. Há grupos ocidentalizantes ativos e não só na rica elite de Lahore: um canal de televisão comercial, de programação de massa, iniciou e mantém uma campanha para que fossem mudadas as regras da lei islâmica conhecidas como “Leis Hudud”[1], aplicáveis em casos de adultério e estupro de mulheres. Resultado dessa campanha, vários processos foram cancelados e cerca de 1.500 mulheres prisioneiras foram libertadas. Nada há que se compare, no Afeganistão, ao movimento dos Advogados Paquistaneses, que restauraram a corte superior de justiça, depois de dissolvida por Musharraf.



Todos os governantes afegãos durante o século 20 foram assassinados, linchados ou depostos. O governo comunista tentou romper as velhas estruturas mantidas pelos mulás e khans; a Jihad anti-soviética as reinstituiu, apoiada em armas e dinheiro fornecidos pelos EUA e Arábia Saudita, através do Paquistão. Praticamente não há atividade econômica no Afeganistão, além da ajuda humanitária internacional e da produção ilegal de narcóticos. O exército afegão não pode, como fez o Paquistão, rejeitar a tentativa dos EUA de definir as prioridades da segurança nacional; os diplomatas afegãos não podem rir das declarações dos políticos ingleses. Karzai é muito criticado mas, passados já mais de sete anos desde a invasão pelos EUA e aliados, ainda não há candidato alternativo plausível; ainda não há, sequer, partidos políticos.



A chamada nova política de Obama tem foco muito limitado – o contra-terrorismo – e meios muito frouxamente definidos de como implantar-se: pelo que se pode inferir do que diz Obama, bastaria 'consertar' o Estado afegão. O argumento de Obama é apresentado como silogismo formal. O objetivo final na Região é



“desmontar, quebrar, derrotar a al-Qaida no Paquistão e no Afeganistão e evitar que volte a agir nesses países, no futuro.”



A derrota do Talibã é condição necessária porque, se o governo afegão for tomado pelo Talibã,



“o Afeganistão estará novamente convertido em base para terroristas que desejam matar o maior número possível de norte-americanos.”



Esses esforços são dificultados pela natureza da economia e do governo afegãos. Temos de implementar uma estratégia de contra-insurgência, que inclui



“o deslocamento de 17 mil soldados que darão combate ao Talibã no sul e no leste;”



mas temos também de adotar abordagem “mais compreensiva” para promover



“um governo afegão mais transparente e mais competente (…), [temos de oferecer] segurança, oportunidades e justiça [e temos também] de desenvolver uma economia que não seja dominada por drogas ilícitas.”



Na conclusão, não se pode enfrentar a questão “Afeganistão” sem enfrentar também a questão “Paquistão”:



“Para derrotar inimigo que não respeita fronteiras nem as leis da guerra, temos de reconhecer que há uma conexão fundamental entre o futuro do Afeganistão e do Paquistão.”



Ou na forma mais concisa que Obama usou em outubro último:



“Para pegar Osama bin Laden, temos de vencer no Afeganistão e estabilizar o Paquistão.”



Obama, então, combina avaliação negativa do passado e do presente do Afeganistão – descreve a fronteira como “o local mais perigoso do mundo” – com a ideia otimista de que o país possa ser transformado. Assume que EUA e Reino Unido têm justificativa moral e dever de intervir; que os EUA e aliados têm capacidade para enfrentar a ameaça; e que nossos objetivos humanitários globais e de segurança são consistentes e reforçam-se mutuamente.



O Afeganistão teria sido 'a guerra certa'. No Iraque, ainda se poderia criticar o desrespeito à lei internacional, as mentiras sobre armas de destruição em massa, a visível corrupção em todos os negócios e contratos, a anarquia em Bagdá e as torturas em Abu Ghraib. Mas a intervenção no Afeganistão foi uma resposta ao 11 de Setembro, sancionada pela lei internacional e por ampla coalizão; os objetivos, a autodefesa e o altruísmo.



A al-Qaida matou e continua a matar inocentes; é justo impedir que mate. Também é justo e certo derrotar o Talibã para levar desenvolvimento e Estado efetivo legítimo ao Afeganistão e estabilizar o Paquistão. O governo afegão eleito e a maioria da população afegã apoia a presença dos EUA em seu território. E a comunidade internacional tem capacidade para transformar toda a situação.



