Jô Moraes repudia violência contra estudante da Uniban
A deputada federal Jô Moraes (PCdoB/MG) fez hoje um veemente discurso de repúdio à violência perpetrada contra a estudante Geysa Arruda, nas dependências da Universidade Bandeirante (Uniban), por ter isso às aulas usando um vestido curto
Publicado 10/11/2009 14:07 | Editado 04/03/2020 16:51

A parlamentar alertou para os riscos do comportamento de massa “quando as pessoas perdem a identidade e seus valores, passando a agir movida por instinto, como uma manada”. E também para um aspecto que considera muito grave: de o fato ter acontecido ”numa instituição educacional de nível superior, destinada a preparar e lançar no mercado de trabalho profissionais especializados, e no Estado que é a maior força econômica do País”.
Ideologias
Para Jô Moraes já passou da hora de “olharmos para o País que estamos construindo. Para o que deixamos entrar em nossas casas pelos meios de comunicação. Para as ideologias que nossos meninos e meninas e que nós mesmos estamos consumindo, sem nenhuma avaliação crítica, sem nenhuma forma de defesa. Simplesmente as deixamos entrar em nossos lares sob a forma de programas, músicas, ou outra expressão rotulada de arte, ou diversão”. E pontuou: “É preciso estar atento para a educação, a formação, a reação de nossos filhos. Para a violência que procuramos não ver ou sentir. Ela está crescendo e nos fazendo cada vez mais refratários..,”, disse. A parlamentar também registrou a nota de repúdio da União Nacional dos Estudantes (UNE), feita por sua Diretoria de Mulheres.
Discurso
Eis a íntegra do pronunciamento de Jô Moraes, nesta tarde no plenário da Câmara dos Deputados:
“Senhor presidente, senhoras e senhores deputados,
Na semana que passou fomos surpreendidos com vídeos e depoimentos, nas emissoras de TVs, rádios, jornais e, em especial na internet, relatando a violência sofrida pela estudante de Geysa Arruda, de 21 anos, nas dependências da Universidade Bandeirante (Uniban), situada em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Isto, por ter ido à aula com um vestido curto. Um caso que alguns analistas rotularam de comportamento de massa, quando as pessoas perdem a identidade e seus valores, passando a agir movida por instinto, como uma manada.
No caso, foi isso que se viu, quando alunos passaram a hostilizar a colega numa ação crescente em seu cunho desencadeador de potencial violência física. Das palavras eles passaram a caminhar contra ela e ameaçá-la até de estupro. Isto mesmo, de estupro!.
A estudante teve de se proteger e foi trancada em uma sala com ajuda de um professor enquanto algumas colegas chamavam a polícia para escoltá-la até em casa, na cidade de Diadema, também no ABC paulista.
Mesmo na presença da polícia – foram várias equipes de policiais – as agressões verbais não cessaram. Foi intensa a mobilização dos estudantes que a cercaram em todo o percurso, até a saída da unidade escolar. Muitos subiram em móveis e portas para fotografá-la. Para apontar o dedo incriminatório e lhe dirigir insultos morais Ela saiu aos prantos vestindo, dois aventais para esconder o vestido curto.
Da aula ela iria para a balada, segundo disse, ao justificar o uso do vestido.
Senhores, isto aconteceu numa instituição educacional de nível superior, destinada a preparar e lançar no mercado de trabalho profissionais especializados, no Estado que é a maior força econômica do País. Não bastasse o ato em si, as ameaças continuaram por toda a semana que passou e ainda continuam. Pela internet e em depoimentos a jornais e emissoras de rádio e TV alunos e alunas da instituição revelam a intenção de manterem a hostilização contra a colega: A estudante de Turismo que foi de saia curta para a aula.
Meus queridos, já passou da hora de olharmos para o País que estamos construindo. Para o que deixamos entrar em nossas casas pelos meios de comunicação. Para as ideologias que nossos meninos e meninas e que nós mesmos estamos consumindo, sem nenhuma avaliação crítica, sem nenhuma forma de defesa. Simplesmente as deixamos entrar em nossos lares sob a forma de programas, músicas, ou outra expressão rotulada de arte, ou diversão. É preciso estar atento para a educação, a formação, a reação de nossos filhos. Para a violência que procuramos não ver ou sentir. Ela está crescendo e nos fazendo cada vez mais refratários.
Que essa ação desencadeada nesta instituição universitária seja um marco a nos alertar para a necessidade de mudanças contra um mal maior. Contra a manipulação de uns poucos, mas ameaçadora de toda uma geração.
Quero aqui fazer coro à União Nacional dos Estudantes (UNE), que através de sua Diretoria de Mulheres rechaça toda essa ação preconceituosa e discriminatória.
Basta de violência. Não é esse o Brasil que queremos. Não é para isso que colocamos nossos filhos em escolas. Não é para isso que trabalhamos. Não são alguns poucos mal intencionados, portadores de desvios éticos, morais e psicológicos que vão prevalecer sobre a imensa população trabalhadora e organizada e de boa fé deste País. Não mesmo. Peço que seja registrada a nota de repúdio da UNE.
É o que eu tenho a dizer. Muito obrigada!
A nota da UNE:
Nota da UNE sobre violência sexista na Uniban
Nós, mulheres estudantes brasileiras, vimos a público repudiar todas as forma de opressão e violência contra as mulheres. No dia 22 de outubro deste ano, uma aluna da Uniban (campus ABC – São Paulo), com a falsa justificativa de ter ido à aula de "vestido curto", é seguida, encurralada, xingada e agredida por seus "colegas estudantes".
A cena de horror é filmada, encaminhada à internet e vira notícia por todo o país.
Não aceitaremos que casos de machismo como esse passem despercebidos ou que se tornem notícia despolitizada nos meios de comunicação. O fato em questão revela a opressão que as mulheres sofrem cotidianamente, ao serem consideradas mercadoria e tratadas como se estivessem sempre disponíveis para cantadas e para o sexo. Não toleramos comentários que digam que a estudante "deu motivo" para ser agredida. Nenhuma mulher deve ser vítima de violência, nem por conta da roupa que usa nem por qualquer outra condição. Nada justifica a violência contra a mulher.
Sendo assim, nós, mulheres estudantes brasileiras, organizadas na luta pelo fim do machismo, racismo e homofobia, denunciamos a violência sexista ocorrida contra a aluna da Uniban, nos
solidarizamos com as mulheres vitimizadas por esses crimes e queremos punição a todos os agressores envolvidos nesse episódio e em outros tantos que acontecem e não repercutem na mídia.
Não vamos nos calar perante o machismo e a violência.
Somos Mulheres e não Mercadoria!
União Nacional dos Estudantes
Diretoria de Mulheres”