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Mafioso acusa Berlusconi de colaborar com a Cosa Nostra

A denúncia foi feita por Gáspare Spatuzza, antigo assassino contratado e testemunha no julgamento de um caso que envolve a máfia. Spatuzza foi ouvido nesta sexta-feira (4), pela primeira vez, numa audiência pública no âmbito do recurso interposto por Marcello Dell’Utri, próximo do Governo italiano.

Spatuzza afirmou que soube da suposta relação do premier com a organização criminosa em uma conversa com o chefe mafioso Giuseppe Graviano, que teria sido mantida nos anos 1990.

“Em relação a Berlusconi, Graviano disse que era o homem do canal cinco, e que no meio havia um dos nossos: Dell’ Utri”.

O senador Dell'Utri, do partido governista Povo da Liberdade (PDL), já foi condenado em primeira instância a nove anos de prisão por associação mafiosa.

Quando questionado sobre a suposta ligação entre o senador do partido Povo da Liberdade, o primeiro-ministro italiano e a máfia antes do atentados em 1993, Dell’ Utri responde, fazendo troça: “Também havia o Bin Laden, ele ainda não o disse mas não deve tardar. É uma bricandeira, mas o que posso fazer? Acredita que se pode falar seriamente disto?”.

Um porta-voz de Silvio Berlusconi prontamente veio a público para negar as acusações, alegando que tudo não passa de uma estratégia da máfia para "denegrir" a imagem do chefe de Governo.

Spatuzza classificou a Cosa Nostra como uma associação mafiosa e terrorista, responsável pela morte dos juízes Paolo Borsellino e Giovanni Falcone. A testemunha descreveu, ainda, os atentados em Florença e em Roma como "anômalos" na estratégia da máfia siciliana.

O líder do PDL no Senado, Maurizio Gasparri, questionou a "credibilidade" do depoimento do ex-mafioso. "Nós queremos nos empenhar por uma justiça que combata a máfia. As medidas que este governo tomou estão entre as mais rigorosas e mais severas", ressaltou.

Marcello Dell’Utri, senador siciliano e um dos mais antigos aliados de Silvio Berlusconi, é quem está sendo julgado. Foi condenado a nove anos de prisão por associação mafiosa e recorreu.

A onda de atentados a que se referiam as conversas entre Graviano e seu então braço-direito matou dez pessoas em diferentes cidades ao longo de 1993. Foi nesse ano que Berlusconi e Dell’Utri, entre outros, decidiram criar o partido Força Itália. Meses depois, já em 1994, concorriam a eleições e chegavam ao poder.

Berlusconi foi acusado de suborno e corrupção, mas não é investigado neste processo. Nem ele nem o senador se mostraram preocupados. Membros do governo fizeram saber que quinta-feira Berlusconi participou "tranquilo" de uma reunião ministerial, denunciando que o caso é uma vingança por "todos os mafiosos que tem posto atrás das grades".

"Claro que está calmo. Ele tem mais medo da mulher do que de Spatuzza", disse Dell’Utri, numa referência ao divórcio do primeiro-ministro.

No tribunal de Palermo, a sessão teve ar de coisa grave: Spatuzza foi ouvido atrás de um biombo branco com policiais por todos os cantos, dentro de uma sala instalada em um verdadeiro bunker subterrâneo.

Já o secretário do opositor Partido Democrata, Pierluigi Bersani, preferiu não se posicionar a respeito. "Digo somente que cabe aos juízes avaliar as declarações de um arrependido. Acredito que não há nada a acrescentar", disse.

Da redação, com agências

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