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Alba discute sobre moeda regional, bases militares e Honduras 

Mais de 600 delegados de movimentos sociais de trinta países começaram a redigir documentos que entregarão aos presidentes dos países-membros da Aliança Bolivariana para as Américas. Os governantes participarão de cúpula até sábado para discutir soberania alimentar, bases militares na região, emprego, mudança climática e a criação de uma moeda regional. Pode ser aprovada uma sanção econômica a Honduras, caso o presidente deposto não seja restituído hoje.

O lugar cheira de grama recém-cortada, os vizinhos regam suas plantas e centenas de policiais inundam a cidade, normalmente calma, para controlar os milhares de participantes das reuniões da Aliança Bolivariana para as Américas (Alba). Uma delas acontecerá nesta sexta-feira (16) e no sábado, entre um grupo de presidentes que vai discutir sobre soberania alimentar, bases militares, Honduras, emprego, alterações climáticas e a possível introdução de Sucre, uma moeda regional para substituir o dólar e o euro.

Outra cúpula, de movimentos sociais, começou ontem para estabelecer diretrizes que os chefes de Estado devem cumprir. O presidente Evo Morales definiu a Alba como "um sindicato de presidentes que lutam pela unidade da América Latina, em defesa dos nossos recursos naturais, para que nunca mais caiam nas mãos dos interesses imperialistas e transnacionais".

Até ontem, haviam confirmado presença sete presidentes dos nove que compõem o bloco: Bolívia, Cuba, Equador, Honduras, Antígua e Barbuda, Nicarágua, São Vicente e Granadinas, Venezuela e Dominica. Também foram convidados os presidentes do Paraguai, Uruguai e Rússia, cuja participação ainda não está assegurada.

O primeiro a chegar foi o equatoriano Rafael Correa, que visitou a mina de Huanuni, no departamento de Oruro, para conhecer a experiência da Bolívia. Correa impulsiona a implementação da "mineração responsável" no seu país, apesar das críticas de grupos indígenas e ambientais. Duas semanas atrás, morreu uma pessoa em meio a protestos contra a política do governo para a mineração e o manejo da água.

O ministro das Relações Exteriores, David Choquehuanca, disse que Correa "está interessado em conhecer o processo de recuperação de empresas estratégicas." Ao chegar ao aeroporto Wilsterman, Correa disse que a Alba "não é para criar concorrência ou converter as nações em simplesm mercados de consumo, onde os maiores ou mias desenvolvidos impeçam o crescimento dos que estão em vias de desenvolvimento".

Choquehuanca disse que, na cúpula de presidentes, está agendada a conformação ao Sistema Unificado de Compensação Regional (Sucre), como um primeiro passo para se livrar do dólar. O Sucre seria restrito ao pagamento de operações entre os bancos centrais doos países do bloco. Ele se tornaria uma moeda corrente na região daqui a um número indefinido de anos – o chanceler citou o caso da Europa, onde o euro levou "20 anos" para se impor. Morales sugeriu que esta moeda se chame "Pacha", que, no idioma quíchua se refere ao equilíbrio.

Os presidentes discutirão a viabilidade da criação de um banco da Alba, que começaria com uma base de US$ 850 milhões. A cúpula incluirá um encontro de empresários da região, que deverá movimentar mais de US$ 30 milhões.

No final da reunião, os presidentes vão assinar várias declarações. Um deles se refer à situação em Honduras, onde um golpe de Estado derrubou o presidente Manuel Zelaya há mais de três meses. Também será emitido um documento sobre a instalação de bases dos Estados Unidos na Colômbia e na região. E serão analisadas estratégias para industrializar a área, de modo a "ajudar a acabar com a pobreza, mas respeitando a Mãe Terra", disse o chanceler.

A sétima cúpula de presidentes é parte de "um projeto muito importante para construir um novo modelo, uma nova alternativa para os modelos predadores como o capitalismo, que criou desequilíbrios", disse Choquehuanca.

Ontem começaram as reuniões de ministros e chanceleres para acertar as declarações. O secretário-executivo do Comitê Permanente da Alba, o venezuelano Amenothep Zambrano, disse a este jornal que serão elaboradas propostas de produção de alimentos para a vida, não alimento para combustível. Nosso desafio é reforçar a soberania e a segurança alimentar dos povos ".

Segundo Zambrano, também será discutida a instalação de programas sociais, a legalidade da folha de coca e cultura e será feita uma declaração sobre os direitos da Mãe Terra. Também se buscará uma abordagem unificada sobre as alterações climáticas, que será levada à próxima convenção das Nações Unidas sobre o assunto, a ser realizada no mês de dezembro em Copenhague, na Dinamarca.

Na casa campestre, mais de 600 delegados de organizações sociais de 30 países, começaram a redigir os documentos a serem entregues aos presidentes. Isaac Avalos, coordenador do encontro, é também secretário-executivo da Confederação Sindical Única de Trabajadores Campesinos de Bolívia (CSUTCB) e candidato ao Senado para as próximas eleições gerais dezembro.

"Antes havia outras cúpulas que as organizações armavam em paralelo à dos presidentes. Fazíamos propostas, mas ele não queriam aceitar nada. As conclusões a que chegamos nestes dias serão entregues aos presidentes como demandas das organizações sociais, para que as apliquem os estados", disse. Os presidentes e as organizações sociais se reunirão no sábado, no Estádio Félix Capriles, onde 40 mil pessoas se encontrarão para ouvir discursos e entregar as demandas aos chefes de Estado.

Honduras

Os países-membros da Alba estudam adotar novas sanções contra Honduras, que faz parte do bloco, caso não haja um acordo que promova a restituição do presidente Manuel Zelaya ainda nesta sexta-feira. A hipótese mais forte é de que a Alba submeta o país a um bloqueio econômico e comercial até que o regime de fato deixe o poder.

David Choquehuanca, revelou que os sócios do bloco debaterão iniciativas para aumentar a pressão em favor de uma saída negociada para a crise, que deve passar necessariamente pela restituição de Zelaya. Durante a cúpula de Cochabamba, que ocorrerá até amanhã, a chanceler do presidente destituído, Patricia Rodas, apresentará um relatório sobre a atual situação vivida por seu país.

"Vocês sabem que há um ultimato em Honduras para que Zelaya possa ser restituído", recordou Choquehuanca, referindo-se ao prazo decretado pelo mandatário deposto para que as comissões de representantes que participam da mesa de diálogo instaurada na semana passada cheguem a um consenso.

"Fala-se de um bloqueio comercial, de um bloqueio econômico. Há várias propostas que poderão ser discutidas", acrescentou.

Com agências