Sem categoria

Luis Nassif: Apanhado o desembargador de Dantas

Aparentemente, a Satiagraha não acabou. Todo o emaranhado de indícios colhidos no inquérito parece estar sendo desdobrado em inquéritos variados, conforme matéria de O Globo deste domingo (29), mostrando que o desembargador carioca que comandou a ação contra a juíza Márcia Cunha – desafeta de Daniel Dantas – mantinha contas no exterior, denunciadas agora em inquérito da Polícia Federal.

Por Luis Nassif, em seu blog

O episódio do massacre da juíza Márcia Cunha teve duas pernas: a da mídia, cometendo o assassinato de reputação para preparar o terreno para o Judiciário.

No capítulo “As Relações Incestuosas com a Mídia” conto essa história complicada, mostrando como a Folha – através da repórter Janaína Leite – se dispôs ao trabalho de preparar o terreno para que o TJ carioca desse o golpe final na juíza.

No capítulo “A Imprensa e o Estilo Dantas” mostro como era articulado o esquema de publicidade-plantação de notícias, através de Humberto Braz – que foi preso depois de tentar subornar um delegado da Polícia Federal. Os dois primeiros ataques que sofri de Mainardi- quando comecei a apontar o dedo de Dantas no financiamento do mensalão -vieram acompanhados de 12 páginas de publicidade de empresas de Dantas, metade em cada edição da Veja.

Nesse capítulo e também em “O lobista de Dantas” mostro como Diogo Mainardi era utilizado como perna midiática preparando as manobras para os processos que interessavam a Dantas.

Até agora, em duas das cinco frentes de batalha de Dantas – Judiciário, Polícia Federal, mídia, Ministério Público e escritórios de advocacia – duas tiveram desdobramento: a tentativa de suborno de delegados da PF e, agora, esse inquérito que pega desembargador que beneficiou o empresário.

De O Globo (para assinantes):

Desembargador é acusado de lavar dinheiro

Carpena Amorim, ex-corregedor de Justiça do Rio, depositou US$ 500 mil em paraísos fiscais, segundo a PF

Chico Otavio e Cássio Bruno

A Polícia Federal acaba de concluir inquérito que envolve o desembargador aposentado Manoel Carpena Amorim, excorregedorgeral do Tribunal de Justiça do Rio, com um esquema internacional de lavagem de dinheiro. Documentos apreendidos na casa de um casal de doleiros revelaram que o magistrado criou duas empresas offshore em paraísos fiscais para camuflar depósitos estimados em US$ 500 mil em contas de bancos da Suíça e do Principado de Liechtenstein.

Como corregedor-geral, Carpena Amorim foi responsável pela abertura de processo disciplinar contra a juíza Márcia Cunha, da 2aVara Empresarial, em 2005. A magistrada teve a conduta questionada após dar decisão liminar que permitiu à Previ e outros fundos de pensão retirar das mãos do grupo Opportunity o controle da Brasil Telecom.

Márcia, no mesmo ano, denunciou o lobista Eduardo Raschkovsky por tentativa de corrupção em nome do Opportunity (Eduardo e o grupo negaram).

Há uma ligação entre o lobista e o corregedor. De 2003 a 2004, Raschkovsky foi sócio de Marlene de Souza Carpena Amorim, mulher do então corregedor, e de pelo menos dois doleiros, na empresa imobiliária Ocean Coast.

Doleiros tinham central bancária paralela Naquela ocasião, a PF começou a investigar o suíço Norbert Muller e sua mulher, Christine Puschmann. Na Operação Norbert, agentes apreenderam na casa dos doleiros farto material comprovando que o casal havia montado uma espécie de central bancária paralela.

O ingresso de Carpena Amorim nas investigações foi provocado pela documentação vinculada ao seu nome. Segundo a PF, Norbert e Christine ajudaram o desembargador a criar duas empresas offshore (uma delas chamada Arichi) no Panamá e no Principado de Liechtenstein, com o objetivo de esconder o nome de Carpena como verdadeiro dono de contas nos bancos LGT Bank, em Vaduz (Liechtenstein), e UBS Bank, na Suíça.

De acordo com o relatório, os depósitos somam US$ 500 mil.

No relatório final, encaminhado ao Ministério Público Federal, a PF acusa o desembargador, aposentado desde 2006, de lavagem de dinheiro e manutenção de depósitos não declarados no exterior. Caberá aos procuradores da República responsáveis pelo caso oferecer a denúncia, pedir diligências complementares ou requerer à Justiça o arquivamento do caso.

Em 2005, para justificar a abertura do processo disciplinar contra Márcia Cunha, Carpena alegou que a filha da juíza havia estagiado (antes da decisão de Márcia sobre o caso) no escritório que advogava para a Previ. O empenho do corregedor em afastar a juíza do caso — ela acabaria se declarando impedida de continuar — foi tema recorrente de conversas nos corredores do Tribunal de Justiça do Rio na época.

Márcia, antes de se afastar, denunciou que Raschkovsky oferecera uma quantia elevada para o seu marido virar consultor do grupo Opportunity. Ela disse que o lobista era conhecido por “lustrar os sapatos nos tapetes vermelhos” do Tribunal.

Agenda de computador entregue pela auditoria contratada pelos novos gestores da Brasil Telecom registrou 16 reuniões de Raschkovsky com Humberto Braz, na época presidente da Brasil Telecom indicado pelo Opportunity, entre fevereiro e outubro de 2004