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Luis Nassif: As razões do apagão

Para entender o “apagão” de ontem do sistema elétrico, é necessário um breve retrospecto do significado do sistema elétrico interligado. Um dos grandes feitos da engenharia brasileira foi essa interligação, que permite com que energia que sobre em uma região seja utilizada em outra. Um sistema dessa complexidade não pode parar se algum elo da corrente se rompe. E sempre é possível que um vendaval ou outro acidente geológico derrube uma torre ou alguma linha.

Por Luis Nassif, no Último Segundo

Para prevenir, há todo um conjunto de sistemas de computação que age rapidamente quando ocorre esse tipo de acidente, redirecionando a energia, montando por computador outros fluxos alternativos para que o sistema não pare.

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Luiz Cláudio, comentarista do Blog (www.luisnassif.com.br), relatou sua experiência com um desses Centros de Operação, contratado pelo ONS (Operador Nacional do Sistema) para ajudar na operação da área Minas Gerais, durante o blecaute de 1999 – resultado de um raio que caiu em uma subestação da CESP no interior de São Paulo.

Após o incidente, foi criado um esquema de proteção chamado ECS (Esquema de Controle do Sistema), que visava instalar pontos de monitoramento em locais (usinas e subestações), que em caso de contingências múltiplas haveria a segregação de cargas, ou separação do sistema em ilhas visando minimizar o efeito cascata.

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Em relação às críticas ao sistema interligado, explica ele:

“Tenho visto muita gente reclamar que devido a uma ocorrência no sul fomos todos atingidos. Acontece que o grande mérito da interligação ocorre todos os dias e já estamos acostumados demais para valorizar, segue alguns exemplos:

-Praticamente todos os dias temos ocorrências com desligamentos de Linhas de Transmissão e demais equipamentos de Geração e Transmissão.

-Outro ponto positivo do sistema interligado é grande estabilidade das grandezas elétricas com tensão e freqüência, garantindo aumento na vida útil dos nossos equipamentos.
Outro ponto importante é que informações iniciais dão conta de contingências múltiplas nesse caso, e que realmente nenhum Sistema Elétrico passa de forma incólume a este tipo de ocorrência.”

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Hoje em dia, o país tem quatro sistemas do setor elétrico – o Centro Nacional de Operação do Sistema (CNOS) e os Centros de Operação Regional do ONS (em Brasília, Recife, Rio de Janeiro e Florianópolis).

Em 10 de outubro passado, o ONS anunciou a contratação um consórcio constituído pela Cepel e pela Siemens para integrar os quatro centros, formando um único, a Rede de Gerenciamento de energia (Reger). Deverá estar pronto em 48 meses.

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Mesmo sem o sistema da Siemens, o modelo atual funciona, é eficiente e não deu conta de uma ocorrência complexa.

O problema maior, apontado pelo deputado José Carlos Aleluia, é que o sistema de computação que gerencia os apagões, na hora dos cortes de energia tem uma visão economicista: privilegia os cortes que menos afetam o caixa das concessionárias.
Foi feito por economistas – diz o deputado – não por engenheiros.