Os políticos avaliam o Afeganistão pelas categorias do contra-terrorismo, contra-insurgência, construção do Estado e desenvolvimento econômico. Essas categorias são tão intimamente conectadas que se as pode por praticamente em qualquer sequência ou combinação. É preciso derrotar o Talibã para construir um Estado; e é preciso construir um Estado para derrotar o Talibã. Não há segurança sem desenvolvimento, nem desenvolvimento sem segurança. Se há Talibã, há terroristas; se não há desenvolvimento, há terroristas; e, como Obama informou à revista New Yorker, “espaços sem governo tornam-se paraísos para terroristas”.



Essas conexões são globais: nas palavras de Obama, “nossa segurança e prosperidade dependem da segurança e da prosperidade de outros.” Ou, como preferiu dizer dia desses um ministro britânico das Relações Estrangeiras, “nossa segurança depende do desenvolvimento deles.”



De fato, vez ou outra, tem-se a impressão de que todas essas atividades – construir um Estado, derrotar o Talibã, derrotar a al-Qaida e eliminar a miséria – são uma e a mesma atividade. A nova doutrina da contra-insurgência cerebrada pelo Exército e Marinha dos EUA soa como documento oficial do Banco Mundial, recheado de compromissos com obediência a leis, desenvolvimento econômico, governabilidade, construção de Estados e direitos humanos. No vocabulário de Obama, “preocupações humanitárias e de segurança são itens de um único e mesmo projeto.”



Toda essa política está construída sobre falsas ideias do que sejam obrigação moral, nossas competências e capacidades, a força dos nossos concorrentes, a ameaça que o Afeganistão representaria, as relações entre nossos vários e diferentes objetivos e o valor e a importância de haver um determinado tipo de Estado. Ainda que a invasão fosse justificável e que algo a justificasse, nada justifica o que fizemos depois de invadir o Afeganistão.



Se o 11 de Setembro foi planejado em campos de treinamento no Iraque, deveríamos sentir que a guerra no Iraque seria mais justificada. Mas nem por isso a ação dos EUA no Iraque teria causado dano menor aos iraquianos ou aos próprios norte-americanos.



O poder dos EUA e seus aliados, e nosso compromisso, nosso conhecimento e nossa vontade são limitados. Nada sugere que conseguiremos derrotar o Talibã. Não há, no Afeganistão, nenhum dos ingredientes que levaram ao sucesso de campanhas contra-insurgência em lugares como a Malásia – controle de fronteiras, alta proporção de soldados considerada a população, forte apoio dos grupos étnicos majoritários, envolvimento de longo prazo e governo local em que se podia acreditar.



O general Petraeus acabará por descobrir que será muito difícil repetir no Afeganistão o aparente sucesso do 'avanço' no Iraque. Não há partidos de massa no Afeganistão e o governo de Cabul não tem nem a base nem o poder nem a legitimidade que o governo de Bagdá tinha.



Os grupos tribais afegãos não têm a estrutura das tribos sunitas iraquianas nem têm a mesma relação com as estruturas do Estado: não estão sendo derrotados bairro a bairro e não mantêm, com o Talibã, relação semelhante à que unia os grupos sunitas e a “al-Qaida no Iraque”. Os afegãos estão cansados de guerra, mas os chefes afegãos não estão tentando aproximar-se dos EUA, procurando acordo. Dado que as estruturas do Estado e os atores políticos são muito mais frágeis no Afeganistão do que no Iraque, os chefes afegãos não desempenham papel decisivo no processo de conter a insurgência.



Enquanto isso, o Talibã pode explorar a ideologia da resistência religiosa que o Ocidente deliberadamente construiu e divulgou nos anos 1980, no Afeganistão, para derrotar os soviéticos. O Talibã também pode apresentar o governo de Cabul como vassalo dos EUA; a Otan, como força infiel de ocupação; e a própria insurgência dos Talibãs, como uma Jihad. As queixas e denúncias de corrupção, violação de direitos humanos e bombardeios de populações civis emocionam enormes plateias. E estão atraindo os afegãos para seus tribunais 'de campanha', que têm leis e promovem e distribuem justiça mais compreensível e mais rápida que os tribunais oficiais do governo de Cabul.



