José Reinaldo de Carvalho: “Não há nação forte sem um povo forte”

O Comitê Municipal do PCdoB de Fortaleza realizou na noite desta quarta-feira (02 de setembro) um encontro para debater os novos rumos do Partido no Brasil. José Reinaldo de Carvalho, Secretário de Relações Internacionais do PCdoB, falou para filiados e militantes que estavam presentes no auditório da Casa Amarela Eusélio Oliveira.

Palestra José Reinaldo Carvalho

Luis Carlos Paes, presidente do Comitê Municipal do PCdoB de Fortaleza, abriu as discussões ressaltando que o objetivo do encontro era aprofundar os temas relativos ao 12º Congresso do Partido. O dirigente informou que até o último final de semana, só em Fortaleza, já participaram das discussões cerca de 1.500 pessoas. “Estes debates são fundamentais, pois vão orientar a militância nos próximos anos. As discussões levantadas no Congresso apontam os novos rumos para o Socialismo no país”, reforçou.

Com o tema “O novo programa socialista e o caderno de teses do12º Congresso do PCdoB”, José Reinaldo de Carvalho também salientou a importância desta etapa de encontros e debates na vida partidária. “Este é o momento mais alto da militância na vida do Partido. É agora que o militante tem mais influência política e estende a sua atuação, pois neste momento ele também se prepara para o embate das próximas eleições”, destacou.

A recente filiação do delegado da Polícia Federal, Protógenes Queiroz também foi assunto no debate. “O delegado enfrentou Daniel Dantas, um dos maiores vigaristas do país, que manipulou dirigentes de todas as esferas do poder público brasileiro. A ideologia e a história do PCdoB o fizeram optar por nosso Partido. Mas todo este caminho trilhado pelo PCdoB vem da militância de cada camarada”, ratificou José Reinaldo Carvalho.

Capitalismo X Socialismo

Carvalho afirmou que o Capitalismo é um sistema historicamente esgotado, pois vive em sucessivas crises. “Entre uma e outra, ele revela a capacidade de regeneração, mas não de reconstrução. Isto não resolve o problema”, considerou. Para o comunista, a crise atual mostra isto. “Ela atinge os trabalhadores, diminui os salários e também os investimentos, traz efeitos negativos para todos, em todas as esferas. O Capitalismo não tem mais serventia”, avaliou.

José Reinaldo de Carvalho afirmou que o sistema capitalista do Brasil se desenvolveu de forma tardia. “Isso também aconteceu com muitas adaptações. Ele veio como um Capitalismo submisso ao capital internacional”. Segundo o secretário, atualmente o Brasil é um país maduro capaz de passar para outra etapa: “O Socialismo é a nossa meta e o nosso objetivo programático. Precisamos libertar o país da influência externa”, ratificou.

O dirigente foi enfático ao afirmar que o Socialismo não é uma utopia. “Ele será resultado do agravamento social, político e econômico. Sabemos, porém, que este será um trabalho complexo, com luta difícil e sinuosa, mas com possibilidade real de êxito”. Carvalho considera que, as experiências históricas de outros modelos socialistas são exemplo de que o Socialismo não é utópico.

José Reinaldo de Carvalho afirmou que as experiências socialistas passadas foram consideradas e as lições retiradas desta análise já constam no caderno de teses para o 12º Congresso do PCdoB. “Consideramos, por exemplo, que não há modelo único para o Socialismo; não há passagem abrupta na troca entre os sistemas capitalista para o socialista; é preciso implantar a democracia e reforçar o poder popular”, citou. Para o secretário, conseguir implantar o sistema socialista no Brasil será uma tarefa árdua através da luta de classes. “Só se chega ao Socialismo com a união do povo, com a unidade política das classes populares”.

Um salto para o Brasil

O Secretário de Relações Internacionais do PCdoB fez um apanhado da evolução política brasileira destacando dois importantes saltos: “O primeiro foi a constituição da nação, como Estado independente, em meados do século XIX; o segundo surge com a Revolução de 30 e o ingresso do país na industrialização”. Carvalho alertou que os avanços civilizacionais também surgiram de forma contraditória. “Junto com a Abolição da Escravatura, surge o império reacionário; a República traz os coronéis, as oligarquias e as ditaduras militares. O Brasil precisa dar um terceiro salto de qualidade: o Socialismo. Nunca fizemos uma ruptura definitiva com as classes dominantes. O embate político e social pode abrir este caminho”.

José Reinaldo Carvalho destacou que o novo programa sugerido no caderno de teses do 12º Congresso entrelaça os níveis democrático, nacional e popular. “As instituições permanentes do país são antidemocráticas, antinacionalistas e antipopulares. Para isto, basta citar o monopólio da terra e a dependência brasileira em relação a outros países”.

O secretário considera este o momento ideal para uma mudança no cenário brasileiro. “Após os dois mandatos do Governo Lula, o cenário é favorável para a implantação do novo modelo socialista. As forças democráticas podem passar à ofensiva, o povo acumulou forças e tem uma consciência democrática mais firme. Esta é a hora de darmos o salto histórico que o Brasil precisa com o Novo Plano Nacional de Desenvolvimento (NPND)” ratificou Carvalho.

José Reinaldo afirma ainda que “não há nação forte sem um povo forte. É preciso lutar por reforma agrária, valorização do trabalho e maior distribuição de renda. Não isolaremos a questão nacional da questão popular”.

O Brasil no cenário mundial

Segundo o secretário, atualmente o Brasil joga papel ativo nas correlações de forças internacionais. “No momento em que os Estados Unidos exibem sinais de decadência, a China e a América Latina emergem, o Brasil passa a ser exemplo de como conduzir o país com responsabilidade. Vejo que nosso país tem grandes condições de contribuir para uma mudança efetiva neste novo mundo”, avaliou.

Mas para isso, segundo Carvalho, é preciso ter um povo organizado em luta e mobilizado. “Precisamos de um partido de vanguarda, que mantenha viva sua história, com ideologia. Tenhamos sempre presente a memória de pessoas que lutaram por dias melhores, como o cearense Bergson Gurjão. Com as propostas do próximo Congresso, imagino que o Partido Comunista do Brasil possa jogar um papel decisivo no cenário nacional”.

O debate

O presidente do Comitê Estadual do PCdoB, Carlos Augusto Diógenes (Patinhas) reforçou a importância do Congresso para o Partido, pois ele irá atualizar o programa anterior e irá debater os novos rumos do PCdoB e do Brasil. O dirigente comunista destacou ainda o funcionamento das bases na construção do coletivo. “Nosso Partido é o único no país que atua nas bases e é isto que o torna forte”, avaliou.

Patinhas afirmou ainda que, no processo do Congresso, onde se pensa o futuro do país, a identificação dos restos mortais de Bergson Gurjão proporciona a retomada da história partidária. “Este resgate nos mostra a força do PCdoB, partido coerente, de história, de lutas, quase secular. Espero que este resgate mostre, não só a nós mas a todos, a importância que o partido tem na história do país”, reforçou.

De Fortaleza,
Carolina Campos

Fotos: Arlindo Barreto