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Dia de Zumbi celebra conquistas em todo o país

A Marcha da Consciência Negra 2009 mobilizou milhares de pessoas em todo o país. Em São Paulo, a manifestação contou com diversos movimentos sociais. No Rio de Janeiro, o governador Sérgio Cabral sancionou a lei que determina a capoeira como patrimônio imaterial do estado e em Salvador (BA), o presidente Lula participa do ato que ocorre a partir das 17h30 desta sexta-feira (20/11) e vai assinar 30 decretos de regularização de territórios quilombolas em 14 estados brasileiros.

- Luana Bonone

Esculturas, roupas e indumentárias de inspiração africana, DVDs sobre heróis da resistência negra e temas relacionados, atabaques, músicas de Dona Ivone Lara e Rappin' Hood, podemas de Solano Trindade, lideranças religiosas da Umbanda, do Candomblé, e também do cristianismo, bandeiras e lideranças de diversas entidades do movimento negro, movimento de mulheres, movimento estudantil, movimento sindical, parlamentares e partidos políticos, e a citação de diversos heróis brasileiros: Abdias Nascimento, Dandara, João Cândido, além da referência que dá nome à data: Zumbi dos Palmares. Estes foram os elementos que compuseram o colorido cenário da 6ª Marcha da Consciência Negra em São Paulo.

A marcha ocorreu por todo o país e as principais manifestações ocorrem em três capitais que já trasformaram a data em feriado: Salvador (BA), Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP). Mais de 700 municípios no país já celebram o Dia da Consciência Negra com feriado.

Calor e unidade

Luana Bonone
Edson França, presidente da Unegro

Segundo Edson França, presidente da União de Negros Pela Igualdade (Unegro) e um dos organizadores da marcha que, neste ano, reuniu ao menos 5 mil pessoas sob o calor de 35 graus na capital paulista, o objetivo da atividade é fortalecer as bandeiras do movimento negro, dentre as quais a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial. Outra pauta comum é transformar o dia 20 de novembro em feriado nacional. Mas Edson argumenta que o dia 20 de novembro é mais que uma passeata com reivindicações: “no dia 20 de novembro a gente para para rememorar, pensar, avaliar a luta e a presença do negro no Brasil”.

A 6ª Marcha da Consciência Negra partiu do Largo do Paissandu, local de tradicional manifestação da cultura negra em São Paulo, e partiu para o Teatro Municipal. Inicialmente a marcha estava prevista para ocorrer na avenida paulista, mas a prefeitura propôs que a mesma fosse realizada no Largo do Paissandu. A maioria das organizações que compõem a coordenação da marcha concordou, por entender que se trata de uma “retomada” de um espaço tradicional.

Kassab no alvo

Entretanto, para Douglas Belchior, da União de Núcleos de Educação Popular para Negras e Negros e Classe Trabalhadora (Uneafro Brasil), a prefeitura não quer que a mobilização se dê em um espaço simbólico para a cidade, como a avenida Paulista. Em um dos carros de som, era exibida a faixa: "Prefeito Kassab, o povo negro aguarda a posse de um secretário negro em sua gestão". 

Para Douglas, ainda, a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial representa um “avanço simbólico” importante para o país, “mas é um avanço apenas simbólico, sem consequência prática”. O representante da Uneafro defende que “o mais importante é permanecer construindo a unidade”, que ele considera mais forte no movimento negro que em outros movimentos sociais.

Luana Bonone
Rosina, representnate da União Braisleira de Mulheres (UBM), fala no carro de som

Seguindo o tom festivo e ao mesmo tempo combativo do ato, a representante da Educafro Sandra da Costa recitou trecho de Duguetto Shabazz: “Mesmo que eu tenha que cruzar terras e mares, / eu vou pra Palmares, eu vou pra Palmares / Mesmo que no caminho me sangrem os calcanhares, / eu vou pra Palmares, eu vou pra Palmares / Mesmo que os inimigos contra nós sejam milhares, / eu vou pra Palmares, eu vou pra Palmares / Enfrento os Borba Gato e os Raposo Tavares, / eu vou pra Palmares, eu vou pra Palmares”

A passeata seguiu animada por dois carros de som, muitas bandeiras e falas de representantes de diversas entidades dos movimentos sociais, além de parlamentares e partidos políticos. Antes de chegar no Teatro Municipal, o calor de 35 graus se condensou em chuva. A resposta dos organizadores: “vamos mostrar que não somos feitos de açúcar!”, e o povo não arrefeceu e seguiu para realizar a finalização de um ato que marcou com mobilização e debate o Dia das Conseciência Negra em São Paulo.