Como alguns funcionários do governo afegão, o Talibã também desenvolveu relacionamento ambíguo e muitas vezes lucrativo com os barões da droga. Podem deslizar para dentro e para fora da fronteira com o Paquistão, e encontram apoio. Massacraram os anciãos Alokozai que tentaram resistir a eles. Têm obtido sucesso crescente em ataques contra a coalizão e o governo afegão, no sul e no leste. Operam hoje em maior número de distritos do que em 2006 e controlam novas províncias (por exemplo, Wardak, bem próxima de Cabul). E têm boa chance de retomar cidades dos distritos do sul (por exemplo, Musa Qala) e talvez até algumas capitais de província.



Mas dificilmente o Talibã tomará todo o Afeganistão. O governo Talibã anterior conseguiu garantir melhor segurança nas estradas e melhor administração da justiça, mas foi governo frágil e caiu. Os Talibãs já não são vistos, como alguns os viam em 1994, como estudantes, jovens bem-intencionados, lutando para arrancar seu país das garras da corrupção. Milhões de afegãos já temem a brutalidade, a incompetência, as atitudes e soluções primitivas dos Talibãs.



As populações hazara, tadjiques e uzbeques são hoje mais ricas, mais bem organizadas e mais poderosas do que em 1996 e certamente resistiriam contra qualquer tentativa dos Talibãs para ocupar e controlar suas áreas. O exército nacional afegão é razoavelmente eficaz. O Paquistão já não tem condições de apoiar e manter os Talibãs, como aconteceu antes. Muito menos soldados de exércitos estrangeiros, menos aviões e menos bombas do que há hoje já bastariam para tornar praticamente impossível, para os Talibãs, organizar um exército convencional, como fizeram em 1996, e distribuir tanques e artilharia ao longo da principal estrada para Cabul.



Ainda que – e é improvável que venha a acontecer – os Talibãs cheguem a tomar a capital, é difícil estimar que tipo de nova ameaça criar-se-ia à segurança nacional dos EUA ou de algum país europeu. Que país daria hoje abrigo seguro à al-Qaida? E o que, exatamente, significaria 'segurança', nesse caso? Alguém oferecia à al-Qaida terreno para treinamento? E, mesmo que algum país oferecesse, quem protegeria esses campos de treinamento contra inimigos locais e contra a ação das Forças Especiais dos EUA? E a al-Qaida, hoje, ainda precisa de grandes campos de treinamento, para organizar ataques? Não poderiam, por exemplo, planejar seus ataques em Hamburgo e treinar em escolas de pilotagem na Florida, EUA? E não poderiam reunir-se em Bradford e aprofundar o 'espírito de grupo' em treinamento para esportes radicais e trilhas, no País de Gales?



Além de tudo isso, não há qualquer evidência de qualquer conexão entre os objetivos-chave de contra-terrorismo, desenvolvimento, democracia/construção do Estado… e a contra-insurgência. A contra-insurgência não é condição nem necessária nem suficiente para a construção de algum Estado.



Pode-se criar Estado legítimo e estável sem, antes, tem vencido uma guerra de contra-insurgência (a Índia, que é Estado muito mais estável e legítimo que o Afeganistão, continua empenhada em várias guerras de contra-insurgência, de Assam à Caxemira). E pode-se vencer uma guerra de contra-insurgência sem necessariamente criar algum Estado estável (se, por Estado estável, entender-se Estado de direito e com economia nacional legítima). Tampouco há qualquer conexão necessária entre terrorismo e construção de Estados.



Nossas confusões ficam bem demonstradas nos debates sobre se o Iraque seria um ” rogue state” ('estado canalha') que oferecia abrigo a terroristas (como Bush disse) ou se seria Estado autoritário que perseguia os terroristas (o que, sim, o Iraque foi).



