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EUA culpam Amorim por impasse em Doha; chanceler reage

O governo dos Estados Unidos e as maiores associações industriais do país acusam o chanceler Celso Amorim de estar "condenando a Rodada Doha ao fracasso" e diz que Brasil, China e Índia precisam fazer as mesmas concessões que os países ricos fizeram nos anos 90 nas negociações comerciais. Para o Itamaraty, porém, é o governo americano que está em uma situação de isolamento cada vez maior na Rodada Doha.

Hoje a OMC conclui sua reunião ministerial sem decisão nem agenda clara para encerrar Doha até 2010. Na segunda-feira, o representante de Comércio dos EUA, Ron Kirk, deixou claro que a negociação só teria desfecho se Brasil, Índia e China abrissem seus mercados aos produtos industrializados dos países ricos. Amorim respondeu que pedir isso seria "irracional".

Até a noite de ontem, não havia nem sequer um acordo sobre a convocação de uma nova reunião março, para determinar se a Rodada deveria ser mantida ou abandonada. O governo americano rejeitava a ideia de um novo encontro. Outros, como a China, diziam que a nova reunião somente deveria ser convocada se os Estados Unidos se comprometessem a não pedir mais concessões.

Enquanto isso, Kirk subiu o tom dos ataques. "Se tomarmos a forma de pensar de Amorim, estaremos condenando Doha ao fracasso, porque todos estamos dizendo que queremos mudanças, mas não queremos fazer nada diferente."

O americano criticou a insistência do Brasil em seguir o mesmo caminho nas negociações há oito anos. Já o Itamaraty alega que são os americanos quem estão tentando mudar a agenda para garantir maior acesso ao mercado dos países emergentes. "Só faremos progresso se estivermos dispostos a sair de nossa área de conforto. E todos terão de fazer isso."

O representante da Casa Branca tentou amenizar sua posição, alertando que não está pedindo a abertura dos países pobres. "É das economias em desenvolvimento mais avançado que estamos pedindo. Os emergentes têm a oportunidade de subir ao pódio como Estados Unidos e Europa fizeram na Rodada Uruguai e tomar decisões difíceis que serão exigidas para um acordo."

A Associação da Indústria Manufatureira Americana, que engloba as maiores empresas dos Estados Unidos, também fez duras críticas a Amorim, alegando que o comportamento do Brasil impossibilitará a conclusão da Rodada. Já o chanceler insiste que há um só país que hoje não está de acordo com a Rodada: os Estados Unidos. "A questão é simples aqui. Dos 153 países da OMC, 152 já estão de acordo. Claro que o mais poderoso do mundo não está."

Para Amorim, há espaço para "algum ajuste na proposta". "Mas, se quiserem mexer muito no acordo, ou tudo será quebrado ou a mudança será tão grande que será outra rodada." Segundo ele, "o mundo mudou: o poder militar ainda está concentrado, mas no poder econômico há uma mudança".

Amorim também apelou para a necessidade de reunir forças a fim de evitar a paralisia das negociações multilaterais e os efeitos desse processo. Segundo Amorim, se nada for feito há riscos de estagnação econômica, perdas de postos de trabalho e mais pobreza no mundo.

O apelo, feito ontem na abertura da 7ª Conferência da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Genebra (Suíça), é um alerta aos países desenvolvidos sobre a tendência de imposição de barreiras tarifárias. “Estamos no meio de uma crise. Uma crise de paralisia. Quanto mais tempo levarmos para sair dela, maior será o impacto em termos de estagnação econômica e de perdas de postos de trabalho. Em alguns dos países mais pobres, isso significa que menos pessoas escaparão da pobreza absoluta e da fome”, disse.

Em seguida, Amorim acrescentou que "parar o relógio não é uma opção". “As circunstâncias econômicas mudam, barganhas feitas no passado acabam sendo superadas por novos desdobramentos.” Os ministros de Relações Exteriores dos países do G-20 (grupo dos países em desenvolvimento) se reúnem até hoje (2) e vão dar prioridade às discussões sobre as barreiras econômicas impostas aos produtos agrícolas.
Amorim afirmou que o governo brasileiro tem trabalhado para atender às expectativas de avanços expostas como metas durante a Rodada Doha da OMC.

“Em linha com a Declaração de Hong Kong, até meados de 2010, o Brasil concederá tratamento duty-free-quota-free, livre de tarifas e cotas, com cobertura de 80% de todas as linhas tarifárias, aos países de menor desenvolvimento relativo”, disse. Segundo o chanceler, este percentual vai aumentar gradualmente nos próximos quatro anos até cobrir a totalidade das linhas tarifárias. Para ele, o fundamental é que os países ricos sigam o mesmo caminho.

“Nossa esperança é que os países desenvolvidos façam o mesmo em breve”, afirmou.
Para Amorim, é essencial a concentração de esforços. “Temos de agir coletivamente e com urgência. Ao invés de concentrar-nos no que deu errado, temos de manter o foco no que é necessário para concluir as negociações. É preciso que essa avaliação aconteça nas próximas semanas e nos próximos meses, se quisermos manter o compromisso de concluir a rodada em 2010”, destacou.

Com informações da Agência Brasil