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Honduras: Micheletti trava diálogo, que continua hoje

No último dia de prazo dado pelo presidente deposto Manuel Zelaya para um acordo que ponha fim aos mais de cem dias de crise política em Honduras, o governo golpista, de Roberto Micheletti, voltou, nesta quinta-feira (15), a trancar as negociações, adiando em mais um dia o diálogo, que já dura mais de uma semana. A expectativa agora é que até o meio-dia (horário local) desta sexta haja uma posição definitiva.

"Estamos à espera de fazer um pronunciamento definitivo amanhã (hoje, 16) à tarde", disse à noite Victor Meza, o principal negociador de Zelaya, depois da segunda reunião do dia com o presidente deposto. "A pedido da parte contrária, decidimos dar um espaço para dar-lhes uma oportunidade de que, no transcurso da manhã, eles apresentem a sua proposta definitiva e que o prazo então seja ampliado em 12 horas."

Hoje ele se mostrou otimista com a nova rodada de conversas. "Estamos melhor que ontem. (…) Estamos a ponto de conquistar um acordo definitivo, possivelmente ao meio-dia", dizze Meza, sem dar detalhes, "para não entorpecer o curso da negociação", e advertindo que, se a crise não for solucionada, "haverá uma convulsão social".

Desde anteontem, as duas partes discutem o único ponto sobre o qual não há consenso: a restituição de Zelaya. Ontem pela manhã, os trabalhos foram suspensos minutos depois do início da reunião. Segundo uma fonte que acompanha as negociações, os representantes de Micheletti informaram ao outro grupo que o governo golpista não aceitava uma volta imediata do presidente deposto.

Os negociadores teriam ido, então, à embaixada brasileira para ouví-lo. O diálogo foi reiniciado apenas à tarde. Há informações ainda de que Zelaya e o governo de fato de Roberto Micheletti não chegaram a um acordo sobre se corresponde ao Congresso ou à Suprema Corte de Justiça decidir se ele será restituído. Fontes teriam declarado que a proposta de Zelaya, de que seja o Legislativo a instância correta, estava mais próxima de vingar.

Enquanto isso, Micheletti aproveitava politicamente a classificação da seleção hondurenha para a Copa do Mundo de 2010. Com o país em festa, o presidente golpista recebeu os jogadores na Casa Presidencial em um evento transmitido ao vivo pela TV. Ele fez um pronunciamento que misturava política e esporte.

"Estamos vivendo um momento muito significativo de nossa história (…) Muitos dos que estão aqui não eram nascidos quando nossa Constituição nasceu, em 1982, ano em que participamos pela primeira vez do Mundial. Coincidentemente, 27 anos depois, essa mesma Constituição reafirmou sua vigência, quando vamos a um segundo campeonato mundial."

Para justificar o golpe, o governo interino alega que Zelaya desrespeitou a Constituição do país ao convocar uma consulta popular para saber se os hondurenhos queriam ou não a relaização de uma Assembleia Constituinte.

Três jogadores não participaram da cerimônia com o presidente interino. Emilio Izaguirre e Donis Escober foram até a Casa Presidencial, mas não quiseram entrar no salão onde se realizou a comemoração. Questionados se não queriam ser recebidos por Micheletti, disseram que estavam cansados e "não queriam se envolver com política". Outro jogador, Julio Cesar de Leon, foi direto para um hotel. Lá, declarou apenas que "na vida, quem comete erros tem que pagar".

Zelaya

Após se reunir com os delegados ontem de manhã na embaixada brasileira, Zelaya disse a jornalistas, ao cruzar uma sala, que é "besteira pura" a hipótese de pedir asilo político na Espanha e uma terceira pessoa assumir a Presidência, como veiculado na imprensa local.

O presidente deposto reiterou que só aceita acordo que passe pela sua restituição e disse que não dará novas entrevistas até o fim das negociações. Durante a tarde, contudo, Zelaya disse à agência de notícias AFP que as negociações continuariam, mas que "o clima é extremamente delicado e perigoso". Na semana passada, ele afirmara que não reconheceria as eleições de novembro caso não houvesse um acordo para a sua restituição até ontem.

Em volta da embaixada, o cerco policial-militar voltou a dar sinais de que está apertando. Pela manhã, dezenas de policiais da tropa de choque entraram em formação diante do portão do prédio – é a primeira vez que isso ocorre. Ao mesmo tempo, foi instalada segunda torre com holofote dirigido à embaixada, agora mais perto do muro que a separa da rua. A medida tem claro objetivo de intimidar e pressionar o grupo zelaysta.

Na madrugada, Zelaya e outros hóspedes da embaixada reclamaram que não puderam dormir por causa de uma corneta militar tocada numa casa vizinha. O barulho teria durado cerca de uma hora. O líder da resistência contra o golpe, Juan Barahona, disse que os protestos seriam intensificados hoje caso não houvesse, até a meia-noite de ontem, solução com a volta de Zelaya.

Com agências

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