Novo ministro faz planos para o Brasil de 2022
O novo ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), Samuel Pinheiro Guimarães, está com três grandes tarefas – um plano de metas para o Brasil de 2022, quando se comemora o segundo centenário da independência do País; uma nova doutrina para Amazônia e a reforma do Estado. “Três assuntos amplos e bastante inclusivo”, afirma. Por isso, não quer falar sobre política externa, assunto que lhe ocupou a vida profissional até recentemente, quando se aposentou da função diplomática.
Publicado 23/11/2009 17:38
“Eu preferia falar sobre os temas da minha secretaria, não posso dar entrevista sobre política externa”, diz, afastando a possibilidade de uma avaliação sobre a polêmica visita do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, ao Brasil, nesta segunda-feira (23).
O ministro fala com entusiasmo das atividades da Secretaria, destacando a importância de desenvolver atividades de longo prazo. O País tem tradição de se concentrar em ações de curto prazo. “O Brasil tem que ter metas, até para medir se está alcançado ou não”, diz, lembrando que o desenvolvimento é um processo comparativo, ninguém é desenvolvido isoladamente.
Para rechaçar a argumentação dos ambientalistas, que refutam os números previstos de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) como risco ao meio ambiente, ele lança uma pergunta: “É desenvolvimento sustentável 60 milhões de pessoas recebendo Bolsa-Família?”
E ele mesmo responde: “É preciso, nesse conceito de desenvolvimento sustentável, que esteja incluída a ideia de que há crianças que passam fome e que precisam de uma vida digna, produtiva, de realizar seu potencial humano.”
E acrescenta: “Não se pode querer o desenvolvimento a qualquer custo, mas tem que se lembrar disso. É importante que o projeto de crescimento leve em consideração esse grupo de pessoas que tem direito a emprego, saúde, educação.”
Para ele, “corremos o risco de ter elevadas taxas e performance ambiental e baixíssimas taxas de desempenho social. É preciso que o produto (PIB) cresça a uma certa taxa, a geração de emprego cresça a uma certa taxa (para garantir o crescimento do País)”.
E enfatiza: “Tudo é relativo, o grau de bem estar e riqueza é relativo, só a pobreza é absoluta”, para desenvolver a ideia de que ter metas vai permitir ao Brasil saber onde estará e aonde os outros estarão, hipoteticamente, para saber se reduzimos a distância que nos separa.
A distância entre o Brasil é os países desenvolvidos pode ser traduzida em uma conta rápida, que o ministro faz de cabeça: a renda per capita brasileira é oito mil dólares, a renda per capita dos países desenvolvidos é de 40 mil dólares. O que nos separa é 32 mil dólares. Se ao final desse período ainda que nos desenvolvamos a uma taxa maior, essa distância tiver aumentado, isso significa que, embora aparentemente maior, relativamente estaremos pior.
Para diminuir essa distância, o Brasil precisa fazer um esforço muito maior porque temos que recuperar o atraso, explica Samuel Pinheiro Guimarães. Ele diz que apesar de tudo o que foi feito, é necessário um esforço maior.
Brasil no mundo
Apesar da resistência às questões de política externa, o ministro avalia como a união dos países em desenvolvimento – Brasil, Rússia, Índia e China (BRIC) pode ajudar nesse desenvolvimento. De maneira rápida, ele explica que esses grandes estados tem interesses em comum na organização do sistema internacional. A sua união e atuação conjunta podem permitir que cada um alcance seus objetivos de forma eficiente.
Ele também analisa o protagonismo que o Brasil assumiu no cenário mundial, atribuindo o sucesso ao governo do presidente Lula, reconhecido em todo o mundo. E enumera a série de situações que contribuíram para isso: o Brasil foi um dos últimos a entrar na crise e um dos primeiros sair; enquanto se gera emprego no Brasil, os outros países diminuem os empregos, além do êxito dos programas sociais.
Tudo isso, segundo ele, gerou credibilidade do Brasil junto a países em desenvolvimento e desenvolvidos. Ele aponta ainda a posição independente, ao mesmo tempo serena, que o Brasil tem tido em situações internacionais; e a sua imparcialidade, por exemplo, na posição relativa a segunda guerra do Iraque.
Acrescente a isso tudo, o fato do Brasil ter apresentado propostas nas negociações internacionais que refletem interesse dos países em desenvolvido e mesmo desenvolvidos. Recentemente o Brasil e a França apresentaram proposta conjunta com relação à Conferência do Clima. “É um processo, não surge do nada”, conclui.
Amazônia Sustentável
Na função de coordenadora da Amazônia Sustentável, a SAE comemora como primeiro e importante passo para o desenvolvimento do projeto, a regularização fundiária. “Porque o primeiro grande problema é saber quem é dono da terra, se são posseiros, grileiros etc”, afirma o ministro, para quem a partir daí é possível uma ação mais eficaz do governo, em todas as áreas, na área de aplicação de políticas ambientais, de tributação, de crédito, porque sem garantias não há crédito, uma das garantias mais comuns é a patrimonial.
Outro passo importante é conhecer os recursos naturais da Amazônia. Esse é o processo que está em andamento, o de mapeamento econômico e geológico da área, que representa 59% do território brasileiro. Os estudos, que estão sendo feitos com o fortalecimento das instituições regionais de pesquisa e programas que efetivam pesquisa na região, vão saber as riquezas da região para o conhecimento científico da biodiversidade.
As outras etapas serão estabelecidas no plano de metas para 2022, que quer alcançar um índice de “desmatamento zero” e a exploração das riquezas da região pela população local permitindo o desenvolvimento da região aliada a melhoria da qualidade de vida da sua população.
Da sucursal de Brasília
Márcia Xavier