Uma nova geografia da cidade de Teresina

O artigo do professor de Geografia da Universidade Federal do Piauí, Antônio Façanha, reflete sobre a nova geografia da cidade de Teresina.

Gostaria de refletir sobre as comemorações dos 157 anos da cidade de Teresina trazendo uma pergunta para ser lançada e refletida por todos que produzem e vivem nesta cidade. A pergunta é: existe uma nova Geografia da cidade de Teresina?

Sim. Uma Geografia que impõe mudanças no cotidiano de quem vivencia na área central da cidade, em que são postos em cena na cidade a degradação diária do patrimônio histórico repleto de sentidos de vidas antigas e que hoje se dissolvem na ânsia dos interesses privados que conseguem demolir e desaparecer as marcas de uma história urbana contida nas fachadas de casas residenciais e na memória de seus habitantes.

Sim. Uma Geografia do Presente marcado pelas cenas de violência cotidiana que se espalham em todas as direções da cidade, seja nos bairros mais distantes da área central, seja nos bairros dotados de equipamentos sociais “luxuosos”, modificando as relações comportamentais entre moradores que se escondem ou se isolam na ilusão de estarem aumentando os seus mecanismos de segurança da vida diária através de cercas elétricas e de “pitbus urbanos”, criando o comportamento frequente de olhar o outro sempre com desconfiança. O medo é da cidade e está na cidade.

Sim. Uma Geografia dos Conflitos pela terra que ocorrem de forma silenciosa em algumas áreas da cidade, em especial nos bairros que recebem intervenções urbanas orientadas para a concentração de populações de alto poder aquisitivo. Mas existem outras áreas da cidade nos diversos cantos da cidade em que a luta pela terra está associado a luta pela moradia, na busca de que o acesso a terra e a construção da casa seja apenas um começo para uma moradia digna e portadora de equipamentos sociais, culturais e humanos.

Sim. Uma Geografia que revela uma cidade moderna vista através dos edifícios concentrados no entorno dos shopinges centers ou em condomínios residenciais localizados em bairros no limite do urbano e em direção ao rural de Teresina. Essa Geografia do moderno está articulada a uma Geografia do consumo presente nas lojas e nas marcas “estranhas” a nossa realidade e que põe Teresina em um mundo “globalizado” através da venda de carros importados ricos em designers de conceitos que podem ser facilmente vistos nas “avenidas vitrines” da cidade.

Sim. Uma Geografia da Periferia que está distante de “tudo”, mas que mostra sinais vivos de resistências na luta da construção da vida diária, revelando cooperação e laços de solidariedade para enfrentar os obstáculos impostos por uma fração da sociedade urbana orientada pelo mercado que tenta excluir e distanciar uma parcela significativa da população da cidade.

Sim. Uma Geografia do Meio Ambiente que recentemente mostrou a incapacidade da cidade de conviver com fortes chuvas, pondo em risco a vida de todos os seus habitantes, sem distinção de lugar. Uma cidade que se espalha horizontalmente e que aniquila com as áreas verdes e agrava a qualidade da vida urbana. Uma cidade vista pelo cotidiano da sociedade local que marca a luta diária pelo trabalho e que revela sinais de limitação dos espaços verdes, da ineficiência na gestão de parques ambientais, do aumento do clima urbano e da perda das amenidades na cidade.

Sim. Uma Geografia da Cidade que cada vez mais se distancia da implementação de uma gestão urbana democrática e que de fato viabilize os instrumentos do Estatuto da Cidade. É uma cidade marcada pela ausência de medidas de gestão e de planejamento que concretamente pense a cidade para os próximos cinco ou dez anos e não somente para os períodos que antecedem as eleições municipais ou estaduais. É preciso efetivar a construção de uma legislação municipal que seja austera com quem tem muito e justa para com quem tem pouco.

A cidade de Teresina em seu aniversário indica que é preciso e necessário reconstruir uma nova Geografia em que valorize a gestão urbana participativa e que avance na elucidação de seus problemas sociais, culturais, políticos e ambientais em prol do bem comum. A Geografia da Cidade muda e precisa ser apoiada em uma Geografia de valorização do passado com um olhar para o presente e em busca de uma Geografia que seja capaz de antecipar as mudanças espaciais em curso.

Por Antônio Façanha