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Fome deve atingir mais de 1 bilhão de pessoas este ano, diz ONU

A fome no mundo deve crescer 9% neste ano, ultrapassando a marca de 1 bilhão de pessoas, ou seja, um sexto da população mundial, segundo informou hoje (14) o estudo "O Estado da Segurança Alimentar: 2009", divulgado pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação).

O órgão destaca que é preciso reformar "urgentemente" o sistema alimentar mundial, já que 2009 tem o pior índice registrado desde o ano de 1970: precisamente, 1 bilhão e 200 mil seres humanos.

O diretor-geral da organização, o senegalês Jacques Diouf, lembrou que "os líderes mundiais reagiram com contundência à crise econômica e financeira e conseguiram mobilizar bilhões de dólares em um prazo de tempo muito curto". Ele pediu a "mesma ação enérgica" em prol do "combate à fome e à pobreza".

"O aumento do número de vítimas é intolerável. Temos os recursos técnicos e econômicos para fazer a fome desaparecer, o que falta é uma vontade política maior para erradicá-la para sempre", declarou o diretor.

América Latina

O agravamento desta violação de direitos humanos foi maior entre os países em desenvolvimento. Um total de 53 milhões de pessoas deve passar fome nas regiões da América Latina e do Caribe neste ano, 6 milhões a mais que em 2008. O motivo apontado pelo relatório é a alta dos preços dos alimentos e a crise econômica global. O documento revela que a crise alimentar "persiste e tem se aprofundado" nos últimos três anos.

"Éramos a única região do mundo que estava progredindo na redução da fome até 2005", disse o diretor da FAO para a América Latina e o Caribe, o brasileiro José Graziano, à agência EFE. Ele explicou que o problema dessa região não é a falta de alimentos em si, mas a dificuldade de seus habitantes para ter acesso a eles.

Segundo Graziano, nos dois últimos anos, o número de pessoas desnutridas aumentou em 2 milhões, passando de 45 para 47 milhões. Segundo ele o fato se deve a um "aumento rapidíssimo" dos preços dos alimentos, que afetou, principalmente, as classe mais baixas.

África

Os países africanos continuam no topo da lista e, neles, as mulheres são as que mais sofrem. República Democrática do Congo, Burundi, Eritréia, Serra Leoa e Chade, nesta ordem, são os países com índices de fome mais agudos. Neles, mais de 30% da população sofre graves problemas de desnutrição.

"Reforçar o papel das mulheres é fundamental na luta contra a fome e a pobreza", afirmou a presidente da organização humanitária alemã Welthungerhilfe, Bärbel Dieckmann, para quem "a política de ajuda ao desenvolvimento não pode ser a continuação de uma política de interesses de Estado com outros meios".

Histórico

Segundo o relatório mais recente da FAO, nos anos 80 e no começo da década de 90, o aumento dos investimentos em agricultura após a crise mundial dos anos 1970 permitiu progressos na redução da fome crônica.

No entanto, essa tendência se inverteu e "o número de famintos disparou" entre 1995 e 1997, assim como entre 2004 e 2006, paralelamente à grande queda da ajuda ao setor do desenvolvimento da agricultura.

Segundo a FAO, três fatores fundamentais fizeram a atual crise ser "especialmente devastadora" para as famílias pobres nos países em desenvolvimento.

O primeiro deles foi a impossibilidade de os países recorrerem a mecanismos tradicionais de defesa, como solicitação de créditos, por exemplo. Outro fator foi a crise econômica ter sido precedida por uma crise alimentar que já tinha enfraquecido as estratégias de sobrevivência dos pobres.

Em terceiro lugar, a FAO apontou a maior integração dos países em desenvolvimento à economia mundial e, consequentemente, a maior exposição destas nações às oscilações dos mercados internacionais.

Fonte: Opera Mundi