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Manifestantes pró-Zelaya fecham vias de acesso a Honduras

Sem avanços nas negociações intermediadas pela Costa Rica, os simpatizantes do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, apostam agora na mobilização popular e na pressão econômica dos países vizinhos para restituir o líder democraticamente eleito

“Fecharemos as vias de acesso para El Salvador e Nicarágua; com a Guatemala não houve comunicação”, disse ontem Israel Salinas, secretário-geral da Confederação Unitária de Trabalhadores de Honduras (CUTH). O país faz fronteira com Guatemala, El Salvador e Nicarágua, os dois últimos governados por presidentes de esquerda.

“Também haverá ocupações nas cidades de Tegucigalpa, San Pedro Sula e La Ceiba, entre outras.”Salinas, integrante da comitiva que acompanhou Zelaya à Costa Rica na semana passada, disse que o fechamento temporário das fronteiras será feito em coordenação com organizações sociais salvadorenhas e nicaraguenses.

Em Manágua, começou ontem um congresso de movimentos sociais da região para discutir, entre outros temas, o fechamento permanente das fronteiras com Honduras. Membros da Aliança Social Continental anunciaram que também pretendem bloquear, na Guatemala, em El Salvador e na Nicarágua, os caminhos até Honduras, como forma de solidariedade aos hondurenhos.

Pelas ruas de Tugucigalpa, correm rumores de que o Ministério Público teria emitido
ordem de detenção contra os principais líderes do movimento popular de resistêrncia ao golpe. Por conta da manifestação prevista para hoje, o governo de facto de Honduras restabeleceu ontem à noite o toque de recolher, que havia sido suspenso no domingo passado. 

Em cadeia nacional, as autoridades interinas anunciaram que o toque de recolher começaria à meia-noite de quarta-feira (3h no horário de Brasília) até 5h desta quinta (8h em Brasília).


“Em vista das contínuas e abertas ameaças por parte de grupos que buscam provocar distúrbios e desordem em alguns lugares de nosso país, e para dar segurança e proteção a todas as pessoas e seus bens, o governo interino resolveu instaurar o toque de recolher”, disse o anúncio.

Zelaya passou os últimos três dias na Guatemala e na Nicarágua, país governado pelo aliado Daniel Ortega. Em Manágua, o presidente deposto montou seu escritório num hotel ao lado do aeroporto internacional.

Nos últimos dois dias, teve a companhia do chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, e de outros funcionários de Hugo Chávez. A estreita ligação de Zelaya com Chávez parece ter sido um dos estopins para o golpe de Estado que o derrubou no dia 28.

O Governo costarriquenho confirmou nesta quinta-feira a presença das delegações de Zelaya, e do presidente em exercício, Roberto Micheletti, à segunda parte do diálogo que busca uma solução para a crise política do país. As duas delegações se sentarão à mesa de negociação, que acontecerá de novo na residência particular do presidente Óscar Arias da Costa Rica, a partir do sábado.

O grupo que representará Zelaya será formado por Arístides Mejía, ex-ministro da Defesa; Milton Jiménez, ex-chanceler, e Enrique Flores Lanza, ex-ministro da Presidência. Já a delegação de Micheletti terá o novo chanceler, Carlos López; o empresário e ex-ministro, Arturo Currais; Mauricio Villeda, ex-pré-candidato à Presidência pelo Partido Liberal, e Vilma Cecilia Morales, ex-presidente da Suprema Corte de Justiça.


Na segunda-feira, Zelaya afirmou que, se não houver um acordo para a sua reintegração nesta semana, ele abandonará as negociações.

Apesar da intensa pressão diplomática internacional, Honduras até agora não vem tendo problemas de desabastecimento. Mesmo nos dias mais tensos, o comércio abriu as portas. Apesar dos rumores de que poderia haver falta de combustível, os postos vêm funcionando normalmente.

As fronteiras de Honduras são bastante povoadas e têm um tráfego intenso de pessoas e de produtos. Vinte e dois por cento das importações do país e 17% de suas exportações são feitas com os vizinhos.

Renúncia só sob condições

Ontem, Micheletti admitiu a possibilidade de renunciar ao seu cargo como solução para a crise, mas apenas se isso não significar a volta de Zelaya ao poder. “Para que haja paz e tranquilidade no país, sem o retorno, que fique bem claro, sem o retorno do ex-presidente Zelaya, estou disposto a fazê-lo (renunciar)”, disse.

Números de uma pesquisa Gallup, divulgada ontem pela Associated Press, mostram que Zelaya é mais popular no país do que Micheletti. Segundo o levantamento, 46% apoiam o presidente deposto, contra 30% para o interino.

EUA: empurrar com a barriga até as eleições

Aumentou a pressão de ambos os lados da crise política hondurenha por uma posição mais definida da Casa Branca de Barack Obama. Ontem, um grupo de políticos hondurenhos pediu que Washington aplique sanções econômicas ao regime golpista de Roberto Micheletti.

Encabeçado pelo deputado Marvin Ponce, da esquerdista Unión Democrática, o ex-candidato à Presidência Juan Almendares, do mesmo partido, e o advogado Jari Dixen, o grupo fez denúncias de violação de direitos humanos ao se encontrar com funcionários do Departamento de Estado e falar a membros do Congresso.

Dixen narrou que a polícia local metralhou a porta e invadiu a casa de sua mãe -que teria apanhado- e prendeu seu irmão depois de ter ido ao ar em Honduras uma entrevista dada por ele em que criticava o governo golpista.

A paralisia dos EUA levará a “uma guerra civil”, disse Ponce. “A única forma de os golpistas cederem será sob pressões econômicas.” Os EUA poderiam fazer isso invocando uma cláusula do Tratado de Livre Comércio com a América Central (Cafta), do qual ambos os países fazem parte, argumentou, ou retirando seu embaixador de Tegucigalpa, como fizeram outros países das Américas.

O governo Obama hesita em ir além da condenação pública e de acatar a suspensão de Honduras pela OEA (Organização dos Estados Americanos), como vem fazendo até agora. O argumento é o de que “continua a acreditar que (a crise em Honduras) pode e deve ser resolvida por canais diplomáticos”.

Maurício Cárdenas, especialista em América Latina do Instituto Brookings, centro de
pensamento simpático ao governo Obama, disse que a Casa Branca não recuará da posição inicial, seguirá a lei e respeitará as visões dos países-membros da OEA. “Se essas visões são de que Zelaya deve retornar em breve, então serão as que os EUA apoiarão.”

Dito isso, segundo Cárdenas, “eu não me surpreenderia se essa situação se mantiver sem solução nos próximos meses e que a única solução seja realizar eleições, que estão marcadas para novembro”.

Com agências