Sem categoria

Protesto de ambientalistas suspende votação do “Floresta Zero”

Ruralistas tentaram votar nesta quarta-feira (28/10) PL que anistia mais de 35 milhões hectares de desmatamento ilegal no país. Durante a reunião, na Câmara, houve vaias, berros e uso de força policial, fazendo com que a votação fosse adiada. Na terça-feira (27/10), ativistas lançaram documento contrário a modificações e revogações de leis ambientais propostos pela bancada ruralista. Representante do Ipam acredita que o "Floresta Zero" é um "atalho" para a flexibilização da legislação ambiental.

Três integrantes da ONG Greenpeace realizaram nesta quarta-feira (28) um protesto pacífico contra a aprovação do projeto de lei (PL) que propõe anistia a mais de 35 milhões de hectares de desmatamento ilegal. A área equivale a 18 vezes o território do estado de Sergipe.

Acorrentados e com cartazes em que diziam “A bancada da motoserra quer acabar com as nossas florestas”, os ativistas reivindicaram o encerramento da sessão em que os ruralistas pretendem votar um substitutivo do PL 6424/05, batizado por ambientalistas como “Floresta Zero”.

Saiba mais sobre a superanistia para os desmatadores ilegais

O protesto terminou com a retirada de todos os presentes da sala da Comissão de Meio Ambiente da Câmara, com exceção de parlamentares, funcionários e jornalistas credenciados. O presidente da comissão, deputado Roberto Rocha (PSDB-MA), chegou a suspender a sessão por 20 minutos. Ambientalistas e pessoas ligadas às ONGs que assistiam à sessão protestaram com palmas que duraram mais de 15 minutos. Os manifestam gritavam “Fora motosserra”.

O líder do PV, deputado Edson Duarte (PV-BA), muito exaltado, pedia o encerramento da sessão. “Não há condições de se votar um projeto nessas condições. Nós temos uma comissão especial instalada para tratar disso, não podemos votar essa proposta. Peço para que interrompa esta sessão”, gritava o líder do PV.

Deputados da bancada ruralista reagiram pedindo ordem. O deputado ruralista Luiz Carlos Heinze (PP-RS), que não faz parte da comissão mas participa da reunião, exigiu aos gritos que os manifestantes encerrassem o protesto. Os ativistas foram tirados à força da sala pela Polícia da Câmara. Os policiais foram vaiados pelos ambientalistas presentes.

"Atalho" para flexibilização

Segundo o coordenador de políticas públicas do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), André Lima, cerca de 15 milhões de hectares de terras amazônicas desmatadas serão anistiadas caso o projeto seja aprovado. André avalia que a proposta é “um atalho” para as mudanças que a bancada ruralista quer propor à legislação ambiental brasileira no Congresso.

“Mais de 90% das áreas desmatadas hoje no país são ilegais. Eles querem resgatar a ideia de proposta de anistia geral, jogando fora a definição de reserva legal e Área de Preservação Permanente (APP). Estão tentando um atalho para mudar o que querem na comissão especial do código. É um PL do vale tudo”, afirma André.

Na terça-feira (27/10), ativistas e organizações não-governamentais (ONGs) ambientalistas divulgaram manifesto contra proposta da bancada ruralista no Congresso Nacional (PLs 1876/99 e 5367/09) que revoga ou modifica as principais leis ambientais brasileiras, como o Código Florestal, a Lei de Política Nacional de Meio Ambiente, a Lei de Crimes e Infrações Contra o Meio Ambiente e a Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação.

Ouça os protestos e a resposta dos parlamentares durante a reunião:

Veja a íntegra da carta dos ambientalistas:

"CÓDIGO AMBIENTAL RURALISTA

A Câmara dos Deputados instalou recentemente uma Comissão Especial criada para analisar as propostas de alteração do Código Florestal, incluindo o projeto de Lei de Código Ambiental de autoria do presidente da Frente Parlamentar Ruralista e que pretende revogar e alterar as principais leis ambientais brasileiras: Lei de Crimes Ambientais, Código Florestal, Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação e Lei da Política Nacional de Meio Ambiente

O processo de instalação dessa Comissão, que levou a uma composição notoriamente tendenciosa, formada por maioria de membros da bancada ruralista e que, portanto, não representa a diversidade de setores da sociedade brasileira interessada na sustentabilidade do nosso desenvolvimento, aponta para intenções retrógradas de eliminar direitos e flexibilizar garantias socioambientais conquistadas ao longo dos últimos 21 anos de vigência da Constituição Federal brasileira de 1988.

Nos últimos meses, o governo brasileiro e o Congresso Nacional tomaram decisões temerárias sobre a legislação ambiental:
– A revogação da legislação da década de 1990 que protegia as cavernas brasileiras;
– a aprovação da MP 458, que incentivou a grilagem de terras, a concentração fundiária e o avanço do desmatamento ilegal na Amazônia;
– a edição do Decreto 6.848, que, ao estipular um teto para a compensação ambiental de grandes empreendimentos, contraria decisão do Supremo Tribunal Federal, que vincula o pagamento ao grau dos impactos ambientais.
Além disso, o governo brasileiro tem negligenciado a política ambiental, mantendo paralisados na Casa Civil da Presidência da República várias propostas de criação de unidades de conservação.
As organizações da sociedade brasileira abaixo assinadas denunciam esse ataque à legislação ambiental. É inaceitável que às vésperas da reunião da Convenção de Clima, em Copenhague, momento em que o Brasil discute compromissos de redução do desmatamento e das emissões de gases causadores do efeito estufa, o Congresso Nacional tente promover retrocessos na legislação ambiental.

Os compromissos de redução de desmatamento que o Brasil assumiu não serão alcançados e as áreas hoje ambientalmente comprometidas jamais serão recuperadas se o marco regulatório existente for desconfigurado, como propõe a bancada ruralista com a conivência e o apoio da base do Governo no Congresso Nacional.

Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável (FBOMS)
Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social
Grupo de Trabalho Amazônico (GTA)
Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA)
Fórum Carajás
Assembléia Permanente de Entidades em Defesa do Meio Ambiente do Estado do Rio de Janeiro (Apedema-RJ)
Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST)
Movimento de Mulheres Camponesas (MMC)
Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB)
Amigos da Terra – Amazônia Brasileira
Associação Alternativa Terrazul
Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi)
Associação de Proteção ao Meio Ambiente (Apromac)
Centro de Estudos Ambientais (CEA)
Ecologia & Ação (Ecoa)
Fundação Vitória Amazônica (FVA)
Greenpeace
Grupo Ambientalista da Bahia (Gambá)
Grupo de Defesa e promoção Socioambiental (Gérmen)
Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec)
Instituto Centro Vida(ICV)
Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc)
Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora)
Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon)
Instituto Ipanema
Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM)
Instituto Socioambiental (ISA)
Instituto Socioambiental da Baía da Ilha Grande (Isabi)
4 Cantos do Mundo
Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais
Movimento pela Despoluição, Conservação e Revitalização do Rio do Antônio (Modera)
Programa da Terra (Proter)
TNC
WWF Brasil
Vitae Civilis – Instituto para o Desenvolvimento, Meio Ambiente e Paz"

Da redação, com informações do Ipam e do Congresso em Foco