Alexandre Lucas – As amarras estéticas do Capitalismo

A artificialidade é dos elementos simbólicos que nos remetem criticamente a ideia de condicionamentos sociais e a fatores de alienação provocados pelo modo de produção capitalista.

Ora, quais as dinâmicas de imposição social neste sistema reservado ao bem estar das classe dominante? Partindo do conceito de que o belo, o bom, o legitimável, neste modo de produção é fruto de uma constituição sistêmica oriunda das engrenagens de relações econômicas, sociais, culturais, históricas e espaciais que no capitalismo estão a serviço dos detentores dos meios de produção, ou seja, os capitalistas, só podemos concluir então, que a arte e a estética estão amarradas a essa lógica, partindo de uma análise generalizada, pois se debruçamos nas particularidades vamos perceber, numa proporção menor, que esse campo é minado também pela resistência de outra lógica, ou seja, humanizadora e anti-capitalista.

O modo de produção capitalista cria suas próprias verdades artificializadas sobre a realidade. A vida é mercantilizada. Como os objetos, os seres humanos também são transformados em mercadorias, num sistema baseado pela produção social e apropriação privada. Fatores preponderantes para o distanciamento e o estranhamento da vida, da natureza e da criação humana.

O bem estar estético de uma beleza sem vida, o desvincular das relações de pertencimento cultural e o consumo de uma estética produzida nos laboratórios e nas fábricas de embrutecimento humano potencializa o individualismo, a competição e a alienação. Condensando a vida a um prazer artificial e incluindo-a no aprisionamento e na submissão do capital.

Na lógica da produção capitalista, o indivíduo pensa e age para o capital e pousa para uma falsa realidade que faz crer que os seus pensares e fazeres atendem aos seus interesses. Enquanto na essência e na hegemonia das vezes a decisão do que e como fazer não pertence ao mundo da liberdade.

Peguemos como exemplos simbólicos para alusão destes questionamentos as esculturas do Padre Cícero e as roupas da chamada moda Surf Wear, na Região do Cariri. No primeiro caso temos a imagem inquestionável de pertencimento cultural e religioso do Padre que desempenhou papel político importante para a cidade de Juazeiro do Norte e que é responsável pelo crescimento e desenvolvimento econômico da cidade, em especial pelo uso da sua imagem. A questão é, por que se faz tanta escultura do Padre Cícero? Seria o “santeiro” ( o que faz as esculturas em madeira ou gesso), devoto do Padre Cícero? Pode até ser. Mas, o que possivelmente vai provocar seu interesse em produzir essas esculturas será a comercialização. Provavelmente se pensamos na Bahia, por exemplo, a demanda por esculturas dos “guias da cabeça”, os orixás, sejam mais vendáveis dos que as do Padre Cícero. Já no segundo caso, a moda Surf Wear, é um tipo de roupa pensada para surfistas e mesmo no Cariri não tendo mar é crescente a quantidade de lojas especializadas neste tipo de roupa. O mais impressionante é a forma de apropriação estética e simbólica de criação de vínculos desvinculados, com essa moda. O que cria essa necessidade? Será um sentimento mercadológico de querer ser o outro, compreendendo o outro como o belo (o que pode possuir)?

Essas são algumas inquietações para que possamos pensar o conceito de símbolos, de artes e de beleza, além estética capitalista e globalizante, de padronização da vida e opressão da criação simbólica. Outra estética só é possível no enfretamento dessa perversa realidade, como bem coloca a artista Lygia Clark “Se a gente não se propõe a mudar o mundo, como visão, não adianta nada”.

Alexandre Lucas é coordenador geral do Coletivo Camaradas, Pedagogo e artista/educador.

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