É impossível para norte-americanos, ingleses e aliados construir um Estado afegão; não têm ideia clara do que seja esse 'estado' prometido; e qualquer Estado, seja qual for, só poderá nascer de um movimento nacional afegão, não como 'donativo' de exércitos estrangeiros. Algum Estado centralizado, seja como for, será modelo adequado para território montanhoso, com fortes tradições locais de autogoverno e autonomia regionais, com marcadas diferenças étnicas, mas com valores morais fortes e enraizadamente partilhados? E mesmo que venham a emergir lá instituições centrais mais fortes, será que atenderão aos objetivos de segurança das nações ocidentais?



O Afeganistão está partindo de um piso muito baixo: 30 anos de investimentos só levaram seu exército, a polícia, a administração pública e a economia a aproximar-se (não a superar) os padrões do Paquistão. E Osama bin Laden ainda está no Paquistão, não no Afeganistão. Escolheu o Paquistão, precisamente, porque o Paquistão pode afirmar e garantir mais e melhor a soberania de seu Estado, do que o Afeganistão; portanto, a operação dos EUA pode ser contida, no Paquistão, muito mais do que no Afeganistão. De uma perspectiva estreita (e cínica) sobre a segurança nacional dos EUA, um Estado pobre e falido sempre será mais fácil de manobrar que um Estado mais desenvolvido: por isso, o Iêmen é considerado menos ameaçador que o Irã; a Somália, menos que a Arábia Saudita; e o Afeganistão, menos que o Paquistão.



Por isso, o atual projeto de construção de Estado no Afeganistão, que é o coração da política dos EUA, só pode ser justificado em termos absolutamente instrumentais – não como fim em si mesmo, mas como meio, na luta contra o terrorismo. Sobre isso, Obama foi bem claro:



“Quero que os norte-americanos entendam que temos objetivo focado e claro: quebrar, desmontar e derrotar a al-Qaida no Paquistão e no Afeganistão, e impedir que voltem a qualquer desses países no futuro. Esse é o objetivo que tem de ser alcançado”.[2]



Com vistas a esse objetivo, Obama até aqui já se comprometeu com construir “um exército afegão de 134 mil e uma força policial de 82 mil homens”, e já avisou que “é possível que seja necessário aumentar as forças afegãs”.2



Vários generais norte-americanos têm falado abertamente sobre desejarem ver instalado um aparelho militar-policial-de segurança de 450 mil soldados (em país com população de menos de 35 milhões de habitantes, pouco mais que metade da população do Reino Unido). Esse aparelho custaria, em custos de manutenção, 2-3 bilhões de dólares anuais; o governo do Afeganistão arrecada hoje apenas cerca de 600 milhões anuais. Os EUA e Reino Unido tanto criticam os países em desenvolvimento que gastam em defesa 30% do que arrecadam; ao mesmo tempo, 'sugerimos' que o Afeganistão consuma, em defesa, 500% do orçamento nacional!



Vários planejadores alertaram, imediatamente, para a evidência de que esse custo é exorbitante e que, se as coisas seguirem esse rumo, o Afeganistão passará a depender completamente, para sempre, da bondade da comunidade internacional. Há também quem já tenha lembrado o fantasma (que o exemplo do Paquistão sugere fortemente) de que esse quadro levará a um golpe militar. Mas a questão mais básica são os princípios políticos de EUA e Reino Unido. Não podemos estimular a criação de um Estado militar autoritário. Talvez resulte daí um tipo de segurança que parecerá atender aos nossos interesses de curto prazo, mas de modo algum atenderá aos interesses de longo prazo dos afegãos.



Que tipo de táticas anti-terroristas esperamos que os militares afegãos desenvolvam? Que tipo de vigilância, prevenção, intervenção e controle esperamos que a polícia afegã invente ou desenvolva?



Não podemos, de modo algum, assumir (e ensinar ao mundo) que o único modo que conhecemos para levar segurança a um país em desenvolvimento seria restringir todas as suas liberdades civis; ou que cremos que haveria uma etapa necessária de governo autoritário… na formação dos Estados (?!). Ou que o fim das liberdades civis seria precondição para rápido desenvolvimento, ou mal menor, na luta contra o terrorismo moderno.



