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Crise econômica global: O mundo inteiro vivia iludido

"Fomos envolvidos em um colossal problema, tendo que intervir no controle de um mecanismo sensível, cujo funcionamento não entendemos nada". Esta declaração poderia se referir à atual crise econômica, mas foi formulada pelo economista John Maynard Keynes, há 80 anos, sobre o crash de 1929 e a Grande Depressão de 1930.

Por Mary Stassinákis, no Monitor Mercantil

E característica comum entre a crise atual e o crash de 1929 é o engano dentro do qual o mundo vivia antes da eclosão de ambas. Naquela ocasião, assim como agora, antes da eclosão da crise predominava a teoria de que o segredo do ciclo econômico havia sido revelado e o mundo já viveria em uma linha reta de bem-estar e estabilidade.

Naquela época, os líderes do mundo político e econômico não haviam sequer desconfiado da chegada da violenta correção nos mercados O economista Irving Fischer estava convencido até, inclusive, o outono de 1929, isto é, véspera do crash, de que "os preços das ações haviam sido equilibradas – permanentemente – em nível alto".

O presidente dos EUA e um dos básicos responsáveis pela Grande Depressão de 1930 Calvin Coolidge disse, em 1928: "Os EUA jamais haviam encontrado perspectivas tão agradáveis como no presente momento". No mesmo ano, Herbert Hoover – sucessor de Coolidge – declarou que "muito em breve, com a ajuda de Deus, amanhecerá o dia em que pobreza será expulsa de nossa nação". Anotem que Hoover assumiu as rédeas das mãos de Coolidge para ser estigmatizado na história como um dos fracassados presidentes dos EUA.

Foi derrotado por Franklin Roosevelt, em novembro de 1932. Até então, os capitais, os bancos e Wall Street reinavam no país. Em 1929, dois em cada cinco dólares de qualquer empréstimo eram aplicados em ações, enquanto os próprios bancos usavam os recursos depositados pelos seus clientes para investir (leia-se jogar) na Bolsa de Valores. Não existia, ainda, Comissão do Mercado de Capitais e, muito menos, garantia dos depósitos bancários.

Salvos pela II Guerra

Em 24 de outubro de 1929, Wall Street foi levada ao "matadouro" da queda livre. Foi a "quinta-feira negra", sucedida pela "sexta-feira negra", "segunda-feira negra" e "terça-feira negra". Em alguns dias foram pulverizados US$ 25 bilhões, isto é, US$ 319 bilhões em valores atuais. Os preços das ações se recuperaram aos níveis pré-crise somente em 1954 e, para a economia norte-americana ser reerguida da Grande Depressão, foi preciso eclodir a Segunda Guerra Mundial. Até então, qualquer canto do mundo havia sido afetado e junto sofriam milhões de seres humanos. O desemprego nos EUA atingiu 25% e em alguns países foi superior a 33%.

Depois de muitos anos, em 2003, o economista e Prêmio Nobel de Economia Robert Lucas sustentaria que "o problema de previsão de uma queda havia sido solucionado". Contudo, apesar de sua confirmação, hoje o setor financeiro mundial tem sofrido (confessado) prejuízos de US$ 1,6 trilhão e a economia internacional luta contra uma crise mais profunda do que aquela de 1930.

Alan Greenspan, o "Mago", ex-presidente do Federal Reserve (Fed), foi obrigado a reconhecer: "Não havia percebido os primeiros casos da crise", apesar do fato de que a prolongada política monetária flexível que havia adotado havia criado super-ativos no mercado da casa própria e explodido o endividamento.

Já o atual presidente do Fed, Ben Bernanke, utilizou todos os meios de apoio ao sistema bancário. Se o mundo político e econômico do futuro vai aprender a lição pelos erros atuais é uma pergunta que talvez seja respondida nos próximos 80 anos ou, talvez mais cedo.