Os índices são reveladores da condição da mulher negra

Por Eliane Costa*


 


O Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, 25 de julho, foi instituído em 1992 como uma forma de alertar o mundo para a situação de desigualdade em que vivem, sofrendo com a discriminação de gênero e ra

No mercado de trabalho, por exemplo, as mulheres negras detêm as maiores taxas de desemprego e permanecem mais tempo desocupadas. As negras chegam a receber rendimentos 55% menor que os salários das mulheres brancas e constituem a maioria das trabalhadoras do mercado informal. Além disso, exercem as ocupações consideradas de menor qualificação, como a de trabalhadora doméstica.


 


Os dados da Região Metropolitana de Salvador (RMS), onde segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/2007)  as mulheres representam 52,4% da população e  dentre estas, aproximadamente 81,9% são negras e pardas, dão um exemplo desta desigualdade.  Na região, o emprego doméstico é uma das principais formas de inserção no mercado de trabalho das mulheres negras, representando 22% do total, segundo dados do IBGE. Vale ressaltar, que no emprego doméstico, persiste ainda um elevado percentual de contratações não formalizadas, onde os trabalhadores não têm carteira assinada nem seus direitos assegurados.


 


No mercado formal, as negras seguem em desvantagem. Na RMS, existe uma diferença significativa entre a remuneração média das mulheres brancas (4,6 salários mínimos) e o das mulheres negras (1,9 salário mínimo). A diferença salarial é reflexo da condição de pobreza em vivem a maioria das negras, que por isso não têm acesso à educação de qualidade e não conseguem ascender profissionalmente.
 


 
A falta de acesso a serviços de saúde de qualidade é outro problema enfrentado pela maioria das mulheres de Salvador, onde a taxa de mortalidade materna é muito elevada. Segundo pesquisas realizadas pelo Programa de Estudos em Gênero e Saúde do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (MUSA/ISC/UFBA), em Salvador ocorrem cerca de 100 mortes maternas por 100.000 nascidos vivos, por causas relacionadas à falta de acesso e serviços de pré-natal, parto e pós-parto. 98% dessas mortes poderiam ser evitadas, através de um maior acesso às informações, da utilização de métodos contraceptivos e de um pré-natal de qualidade.
 


Segundo a mesma pesquisa, este alto índice de mortalidade materna atinge principalmente mulheres jovens, de baixa escolaridade, em sua maioria negras, ocupadas em atividades como faxineiras, trabalhadoras domésticas, manicures, dentre outras profissões precárias, residentes principalmente nos bairros da periferia.


 


Sem acesso aos serviços básicos, como saúde e educação, vítimas da mortalidade materna, da violência e discriminada no mercado de trabalho, a mulher negra também está sub-representada nos espaços decisórios na sociedade. A Bahia é o maior estado negro do Brasil, mas não elege mulheres negras deputadas estaduais e federais. Na Câmara de Vereadores de Salvador são apenas seis vereadoras e só duas negras. A baixa presença das mulheres negras nas estruturas de poder político, que são os espaços que podem definir mudanças mais significativas, dificultam o enfrentamento à desigualdade para reverter a situação


 


Em síntese, apesar de todos os avanços ocorridos na sociedade brasileira, a condição das mulheres negras ainda é preocupante, persistindo a discriminação de raça e gênero. Em pleno o século 21, esta população ainda é carente de políticas públicas que contribuam na superação da pobreza e da exclusão social. Ainda é preciso lutar por igualdade de oportunidades na educação, saúde, no mercado de trabalho e nos espaços de poder. Por isso, o 25 de julho continua sendo uma data muito importante e que deve ser lembrada não apenas pelas mulheres negras, mas por toda a sociedade.


 
Eliane Costa é jornalista