Na Bahia, Lula participa do ato

A marcha soteropolitana parte de dois pontos de concentração: Curuzu e Campo Grande, e o ponto de encontro é na Praça Castro Alves. Lá, o presidente Lula vai assinar, de uma só vez, 30 decretos de regularização de territórios quilombolas em 14 estados brasileiros. O ato público em Salvador está previsto para as 17h30. A escolha do local não foi uma coincidência, pois o poeta Castro Alves ficou conhecido como “poeta dos escravos” por denunciar e condenar as injustiças que os negros sofriam no Brasil.

Além de ver shows de artistas locais, e assinar os decretos para a titulação de comunidades de quilombos, Lula também lançará o Selo Quilombola, marca para os produtos artesanais criados por comunidades de remanescentes de quilombos como forma de agregar identidade cultural e valor econômico ao que produzem.

Já no sábado (21/11), serà realizada a I Marcha da Consciência Negra na Orla, a partir das 9h, na famosa praia de Itapoã.

No Rio, capoeira e feijoada

Luiz Antônio Oliveira / Divulgação
O governador Sérgio Cabral participou das comemorações do Dia da Consciência Negra no Centro do Rio

As homenagens a Zumbi dos Palmares começaram logo pela manhã desta sexta-feira (20/11) em vários pontos do Rio de Janeiro. No monumento ao líder negro, na Avenida Presidente Vargas, no Centro, as comemorações ao Dia da Consciência Negra incluíram capoeira, danças, oferendas e uma lavagem simbólica da estátua.

O governador Sérgio Cabral, e a secretária estadual de Ação Social e Direitos Humanos, Benedita da Silva, participaram do evento. No palco montado em frente ao monumento, Cabral sancionou a lei que determina a capoeira como patrimônio imaterial do estado.
A programação inclui ainda desfile cívico, apresentações de coral, teatro e muitos artistas. Às 16h está previsto um show com o cantor Arlindo Cruz fará e a bateria da Mangueira, na Praça Onze, no Centro. Segundo Paulo Roberto dos Santos, presidente do Conselho Estadual dos Direitos do Negro, são esperadas cerca de 15 mil pessoas.

Em frente ao monumento a Zumbi dos Palmares se apresentaram integrantes do grupo de afoxé Filhos de Ghandi e meninos da Capoeira do Quilombo do Mestre Arerê. “Eu acho que a minha tem começar de pequena a gostar também, dessa cultura, dessa história que é Zumbi dos Palmares” disse a auxiliar administrativa Eunice Paola de Almeida.
O Rio de Janeiro tem a segunda maior população de negros do Brasil, atrás apenas da Bahia. Mas o movimento de consciência negra lembra que metade da nossa população é de negros e pardos. “É um dia de reflexão para que o povo brasileiro possa pensar na sua existência, na sua colonização, na importância da cultura afrobrasileira”, declarou Carlos Machado, presidente grupo Filhos de Ghandi.

Feijoada em Padre Miguel
Em Padre Miguel a comemoração ao Dia da Consciência Negra foi com feijoada para 5 mil pessoas. A programação é para toda a família: roda de samba, pagode, danças africanas e capoeira até o fim do dia. Os moradores também organizaram uma passeata contra a intolerância religiosa.

No Dia da Consciência Negra, a Central do Brasil recebeu a primeira edição do Trem do Funk. Semelhante ao evento que já acontece todo ano com o samba, a festa levou representantes do ritmo embalando passageiros até Belford Roxo, na Baixada Fluminense. A ideia, segundo os organizadores, é reforçar o gênero musical como patrimônio cultural carioca.

Luana Bonone
Na faixa, exibida durante a marcha em São Paulo: "Só Favela – você vive nela, tenha amor por ela"

O feriado de Zumbi

A comemoração do 20 de Novembro como Dia Nacional da Consciência Negra surgiu na segunda metade dos anos 70 do século passado, no contexto das lutas dos movimentos sociais contra o racismo. O dia homenageia Zumbi, símbolo da resistência negra no Brasil, morto aos 40 anos em uma emboscada, no ano de 1695, após sucessivos ataques ao Quilombo de Palmares, onde hoje se localiza a cidade de Viçosa, em Alagoas. Desde 1995, Zumbi faz parte do panteão de Heróis da Pátria. Atualmente fica a cargo dos municípios definir a data como feriado ou mesmo ponto facultativo. O moviemnto negro luta para que a data seja feriado nacional.

Assista ao vídeo da TV Vermelho  6º Marcha da Consciência Negra mobiliza 5 mil em São Paulo

De São Paulo, Luana Bonone, com agências e G1