Depois de sete anos de refino, a política parece tão contaminada de ilusões, de fantasias, tão enrolada em falas ambíguas, tão carregada de clamores e analogias 'éticas' e de moralismos e de teorias políticas, que soa quase fútil oferecer qualquer interpretação alternativa. Nada parece mais difícil hoje do que defender não alguma total retirada do Afeganistão, mas abordagem mais cautelosa e menos simplória.



A melhor política para o Afeganistão seria reduzir o número de soldados estrangeiros no país, dos atuais 90 mil para bem menos – no máximo, talvez, 20 mil. Nesse caso, seriam mantidos dois diferentes objetivos que interessam à comunidade internacional: promover o desenvolvimento e combater o terrorismo. Nem um nem outro teria algo a ver com 'construir' algum Estado afegão. Se o ocidente entender que é indispensável extrair a al-Qaida do Afeganistão, essa poderia ser missão para as Forças Especiais. (As Forças Especiais não fazem outra coisa, desde 2001, com sucesso; podem continuar a fazê-lo para sempre, embora, até agora, só tenham conseguido que bin Laden atravessasse uma fronteira.) Ao mesmo tempo, o Ocidente poderia dedicar-se generosamente a oferecer auxílio para o desenvolvimento do país – não como até aqui, com o auxílio para o desenvolvimento do Afeganistão sendo usado como moeda, para comprar o direito de manter operações de contra-terrorismo –, oferecer auxílio para o desenvolvimento do Afeganistão como meta em si.



Reduzir o número de soldados e corrigir o foco (afastando-se da ideia fantasista de 'construir Estado afegão') não implica necessariamente total retirada: há muitos bons projetos nos quais os norte-americanos e ingleses podem ser engajados no Afeganistão – eletrificação, irrigação, saúde, educação, agricultura, desenvolvimento agrário e outras tantas áreas de que tratam as agências de desenvolvimento. Mas não podemos insistir em controlar ou em tentar adivinhar o futuro do Afeganistão. É possível, sim, que o país, no futuro, torne-se mais violento, ou que encontre um equilíbrio descentralizado, ou uma nova unidade nacional. É possível, se as comunidades afegãs continuarem interessados em trabalhar com 'ocidentais', que, nos próximos 30 anos, consigamos promover as tendências sociais mais construtivas que há na sociedade afegã, ao mesmo tempo em que se vão contendo as tendências menos construtivas.



Esses argumentos parecem forçados, pouco realistas, contra-intuitivos e pouco sedutores. Dão a impressão de trair as esperanças dos afegãos que confiaram nos EUA e Reino Unido; dão a impressão de permitir que os Talibã continuem a infernizar a vida dos habitantes das cidades do interior do país. Nenhum político quer ser visto com alguém que subestimou ou não deu a necessária importância à ameaça terrorista; ou que esteja desrespeitando o 'sangue e tesouros' que enterramos no Afeganistão; ou que admita a derrota.



Os norte-americanos, sobretudo, não gostam de deixar-se convencer de que haja problemas sem solução. O slogan de Obama não é “não, nós não podemos”; nenhum soldado é treinado para admitir a derrota nem para considerar impossível a missão que receba.



Para poder declarar que o que funcionou no Iraque não funcionará no Afeganistão (ou que o que funcionou na Alemanha Ocidental do pós-guerra ou na Coreia do Sul dos anos 1950 não funcionará no Afeganistão) é indispensável que se tenha conhecimento detalhado da história de cada país, análise forte das causas do desenvolvimento caso a caso, e rigorosa demarcação das diferenças – tudo isso exige paciência; e paciência é virtude rara.



Embaixadores sóbrios, inteligentes, que foram céticos sobre o Iraque, avalizaram o envio de mais soldados para o Afeganistão. Agências de socorro humanitário, ativistas de direitos humanos e correspondentes estrangeiros não se opuseram à ideia. Políticos – Republicanos e Democratas; e Conservadores e Trabalhistas – aprovaram o envio de mais soldados. A ONU, a Otan, vários think-tanks de Washington, todos a favor de mais soldados no Afeganistão. E, por fim, muitos afegãos também aprovaram entusiasmados a mesma ideia.



