BA: Novo secretário anuncia ações do governo para a Copa 2014

À frente da secretaria extraordinária para assuntos ligados à Copa do Mundo de 2014, Ney Campello falou ao Vermelho sobre os projetos e metas do Governo da Bahia para o mundial de futebol. “Cada equipamento e ação que envolve a Copa tem que estar integrada a um projeto de desenvolvimento econômico e social”, pontuou.

Em pauta, mobilidade urbana, geração de emprego e renda, desenvolvimento da rede hoteleira, qualificação profissional, segurança pública e investimentos no esporte escolar. “É preciso pensar a Copa nessa coordenação de esforços para que o evento esportivo deixe um legado que, de fato, impacte a vida das pessoas e a própria economia da cidade e do estado”, reiterou. Confira a entrevista na íntegra:

Vermelho – Qual a principal linha de atuação da Secopa?

Ney Campello – A Secopa é, sobretudo, uma secretaria de articulação multidiscipliar de todos os entes governamentais que atuarão em colaboração para a preparação e realização da Copa de 2014. Nós pretendemos que a Copa se constitua, enquanto evento esportivo, num evento muito bem preparado, organizado e realizado em Salvador. Mas a Copa é mais que um evento esportivo; ela tem também um caráter de contribuição para a requalificação urbana da cidade. Nós trabalhamos numa análise de infra-estrutura, de mobilidade urbana, de geração de trabalho, emprego e renda, de atração de investimentos. Ela precisa ser, portanto, um grande ambiente de negócios para que o Estado da Bahia se beneficie; o que a gente chama de ‘os legados da Copa’, o que ela vai deixar para a cidade.

V – Em seu discurso de posse, você fala da relação da Secopa com a economia baiana e a educação. Como se dará essa vinculação?

NC – A Copa vai facilitar a atração de investimentos federais em termos de infra-estrutura urbana; na BR 324 e na BA 093, que são as portas de entrada da cidade; no funcionamento do metrô e da sua continuidade; na adoção de um sistema de transporte de massa de alta velocidade; na integração multimodal dos transportes que vão, inclusive, levar até o estádio. São ações que vão interferir diretamente na economia da cidade, na revitalização e reforma da rede hoteleira, já que a hospitalidade é um aspecto de centralidade da Copa. Tudo isso concorre no desenvolvimento da economia, mas o pensar a Copa é também no que ela agrega de valor, no que ela deixa pra cidade e pros cidadãos e cidadãs que residem em Salvador e no seu entorno. Aliás, digo de passagem que a Copa não pode ser pensada apenas como a Copa da sede Salvador, mas precisa expressar o compromisso com todo o estado; precisa ser uma Copa que deixe resultados pra toda a Bahia de modo que, no campo da educação, por exemplo, é possível que contribua muito para uma política de desenvolvimento do esporte escolar. O chamado esporte de alto rendimento precisa ser iniciado com a valorização do desenvolvimento integral do cidadão já na escola, na educação infantil e no ensino fundamental, promovendo jogos, olimpíadas, reformando equipamentos. As nossas escolas, tanto da rede estadual quanto municipal, ainda carecem muito da presença de ginásios esportivos. Então é nossa intenção, junto com a secretaria de Educação, promover a integração com a Secopa para que também a rede de escolas seja beneficiada por esse processo.

V – Quais são as ações prioritárias para que Salvador esteja, de fato, apta a receber as delegações estrangeiras com segurança e conforto? E como fica o papel das cidades circunvizinhas, de que forma elas também serão beneficiadas?

NC – Isso ocorre em diferentes dimensões. No plano mais esportivo, é preciso preparar Salvador e as cidades do entorno para receber as seleções não só para os jogos oficiais, mas para os treinos, a Copa das Confederações. Nós temos um conjunto de atividades que compõem o projeto da Copa e isso vai implicar em reforma, em se reequipar esses estádios. Tem ainda a questão da hospitalidade, ou seja, a rede hoteleira. Salvador tem uma capacidade instalada, junto com o Litoral Norte, de 50 mil leitos; mais do que suficiente do ponto de vista quantitativo. Mas é preciso requalificar os hotéis para abrigar, da melhor forma, as seleções, os turistas e todo o público envolvido. A outra ação é no campo da segurança. Já estive conversando com uma das representações do comando da Política Militar, com o Dr. Lidivaldo Brito, que é o Procurador Chefe do Ministério Público do Estado da Bahia, e com o Coordenador Crime do Ministério Público, Dr. José Renato Oliva de Matos, com o propósito de marcar uma reunião brevemente com a secretaria de Segurança Pública para começarmos a adotar as primeiras providencias. Uma outra questão é o receptivo, que é uma ação relacionada com a secretaria de Turismo. O Governo do Estado assinou quarta-feira passada (9/09) um programa com o Ministério do Turismo, o “Olá Bahia”, cujo propósito é qualificar aqueles que atuarão como agentes no receptivo: taxistas, pessoal de hotel, pessoal dos aeroportos, baianas de acarajé, para o ensino da língua inglesa e espanhola. Mas é preciso se pensar também na qualificação dos serviços em geral: bares, restaurantes, museus, teatros, todos aqueles que estarão, de alguma maneira, interagindo.

V – E com relação ao estádio da Fonte Nova, quais são as expectativas e como está o andamento do calendário de atividades definido pela Fifa?

