Crise será superada, mas é parte do capitalismo, diz comunista
Renildo Souza, membro do Comitê Central do PCdoB e especialista em economia, foi o responsável por apresentar aos alunos do curso de nível 3 da Escola Nacional o documento-base sobre a crise capitalista, que faz parte das discussões do 12º Congresso
Publicado 23/07/2009 18:10
“Temos uma crise de grande extensão e profundidade. Cerca de oito trilhões de dólares se evaporaram na riqueza das famílias desde o terceiro trimestre do ano passado até maio; 80 bancos foram fechados nos EUA desde 2007; o desemprego atingiu 9,5% nos EUA e na zona do Euro no primeiro semestre e 8,5% na América Latina. Essa é a dimensão da destruição dessa crise”, exemplificou Renildo Souza. “A lenda do mercado autorregulado conduziu ao desastre”, disse, citando documento-base.
A partir dessa análise inicial, Souza partiu para a diferenciação entre as concepções econômicas. Para os neoliberais (pensamento neoclássico), “a produção cria seu mercado”. Seus pilares são “a impossibilidade de superprodução geral, o equilíbrio geral dos mercados e a auto-regulação dos mercados”.
Falando dos keynesianos, Souza destacou que, segundo tal linha de pensamento, “a crise é possível, porém evitável pela intervenção do Estado, que preservaria o capitalismo”. Já para os marxistas, “a crise é intrínseca, inevitável e periódica e é imposta pelas próprias contradições da acumulação capitalista”. No sistema, “o lucro é a sua finalidade e se choca com as necessidades sociais e do meio ambiente; trata-se da necessidade inevitável de aumentar a produção pela produção e de explorar a mais-valia dos trabalhadores”.
As faces da crise
Souza apontou como quatro os conjuntos de características fundamentais da fisionomia da crise atual: revés da dominância financeira e insolvência latente dos mercados financeiros internacionais; recessão, queda dos preços e dos investimentos, desemprego; falência da política de liberalização econômica, comercial e financeira; aprofundamento do declínio relativo da economia dos Estados Unidos e nova divisão internacional do trabalho, com destaque para a China.
Resultante da dominância financeira, a recessão surge, conforme apontou o dirigente, de “décadas de liberalização, hipertrofia e especulação da finança; da exacerbação do peso do capital fictício na dinâmica do capitalismo contemporâneo; da unidade dialética entre esferas da produção e da finança; da inviabilidade da contínua e expansiva punção da mais-valia para remunerar a especulação financeira; da maior polarização entre miséria e riqueza e da dominação da oligarquia financeira”.
“O Estado capitalista intervém para salvar o capitalismo”, disse Souza, para lembrar que a crise atual deixou isso ainda mais latente. “Vimos a desmoralização do neoliberalismo a partir da necessidade da intervenção do Estado na economia, com trilhões de dólares, para socorrer o mercado ‘livre, autoregulado e eficiente’”.
Souza reafirmou ainda o aspecto mais cruel da crise. “Quem mais sofre seus efeitos são os trabalhadores por causa do desemprego, dos cortes de salários e do cancelamento de direitos trabalhistas”. Por outro lado, apontou que para “salvar” a economia, os governos dos EUA e da Europa “lançaram pacotes trilionários voltados para bancos e empresas, sem contrapartida na garantia do emprego dos trabalhadores”. Por isso, para ele é essencial que haja “pressão política e mobilização dos trabalhadores em defesa dos seus direitos” no sentido de se garantir “o socialismo como alternativa ao capitalismo e suas crises”.
De São Paulo,
Priscila Lobregatte
Leia aqui a tese sobre a crise do capitalismo