O pressuposto central em todos os casos é sempre o mesmo: um Afeganistão hostil ou sem governo ameaça toda a segurança global; o ocidente é competente para enfrentar esse tipo de ameaça e devolver a prosperidade e a segurança ao mundo; que essa tarefa é justa e implica uma obrigação moral; que o desenvolvimento econômica e a ordem no Afeganistão contribuirão para a estabilidade global; que esses diferentes objetivos reforçam-se todos, uns os outros; e que não há solução diferente dessa, ou real alternativa.



Sinal bem claro de o quanto são fortes esses pressupostos é que são exatamente os mesmos que, em 1868, foram apresentados por Sir Henry Rawlinson, celebrado e experiente membro do Conselho da Índia, em discussão sobre a ameaça de uma presença russa no Afeganistão:



“No interesse, pois, da paz; no interesse do comércio; no interesse do avanço moral e material, pode-se dizer que intervir no Afeganistão tornou-se agora um dever, e que toda e qualquer ação moderada [que empreendamos] ou responsabilidade que assumamos para restaurar a ordem em Cabul provar-se-á, na sequência, verdadeira economia.”



A nova estratégia dos EUA para o Afeganistão também é apresentada como “Internacional (…) regional (…) ação conjunta militar-civil (…) co-ordenada (…) de longo prazo (…) focada em desenvolver capacidades (…) uma abordagem que combina respeito à soberania e aos valores locais e respeito aos padrões de governo democrático, legítimo e transparente e aos direitos humanos; abordagem longamente amadurecida: com objetivos claros e realistas e com parâmetros realistas para aferir resultados.



Ora! Isso não é um plano: isso é o inventário de tudo que não temos! Nossa abordagem é de curto prazo; tudo está sendo disputado (não se sabe se conseguiremos desenvolver capacidades no Afeganistão, se resolveremos as questões regionais ou se superaremos as divisões entre militares e civis); não se sabe se há respeito à soberania ou aos valores locais dos afegãos; até agora não se implementaram padrões de governo democrático, legítimo e transparente e [respeito] aos direitos humanos; falhamos, até agora, no trabalho de apresentar objetivos claros e realistas; e não temos nenhum parâmetro realista para aferir resultados.



De onde, afinal, tiramos a ideia de que listar tudo que não temos constituiria um plano para obter o que nos falta? (Acontece o mesmo fenômeno, quando não percebemos que se cria uma tautologia cada vez que dizemos que conseguiremos derrotar a corrupção… no dia em que implantarmos processos transparentes e confiáveis de controle das finanças públicas’.)



As coisas são como são, em parte, porque se usa hoje uma linguagem sempre confortavelmente impenetrável. Conseguimos ver o calculismo nu e cru de Rawlinson, que mistura interesses nacionais e custos da guerra, ganhos possíveis e probabilidade de sucesso.



Mas uma quantidade espantosa de outras e diferentes conexões lógicas e identidades pressupostas podem esconder-se no linguajar dos especialistas, sobretudo dos que falam linguagem derivada da teoria do desenvolvimento combinada aos saberes de consultores de 'gerência' & management.



O que se oculta é o pressuposto (que todos nós pressupomos do mesmo modo) que, quando desejamos que outras sociedades reproduzam as ideias (quase sempre delirantes ou fantasiosas) que temos sobre a nossa sociedade… nós podemos fazê-lo (“Yes, we can!”). A linguagem da política moderna não nos ajuda a conhecer e declarar os limites do nosso poder ou de nossas capacidades; a conceder que podemos fazer menos do que dizemos que podemos, ou que nossos inimigos podem fazer menos do que nós dizemos que eles podem; a confessar o quão pouco conhecemos um país complexo como o Afeganistão ou o quanto é pouco o que podemos pretender saber sobre o futuro do Afeganistão; ou a reconhecer que os afegãos podem perfeitamente desejar nos ver pelas costas, que não nos queiram lá, que nossa presença pode ser vista como invasiva ou ilegítima; ou que nossa presença pode mais piorar do que melhorar o que já seria difícil sem nós.