NC – Na verdade, tem muita especulação envolvida. O cronograma acordado com a FIFA, com o comitê de organização local, está até relativamente mais avançado em relação às outras onze sedes. Essa é uma atividade da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre), liderada por Dr. Nilton Vasconcelos; o que nós estaremos é interagindo no sentido do acompanhamento para o cumprimento desse calendário que é, sem dúvida, um calendário importante e rigoroso. Houve já a superação dessa primeira etapa e, o fato de existirem alguns anexos que não constavam na consulta pública, em hipótese alguma resulta em algum comprometimento do lançamento do edital, previsto até o final deste mês. Eram questões que, de fato, não poderiam ainda estar à disposição do público, como os anexos referentes às isenções tributárias. Até o final de dezembro, portanto, nós já teremos a empresa vencedora do edital certame licitatório; este sim vai atender rigorosamente a todos os critérios de ordem legal, no sentido da garantia dos princípios que orientam a Lei Federal de Licitações 8.666. Em fevereiro, essa empresa tem que iniciar as obras com o cronograma de execução para que, até 2012, o estádio esteja pronto para receber os eventos.

V – O que precisa ser feito para que as grandes obras em favor da Copa não se transformem, a médio e longo prazo, em “elefantes brancos”? Exemplos não faltam de cidades que não tiveram condições de manter essas estruturas criadas especificamente para grandes eventos esportivos.

NC – A Copa do Mundo é um evento extemporâneo, episódico, na medida em que não acontece a cada quatro anos na mesma cidade. Mas, ao mesmo tempo, se é um evento que redesenha o estado em algumas dimensões, é preciso que esteja integrado com o seu planejamento estratégico. Nós vamos ter que dedicar muito tempo na relação com a secretaria de Planejamento para que as ações não sejam isoladas, porque esse risco é decorrente da ausência de um projeto que pense a realização de um evento, que é pontual, mas na perspectiva de continuidade e, portanto, cada equipamento e ação que envolver o evento tem que estar integrada a um projeto de desenvolvimento econômico e social. Por exemplo, fala-se que a nova Fonte Nova abrigará os principais jogos, então o secretário do Trabalho já sinalizou que Pituaçu pode ser um equipamento voltado para o esporte amador. A piscina olímpica, hoje na Fonte Nova, deve ser deslocada pra lá e, já que a Fonte também não pode abrigar, por determinação da FIFA, uma área de atletismo, por que essas modalidades esportivas não podem estar concentradas num parque esportivo qualificado como Pituaçu? Então, é preciso pensar a Copa nessa coordenação de esforços para que o evento esportivo deixe um legado que, de fato, impacte a vida das pessoas e a própria economia da cidade e do estado. Para mim, isso é planejamento; é o que nos pretendemos fazer.

V – No dia da sua posse, o Ministro Orlando Silva, que estava presente, anunciou uma reunião no dia 21, em Brasília, para tratar dos investimentos do Governo Federal para a Bahia, relacionados com a Copa. Como se dará esse tramite entre a Secopa e o Ministério do Esporte?

NC – O melhor possível. Primeiro, porque há um alinhamento político administrativo que já vem funcionando perfeitamente entre o Ministério do Esporte e o Governo do Estado, e também a Setre. Portanto, o que nós pretendemos com a nova secretaria é potencializar esse relacionamento; nós queremos ver de que maneira o Ministério pode ajudar mais a Bahia, até porque o ministro é baiano, soteropolitano e, sendo assim, tenho certeza de que ele terá um olhar especial pro nosso estado e pra nossa cidade no sentido de prover as condições necessárias para o bom desenvolvimento dessa primeira etapa, de caráter mais preparatório. Salvador hoje passa por um momento de transformação do seu sistema viário, de trânsito e de tráfego, que é estratégico para a recepção da Copa e, na reunião, nós estaremos discutindo questões dessa natureza, mas aproveitando para ver também que outros investimentos nós podemos atrair do Governo Federal, seja do Ministério do Esporte ou de qualquer outro Ministério.

V – Além de baiano, o ministro do Esportes é também do PCdoB, assim como você e o secretário estadual de Esporte, Nilton Vasconcelos. É possível afirmar que o PCdoB está se especializando na gerência do esporte?

NC – Olha, o PCdoB vem se especializando em formar grandes quadros para a administração pública em geral, não só para o esporte. Hoje, o partido já ocupa importantes cargos no Governo Federal e algumas prefeituras importantes. Mas, em particular, o ingresso do partido no Ministério do Esporte provou que bons gestores e bons projetos, aliados a uma gestão transparente e ética, que é outra questão importante no setor público, tem levado a que não se precise de muito dinheiro, porque o Esporte, se não for o Ministério de menor orçamento, é o penúltimo. Aliás, a gente faz uma analogia com a Secopa, que vai ser um pouco disso também na Bahia. Nós vamos trabalhar com uma estrutura muito enxuta e com orçamento muito pequeno, o que prova que, na ciência da administração, o que vale é o gestor, a sua competência, claro que sua equipe, e saber trabalhar com criatividade e utilizar, da melhor forma, os recursos à disposição. O PCdoB vem crescendo nisso e já se cogita, na Bahia, a criação de uma Escola de Governo que possa ser preparatória de quadros para a administração pública. Nós passamos por um período em que a esquerda teve que aprender a governar, já que a posição sempre foi de estar no lado da oposição, mas eu acho que este momento vem se superando e é preciso agora aprender e governar bem. Acho que nós começamos a fazer isso no Brasil e na Bahia com muita ciência.

V – Algum palpite pra final da Copa, além, é claro, do Brasil?

NC – Ah, o Brasil tem quer ser o único palpite. Nós não podemos abrigar uma Copa no Brasil pra não ter a seleção comemorando mais um título inédito. Portanto, o meu palpite é Brasil na cabeça! (Rs…)

Salvador,
Camila Jasmin