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Documentário descortina Paulo Vanzolini

Paulo Vanzolini conversa como quem canta uma canção e cria canções como quem conversa. Como é bom de conversa, cria belíssimas canções, mesmo sem conhecer uma nota musical. Essa naturalidade – genialidade, melhor dizendo, quando se trata do autor de Ronda e Volta por cima – está escancaradamente exposta nos 84 minutos do filme Um homem de moral, dirigido pelo documentarista Ricardo Dias e distribuído em vídeo pela Biscoito Fino.

Só o lado musical já recomenda a aquisição do DVD. São 24 composições de Vanzolini, três delas interpretadas pelo próprio autor ( O rato roeu a roupa do rei de Roma, Alberto e A onça) e as demais por cantores como Chico Buarque ( Quando eu for, eu vou sem pena), Paulinho da Viola ( Bandeira de guerra), Martinho da Vila ( Juízo final), Elton Medeiros ( Dançando na chuva) e Inezita Barroso ( José).

Cuitelinho, Praça Clóvis, Boca da noite e Chorava no meio da rua estão nas vozes de Maria Marta, Ana Bernardo, Márcia e Virgínia Rosa. O clássico Ronda abre e fecha o roteiro musical. Primeiro, na versão original da cantora Márcia e, no fim, no karaokê de Suely Kikuchi. As filmagens foram feitas em dois momentos: em 2002, nos ensaios e gravações de Acerto de contas de Paulo Vanzolini, da gravadora Biscoito Fino, e em 2003, no espetáculo Homenagem a Paulo Vanzolini, no SESC Vila Mariana.

Tão gostoso quanto curtir tal repertório é ver/ouvir a prosa do compositor, que faz da música uma forma de lazer, fora do prazer com que se dedica às atividades profissionais de zoólogo. Nesses momentos, mais do que natural, ele está à vontade, como num passeio pela São Paulo dos bairros mais antigos, retratada nos seus versos.

Um homem de moral não foi o primeiro encontro de Ricardo Dias com Paulo Vanzolini. Ainda menino, Dias conheceu Vanzolini na década de 1960, na usina de Jupiá, onde o cientista estudava o impacto ambiental da obra. Na década seguinte, foi seu aluno no curso de Biologia da USP e, a partir de 1984, começou a documentar o trabalho do zoólogo. De uma viagem que fizeram pelo Rio Amazonas resultou o documentário No Rio das Amazonas, de 1999. Dez anos depois, o cientista dá lugar ao sambista paulistano. Na telona e na telinha.

Fonte: Revista Cult