EUA e Reino Unido nos declaramos engajados num projeto neutro, tecnológico, universal de 'construção-de-Estado'… mas sequer entendemos perfeitamente o que isso significa. Os que prevêem que o Afeganistão cairá outra vez em mãos dos Talibã ou que se converterá em Estado autocrático tradicional referem-se a contextos que houve por lá em 1972 e em 1994. Mas a ambição da comunidade internacional parece ser outra: parecer querer inventar algo que nunca existiu antes. Obama chama a isso “um governo afegão mais competente e mais transparente”. Os 'textos para discussão' [ing. White Paper] do governo dos EUA chamam a isso “governo local efetivo e eficaz”  e falam de “legitimidade”.



Os EUA, o Reino Unido e todos os países aliados concordaram, na reunião do 60º aniversário da Otan, em abril, com criar “um Estado democrático mais forte” no Afeganistão.



Na nova estratégia dos ingleses para o Afeganistão, algumas combinações de substantivos e adjetivos repetem-se e repetem-se ao longo de 32 páginas. Lá se encontram, várias vezes repetidos: “Estado legítimo, transparente”; “governo legítimo, transparente”; “Estado eficaz e transparente” e “governança eficaz e transparente”. Gordon Brown diz que “tanto quanto os afegãos têm de encarregar-se de sua própria segurança, têm também de construir governança eficaz e transparente”.



O que será tal coisa – essa “governança” – que os afegãos (ou, sabe-se lá, talvez também nós!) têm de construir e que, além disso, também tem de ser transparente, estável, controlada, competente, representativa, coercitiva? Um fato nacional, algum nacionalismo, um bem moral, a cura da corrupção, um processo?



Às vezes, “estado”, “governo” e “governança” parecem ser diferentes nomes para a mesma coisa. Às vezes, “governança” parece ser metade de uma dupla de cantores: “governança e o império da lei”; outras vezes, de um trio: “segurança, desenvolvimento econômico e governança”, que seria objeto de atenção compreensiva dos “3 D”, “Defesa, Desenvolvimento e Diplomacia” – o que implicaria que “governança” teria alguma coisa a ver com serviço exterior. Assim indecifráveis, esses discursos são indestrutíveis.



 Diferente do que se vê acontecer com os discursos contemporâneos, em 1868 foi possível derrotar as opiniões de Rawlinson. Sir John Lawrence, vice-rei recém nomeado, convenceu o governo de Lord Derby de que o Afeganistão era menos importante do que fora pintado, que os recursos dos ingleses eram limitados e que havia outras urgências às quais atender.
 
 
 Aqui, num rascunho que escreveu fora do serviço militar, em 1867 (encontrei esse parágrafo no livro Tournament of Shadows de Karl Meyer e Shareen Brysac), ele imagina o que aconteceria se os russos decidissem invadir o Afeganistão:



“Nesse caso, que se ponham a vagar pelas exaustivas trilhas entre o [rio] Oxus[3] e o [rio] Indus; que andem por aqueles países tão pobres e tão difíceis, daquelas populações fanáticas e valentes, por terreno em que, em alguns pontos, cada milha será transfigurada em posição de defesa; então terão de resolver o conflito do qual dependerá o destino da Índia, exauridos, com uma infantaria exausta, uma cavalaria destroçada e uma artilharia inutilizada.”



E Lawrence conclui:



“Estou firmemente convencido de que o melhor caminho para nós é não avançar além de nossa atual fronteira, não mandar soldados e oficiais ingleses para diferentes Estados da Ásia Central; em vez disso, melhor faremos se pusermos em ordem nossa casa, oferecendo aos indianos o melhor governo que saibamos fazer, conciliando na medida do que seja viável todas as classes e consolidando os nossos recursos.”



Lawrence não se dedica a tentar adivinhar o que os russos pensam fazer no Afeganistão. Nem se ocupa com refutar a visão de estabilidade de Rawlinson, suas teorias econômicas, justificativas morais ou sua concepção do que seja responsabilidade moral. Um funcionário público de nossos dias, talvez editasse o argumento de Lawrence nos seguintes termos:



A presença das forças especiais da Otan, as condições políticas e logísticas desafiadoras no Afeganistão e a falta de capacidade tecnológica provavelmente inviabilizarão qualquer situação em que a al-Qaida no Afeganistão implique ameaça significativa à segurança nacional dos EUA ou do Reino Unido. Não a Al-Qaeda, mas o desenvolvimento do sul da Ásia, deve ser mantido como prioridade estratégica chave do governo inglês para a Região.



