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Carlos Saura leva Chico e Caetano às telas com o filme "Fados"

Se você pouco ouviu, ou viu, o que fez o diretor espanhol Carlos Saura em três décadas recentes, ele que mergulhou no flamengo do bailarino Antonio Gades em busca de respostas plásticas, quiçá existenciais, talvez estranhe que este filme de 2007 sobre a música cantada em português não nos mostre Lisboa, apenas seus cenários projetados, e muito bem, em uma tela ao fundo das cenas.

O fado é a música das tristezas em Alfama, mas o bairro lisboeta, neste filme com estreia prometida para a sexta-feira 16, está transposto de forma alegórica às reminiscências.

Não só o fado, mas suas releituras cabo-verdianas, moçambicanas e, sim, brasileiras, surgem sempre avermelhadas e amareladas em estúdio, com a encenação calculada de uma legião de músicos e dançarinos expressivos.

Toni Garrido canta, enquanto mulheres coreografam o lundu improvável, movido a piano e pandeiro, como se o gênero, enfronhado em séculos, coubesse em um galpão de escola de samba de Ismael Silva, diretamente dos anos 30. Caetano Veloso parece divertido, ou será caricato, em busca do sotaque português no palco, apoiado em violão e banquinho. Chico sorri seu Fado Tropical, em que anuncia nosso destino de imensos lusitanos, com ironia mais que perfeita.

As releituras musicais do fado, transposto em algum momento, desajeitadamente, até mesmo para o rap africano, só se tornam discutíveis porque em magníficas outras situações o tradicionalismo português não arreda pé das guitarras.

Belas e fundas, sem temer a monotonia, elas emolduram, por exemplo, a voz da cantora que hoje é celebridade portuguesa e mundial, a sorridente Mariza. Mas são muitas outras, jovens e velhas, as intérpretes de cenho franzido no filme, até mesmo a lendária Amália Rodrigues, em cena passada durante um ensaio antigo. Excelentes músicos e musicistas, expressando as dores de amores e as esperanças ciganas, calam o espectador.

Só não será um filme bom de ver se nossas expectativas nos levarem ao documento fílmico, à necessidade de explicações, que Carlos Saura evita por completo, em busca da alma inesperada da canção. Tampouco o diretor deseja entender de fato os portugueses, mais interessado se encontra em transmitir aquilo tudo que eles lhe causam.

Saura tem o mérito de atualizar seguramente sua marca cinematográfica. Em Fados há apenas o drama excessivo, quebrado ocasionalmente por alguns intérpretes bem mais suaves que os muitos espanhóis de Carmen, Amor Bruxo ou Bodas de Sangue. Não dá para ser feliz com o fado, argumenta o diretor. Mas, agora, Saura diz essas coisas de um modo mais solto que antes.

Fonte: Carta Capital

Veja abaixo o trailer: