Amorim critica Honduras por barrar saída de Zelaya do país
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, criticou nesta quinta-feira (10) a rejeição do governo golpista de Honduras de liberar a saída do presidente deposto Manuel Zelaya para o México. “É uma intransigência. Não é assim que se faz democracia e política, mas querer ensinar diplomacia e política a golpistas é muito difícil”, disse.
Publicado 10/12/2009 13:00
Para Amorim, a medida poderia contribuir para o diálogo e para a pacificação em Honduras. Ele acredita ainda que a tentativa de fazer com que Zelaya assine um documento pedindo asilo político é uma “forma de humilhação”.
Zelaya havia pedido para deixar o país como "hóspede ilustre", mas o governo interino só aceitou a saída caso ele pedisse asilo político a outro país, condição rejeitada pelo líder deposto. Com a decisão de negar o salvo-conduto, Zelaya permanece na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, onde está hospedado desde o dia 21 de setembro.
"Nos interessa muito, sim, que o presidente Zelaya possa sair em segurança, que nossa embaixada não seja de maneira nenhuma atacada", disse Amorim.
Após participar de entrevista a emissoras de rádio durante o programa Bom Dia, Ministro, Amorim destacou que, até então, o governo brasileiro acreditava que havia uma negociação em andamento do governo golpista de Honduras e do governo mexicano.
“Confesso que acordei hoje pensando que o Zelaya já estaria no México, mas fui surpreendido com a informação de que teria havido essa dificuldade por uma exigência absurda. O próprio governo do México deve ter ficado surpreso. Um governo que não tem legitimidade age sempre de maneira ilegítima”, disse, ao acrescentar que desconhece outros casos em que governos exigiram a assinatura de um documento antes da saída de um refugiado.
“Isso não existe. Se querem considerar como asilo, podem considerar, mas exigência não existe. Nem quando houve a ditadura militar aqui no Brasil foi exigido que as pessoas assinassem um documento.”
Segundo o ministro, a decisão representa algo incompatível com o momento atual da América Latina. Ele classificou a rejeição do salvo-conduto de “truculenta”. “Vamos ver o que acontece, mas não vamos ficar enxotando o presidente Zelaya da nossa embaixada. Demos proteção a ele, proteção que foi reconhecida pela OEA (Organização dos Estados Americanos) e pelo Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas)”.
Detalhes
Amorim aproveitou para reforçar que o Brasil não reconhecerá as eleições realizadas sog um regime golpista. “A preocupação principal do momento é manter a segurança de Zelaya e permitir que ele saia do país. Se tiver que haver um diálogo entre uma parte e outra, haverá. Com o passar do tempo, o povo hondurenho encontrará a sua solução. Agora, que as eleições não foram legítimas, não foram”, afirmou Amorim.
O chanceler brasileiro deu detalhes da negociação com o governo do México para que Zelaya fosse abrigado no país. Segundo Amorim, partiu do próprio Zelaya o desejo de deixar o Honduras para buscar abrigo em território mexicano. As negociações para a mudança começaram logo após o Congresso hondurenho negar a sua volta ao comando do país.
“Partiu do próprio Zelaya, já depois do dia 2, quando o Congresso votou contrariamente a volta ao seu poder. O próprio Zelaya manifestou vontade de ir para outro país e ele próprio mencionou o México e nos pediu que conversássemos com o governo mexicano, juntamente com a Argentina”, relatou Amorim. “Ele queria dois países de peso na América Latina para conversar com o governo mexicano. Prontamente o México disse que não teria dificuldade em recebê-lo”, complementou.
"É uma questão de saber até quando vai a paciência do mundo em relação a um governo que está violando constantemente as normas do direito internacional", encerrou.
Com agências