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Privatização de Serra corta operador de trem para aumentar lucro

O governo do estado de São Paulo tem veiculado uma longa propaganda sobre a Linha 4 do Metrô. No entanto, o que não se vê no vídeo é uma informação de suma importância para os futuros usuários da nova linha: os trens devem circular automaticamente, sem a presença de um operador.

Por Wagner Fajardo*

É bom lembrar que essa linha será entregue à iniciativa privada e, portanto, não será gerenciada pela Cia. do Metrô de São Paulo, mas por um consórcio de empresas que já atuam nas rodovias, também privatizadas, do estado. Portanto, a inexistência de cabine de operador de trem é uma forma encontrada pela concessionária da Linha 4 para economizar na contratação de funcionários.

Pesam contra essa pretensa medida alguns problemas detectados nos novos trens que circulam na Linha 2 – Verde por não possuírem o sistema semiautomático e, dessa forma, não garantir ao operador autonomia plena no controle de suas eventuais falhas. Isso gera algumas dúvidas fundamentais no caso dos trens sem operadores, que deverão funcionar totalmente no automático.

Como será feito, por exemplo, para evitar a abertura das portas quando necessário ou abri-las e orientar os usuários em situações emergenciais? Há ainda que se considerar que os novos trens vão circular em uma linha que está sendo construída com suspeitas em relação à qualidade e à segurança.

Diante de tais questionamentos e por entender que o trem sem operador vai colocar em risco os usuários da Linha 4, os metroviários são contrários à proposta e vão lutar para impedir sua implementação. É importante destacar também que não deixa de ser um disparate que, num país onde o problema do desemprego é um dos maiores dilemas para o trabalhador, se proponha a extinção de postos de trabalho.

Nunca é demais lembrar a tragédia da Estação Pinheiros — uma clara demonstração de que num país onde o capital, quando não fiscalizado, é capaz de produzir situações como esta e nem sequer é responsabilizado, é uma temeridade permitir que se transportem centenas de milhares de pessoas confiando apenas na tecnologia por ele imposta.

Cabe ressaltar que são poucas as cidades do mundo onde esse tipo de transporte é feito sem a presença de um operador. E, mesmo onde isso acontece, nenhuma das linhas desses sistemas chega a transportar sequer a metade do número de usuários por carro da Linha 4.

Na China, por exemplo, onde a densidade de usuários no sistema talvez se assemelhe à do Metrô de São Paulo, apesar do uso de toda a tecnologia (portas nas plataformas, sistemas moderníssimos e plenamente automatizados), não se brinca com a segurança da população e não se cogita substituir o operador por um sistema totalmente autônomo.

Foi pensando em garantir a tranquilidade dos usuários de transporte público e a segurança do sistema que a Federação Nacional dos Metroviários (Fenametro) propôs a determinação de que nenhum trem ou veículo leve sobre trilhos transporte usuários sem a presença de um operador. Proposta que foi acolhida em um artigo do Projeto de Lei que regulamenta a jornada dos trabalhadores em transporte urbano sobre trilhos, apresentado pelo então deputado federal Jamil Murad (PCdoB-SP) e reapresentado pelo deputado federal Edmilson Valentim (PCdoB-RJ). O PL já foi aprovado pela Comissão de Viação e Transporte e pelo seu relator na Comissão de Trabalho, o deputado federal Roberto Santiago (PV-SP).

Trem sem operador só interessa ao consórcio privado, que quer aumentar seus lucros, e ao governo de São Paulo, que vai agradar ainda mais os seus financiadores para as jornadas eleitorais vindouras. Aos trabalhadores metroviários e aos demais usuários do sistema só ficam o desemprego e a insegurança.

* Wagner Fajardo Pereira é presidente da Fenametro (Federação Nacional dos Metroviários) e membro da direção nacional da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil)