Ali Kamel virou o “nosso guia”. Só na revista semanal da Globo
Em 2006, a direção da TV Globo organizou um abaixo-assinado, para que os jornalistas defendessem a cobertura feita pela emissora durante a eleição. A cobertura tinha sido criticada publicamente, em matérias de Bia Barbosa, na Carta Maior, e em duas reportagens históricas de Raimundo Pereira, na CartaCapital.
Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador
Publicado 09/12/2009 15:21
Recusei-me a assinar o manifesto. Meus chefes imediatos sabiam que eu e outros colegas tínhamos criticas à cobertura. Mas tentaram nos constranger. Tentaram mapear quem estava com a emissora e quem não estava.
Imaginem se uma revista acusasse — por exemplo — a Volkswagen de falhas na produção de um novo veiculo. Imaginem se a direção da Volks fizesse um abaixo-assinado para que os operários defendessem a Volks. Faria algum sentido? Os operários mandariam a direção catar coquinho em Berlim.
Mas na Globo dezenas de jornalistas assinaram. Alguns, por convicção. Outros, por medo.
Não me considero melhor do que ninguém. Mas me constrange a capacidade de subserviência de alguns jornalistas, diante de chefes poderosos.
Penso em tudo isso ao ver a lista com “Os Cem Brasileiros Mais Influentes de 2009”, feita pela revista Época.
Adivinhem que está na lista? Ali Kamel! O jornalista, não o ator.
Adivinhem em que quesito Ali aparece? Na lista dos “guias e pensadores”.
Ali Kamel (o jornalista, não o ator) é “guia e pensador” brasileiro.
Confiram aqui — http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI108920-17445,00-OS+BRASILEIROS+MAIS+INFLUENTES+DE.html.
Imagino o editor responsável pela lista. Será que foi ideia dele? Ou teria partido de cima a ordem? O que vocês acham? A Época — vocês sabem — pertence as organizações (?) Globo. Imagino o Ali, talvez, enviando à direção da revista uma “pequena sugestão”, para ser incluído entre os “pensadores” brasileiros…
Ali Kamel — o jornalista, não o ator — ainda vai aparecer na tela da Globo, naquela situação em que Roberto Marinho costumava ser mostrado nos anos 80, lembram? “Roberto Marinho, jornalista e acadêmico, recebeu hoje a medalha do mérito de Rio Branco, e blá-blá-blá…”
Ali vai chegar lá, quem sabe um dia ainda veremos no JN — “o guia e pensador brasileiro Ali Kamel recebeu hoje a medalha Victor Civita, e blá-blá-blá…”
Ele não tem vergonha. Isso ajuda a subir na vida…