Ivina Carla – Democratizar a comunicação no Ceará é preciso

Chegamos ao final das etapas que antecedem a conferência estadual, marcada para os dias 20,21 e 22 de novembro. Das atividades que participei avalio como positivas as esperanças depositadas no que diz respeito à democratização, tendo em vista os enormes desafios que temos pela frente, afinal muito tem que ser desconstruído por aqui.

O intuito desse pequeno relato é listar algumas experiências do povo cearense em protagonizar a comunicação em algumas localidades e também destacar os gargalos que temos para resolver.

O que me chamou atenção

Na região do litoral Leste, em Fortim jovens do Assentamento Coqueirinho aprenderam a criar vídeos, editar e assim constroem o histórico da cidade. Os jovens que fazem o “Juventude In Foco” em Fortim discutindo as questões juvenis.

No Cariri em Juazeiro do Norte, existe o Expresso Digital que leva para os bairros pobres educação das novas tecnologias. Conheci um grupo denominado GALOSC (Grupo de Apoio pela Livre Orientação Sexual) que através de Cordéis falam sobre as lutas do movimento e reafirmam a bandeira contra a homofobia e a Rede de Capacitação de Mulheres no Rádio, coordenada pela radialista Célia Rodrigues e também a quantidade de blogueiros espalhados por aqui.

Em Fortaleza, a própria comunicação popular da prefeitura é significante e tem muito trabalho pela frente, o CUCA Che Guevara que é um instrumento de inclusão que trará bons resultados para a nossa cidade. A TV UMLAW (União dos Moradores de Luta do Alvaro Weyne), a Associação tem experiência em comunicação popular, onde os moradores podem contribuir e se vê no que é produzido pela comunidade. Bem, se eu for listar as inúmeras ações com certeza será uma edição número 2 da publicação recente da ADITAL “Boas Idéias em Comunicação” (inclusive recomendo leitura).

Prosseguindo, outro fator que me chamou atenção é a quantidade de mulheres radialistas no interior do estado, isso mostra como estamos ocupando espaços na comunicação. E essas combativas “soltaram o verbo” nas conferências, como a Célia Rodrigues e Euna Lisboa no Cariri, a Teté Carvalho e Paula Rocha em Jaguaruana, a Régia de Fortim entre outras comunicadoras que cotidianamente buscam a democratização da comunicação. Então deixo registrada a satisfação de ter conhecido esses nomes femininos durante esse processo.

Desafios pela frente

Como todos e todas sabem o cenário da comunicação cearense ainda é um campo minado. Muito há de se fazer para que dentro desse sistema capitalista tenhamos pelo menos uma pluralidade que reza a constituição, afinal acabar com a mídia comercial dentro desse sistema é impossível e quem participa dos movimentos pela democratização da mídia tem que compreender isso. Se o objetivo do capitalismo é transformar tudo em mercadoria, o que vamos ter são ensaios de uma comunicação que queremos e não a sua real democratização.

Então, uma das tarefas que temos que enfrentar aqui no Ceará é extinguir a propriedade cruzada que resulta na linguagem única e que contribui para o monopólio ideológico. Posso citar alguns casos, como a TV Jangadeiro, O Povo, Verdes Mares que possuem mais de um veiculo de comunicação. Mais grave ainda são os coronéis midiáticos como os parlamentares que foram citados em todas as conferências o mais famoso foi o deputado Eunício Oliveira que além de detentor indireto de concessão ainda é conhecido por barrar concessões de rádios comunitárias, TV Sinal Aracati– Fundação Vale do Jaguaribe, o deputado Bismarck Costa Lima Pinheiro Maia e outro bem conhecido que recentemente obteve concessões em Sobral e é sócio da TV Jangadeiro, o Senador Tasso Jereissati ( esse é o homem da ética e da moral) que desrespeita o artigo 54 da carta magna.

Outro vício identificado é o abuso da apropriação de rádios educativas e comunitárias por interesses comerciais e eleitoreiros. O comunitário passa é longe, mas onde está a “caçadora” dos piratas nessa hora? Parece-me que o comercial pode usar a comunitária que tem outra finalidade da forma que quiser e a ANATEL não faz nada. Exemplificar algumas: LIDER 103,7 Caucaia- Fundação José Possidônio Peixoto, FM 102,3 Caucaia- Fundação Cultural Terra da Luz- Zequinha Aristides ( empresário da Banda Aviões do Forró), nada contra ele ter concessão desde que não seja educativa,REDE SOM ZOMM Crato- Fundação Educacional Chapada do Araripe- Emanuel Gurgel( o escritório dessa máfia é daqui de Fortaleza, eles tem rádios em vários municípios do estado, algumas são concessões educativas).

Então temos um cenário viciado para desconstruir, nessa nossa luta embrionária em que conhecemos produções independentes e iniciativas populares, identificamos também abusos que nos privam de uma comunicação que atenda as demandas e reivindicações populares. O Ceará é palco dessas cenas aterrorizantes criadas pelos interesses dominantes, mesmo assim temos motivos suficientes para lutar pela comunicação que queremos, onde eliminar questões que atropelam a constituição de 1988 e contribuir para a criação de marcos regulatórios que respeitam esses princípios constitucionais devem estar presentes em nossas discussões e os resultados obtidos na conferência estadual serem transformados em bandeiras políticas que sejam de Estado.

A democratização da comunicação no Ceará é precisa e devemos permanecer atentos e não deixar que o debate que mesmo de forma tímida conseguimos plantar socialmente e com esse mesmo sentimento de que é possível transformar e reverter o processo chamado pelo Pierre Bourdier de “inconsciente da comunicação”. Além disso, temos muita produção popular pra apresentar, temos uma regionalização rica que necessita aparecer. São inúmeros desafios que o movimento social organizado pode conseguir mobilizando os cearenses em torno de uma comunicação que seja de fato um direito humano.

Ivina Carla é estudante de Jornalismo da Faculdades Cearenses e integra a Comissão Estadual de Comunicação do PCdoB/CE

Opiniões aqui expressas não refletem necessariamente as opiniões Vermelho