Talvez haja quem espere de Lawrence, vice-rei da Índia, visão mais confiante ou mais arrogante do poder dos ingleses, do que a visão os políticos de hoje. De fato, Lawrence sabia que o governo inglês não tinha poder, não tinha conhecimento (embora ele e seus companheiros tivessem décadas de serviço na fronteira afegã) nem tinha legitimidade (escreveu que “os afegãos não nos querem por lá; temem que apareçamos (…) e em nenhum caso aceitarão ser governados por estrangeiros”).



Mas, de fato, é pela arte e ritmo de sua prosa, muito mais do que pelo peso dos argumentos, que Lawrence mina todas as fantasias de que o Afeganistão seria ameaça ao ocidente.



A sinédoque ‘o Oxus e o Indus’ enfatiza (para o burocrata inglês que o leria) a natureza desconhecida e pouco amigável da paisagem; o arcaísmo (NT*) ilustra as rotas e riscos; as repetições 'encenam' a jornada cansativa e entediante. As potências políticas e religiosas da resistência são oferecidas como num palco (em que as coisas se transfiguram) que oculta perigos a cada milha (“cada milha será transfigurada em posição de defesa”); e sugere divisões internas, sem as afirmar (o Afeganistão é referido não como um único Estado, mas como “aqueles países”).



O subjuntivo concessivo (“que se ponham a vagar”) assume que não há como prever o que virá. Não há aí nenhum esforço para simular a marcha dos russos; aí apenas se mostra que ninguém, em nenhum caso, escapará ao que encontrará no Afeganistão; no fim da frase, o exército russo já está reduzido a um bando de farrapos (“infantaria exausta, cavalaria destroçada, artilharia inutilizada”) que ninguém consideraria como grave ameaça ao mundo ocidental.



O argumento é contingente, cauteloso, empírico, local, pensado para local e tempo determinados. Reconhece que Rússia e Afeganistão, de fato, não ameaçavam o Império inglês; reconhece, sobretudo os limites do poder e da capacidade dos ingleses.



É discurso em tudo diferente dos discursos grandiloquentes, hoje, de Obama, de Brown. O Afeganistão, outra vez, não ameaça, de fato, o ocidente: por isso, também, a guerra contra o Afeganistão é guerra que o ocidente não conseguirá vencer.



 *Rory Stewart é professor de Direitos Humanos e diretor do Carr Center de Políticas de Direitos Humanos, em Harvard. Biografia interessantíssima em http://en.wikipedia.org/wiki/Rory_Stewart.



Este artigo foi publicado originalmente no London Review of Books, vol. 31, n. 13, http://www.lrb.co.uk/v31/n13/stew01_.html, reproduzido em The Telegraph, Londres, em http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/asia/afghanistan/5797197/Afghanistan-a-war-we-cannot-win.html. Tradução de Caia Fittipaldi



1] Leis implantadas no Paquistão em 1979, como parte do processo dito de 'islamização'; foram revistas e substituídas em 2006, pela Lei de Proteção às Mulheres. Para saber mais, ver http://en.wikipedia.org/wiki/Hudood_Ordinance.



[2] 27/3/2009, “Nova Estratégia para o Afeganistão e Paquistão”, em http://www.whitehouse.gov/blog/09/03/27/A-New-Strategy-for-Afghanistan-and-Pakistan/



[3] Para saber mais sobre esse rio (hoje, rio Amu Darya) que tem história milenar, ver, interessante, http://www.iras.ucalgary.ca/~volk/sylvia/OxusRiver.htm



*NT.: O arcaísmo (wend), infelizmente, se perdeu na tradução. Orig. (ing.): In that case let them undergo the long and tiresome marches which lie between the Oxus and the Indus; let them wend their way through poor and difficult countries, among a fanatic and courageous population, where, in many places, every mile can be converted into a defensible position; then they will come to the conflict on which the fate of India will depend, toil-worn, with an exhausted infantry, a broken-down cavalry, and a defective artillery.