MG: Eleitos novos prefeitos em pleitos fora de época devido a fraudes
SALTO DA DIVISA – Quatro anos e seis meses depois de ser derrotada nas eleições municipais, a família Cunha Peixoto retomou a Prefeitura de Salto da Divisa, no Vale do Jequitinhonha, resgatando a força do velho coronelismo na região.
Publicado 27/07/2009 15:38 | Editado 04/03/2020 16:51
Com uma vantagem de pouco mais de 300 votos, que correspondem a 10% do eleitorado, Ronaldo Athayde da Cunha Peixoto (DEM) teve 2077 votos (54,53%) entre os 4.341 eleitores e derrotou ontem a candidata do PMDB, Clélia Peixoto Miranda da Cunha (1.932 votos), que tentava dar sequência à administração do marido, o ex-prefeito José Eduardo Peixoto, o pivô do imbróglio que provocou a nova eleição.
Neto de Orozimbo e filho de José Messias da Cunha Peixoto, dois coronéis que marcam a história política de Salto, na divisa com a Bahia, Ronaldo chegou à prefeitura depois de ter sido derrotado nas eleições de outubro de 2008 por José Eduardo, que é seu primo, porém rival. Devido a problemas nas contas públicas, José Eduardo teve a sua candidatura impugnada, o que provocou a anulação do pleito.
Com a vitória, Ronaldo saiu às ruas, já da porta de casa, para comemorar o retorno dos Cunha Peixoto à prefeitura, desde que o primo Marcos tentou a reeleição e também perdeu para José Eduardo, em 2004. “Agora é que começa o nosso desafio. Espero contar com a ajuda de Deus para fazer justiça ao povo”, afirmou o prefeito eleito, que promete não retaliar os adversários, conforme reza uma tradição em Salto. A diplomação de Ronaldo, que tem como vice Antônio de Pádua Sebastião Pimenta, da coligação DEM/PR/PSDB, está prevista para acontecer até o dia 18 de agosto.
Além de Salto da Divisa, quatro outras cidades mineiras eleições extemporâneas ontem. Em Mata Verde (Vale do Jequitinhonha), Irone Bento Dias (PMDB) saiu vitorioso com 2.414 votos (50,80%); em Carmo do Paranaíba (Alto Paranaíba), Helder Costa (DEM) foi eleito com 8.713 votos (50,85%). Em Ipiaçu (Triângulo) a vitória foi de Urbino Capanema Jr. (PPS), que teve 1.904 votos (60,22%). E em Cachoeira Dourada, também no Triângulo, Walter Pereira Silva (PSDB) se elegeu com 1.252 votos (53,64% do total).
Em Salto da Divisa, diferentemente do que aconteceu até sexta-feira, no último dia de uma campanha marcada pela presença agitada e festeira do povo nas ruas, as 36 horas que antecederam o anúncio da vitória do novo prefeito revelaram um saltense mais furtivo, vigilante ao caçador de votos. Na reta final, os dois candidatos já tinham uma projeção dos números que poderiam obter do eleitor residente no município, mas nenhum controle confiável sobre os flutuantes, aqueles que têm domicílio eleitoral em Salto, mas moram fora da cidade e praticamente só aparecem em época de eleição e têm voto incerto. Justamente 12% do eleitorado cadastrado.
É sobretudo em cima deste pequeno mas decisivo potencial de votos que os dois candidatos concentraram seu poder de fogo na reta final das eleições. Sinônimo de muito trabalho para os olheiros das duas coligações e para as polícias Militar e Civil, que montaram um esquema especial para coibir a compra de votos. “Vocês serão os meus soldados, fiscalizando cada ação do adversário”, conclamou Ronaldo aos aliados, na véspera do pleito. “Vamos ter de nos desdobrar para conter a fúria do outro lado”, contrapôs Clélia ao seu grupo.
Mas mesmo com a presença ostensiva da polícia, o saltense voltou a invadir as ruas ontem, ocupando o tempo todo os arredores dos três locais que abrigaram as 17 seções eleitorais. Nas filas, ninguém escondia o seu voto. Divididos entre as cores laranja, do PMDB, e verde, do DEM, os eleitores declaravam seu voto por meio de pulseiras, lenços na cintura e no pescoço, bonés e camisetas. Até um vira-lata teve um lenço laranja amarrado no pescoço. “Aqui, cachorro tem de acompanhar a vontade do dono”, sentenciou José da Silva Souza, 77 anos, “largado”, 25 filhos. Ele é natural de Ribeira, distrito de Itapebi (BA), mas há 58 anos mora e vota em Salto.
Na porta dos locais de votação, tinha sempre um fiscal laranja ou verde abordando o eleitor. “Já votou?”, perguntou Geraldo Rodrigues. “Já”, respondeu Pedro Nazaré. “Então, se já votou, acabou o valor”, retrucou Geraldo, atento aos movimentos de cada saltense na hora de votar.
Nesta disputa, que equivale a administrar, em 2009, um orçamento anual de R$ 17 milhões, à frente de um município de 6.896 habitantes carentes de todo o tipo de infraestrutura, os dois candidatos investiram algo em torno de R$ 2 milhões na campanha. Proveniente principalmente da doação de grandes fazendeiros – da região e até de fora do Estado -, a cifra corresponde a 5,7 vezes a folha de pagamento mensal da prefeitura, ontem de R$ 347 mil, para um total de 600 funcionários, dos quais apenas 82 efetivos.
Responsável pela informação: Jornal Hoje em Dia