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Irlanda: O "tigre celta" está ameaçado de extinção

Em 2001, inatingida pelo estouro da bolha de Internet, a Irlanda desfrutava as vantagens da guinada estratégica econômica que havia realizado na década de 1980, junto com a Grécia, Espanha e Portugal, aproveitando os famosos Programas Mediterrâneos Complementares e desenvolvendo uma economia moderna que apoiava seu crescimento e bem-estar no setor de prestação de serviços.

Por Laura Britt, no Monitor Mercantil

O sucesso do empreendimento havia transformado a tradicionalmente pobre Irlanda em um modelo de crescimento para os países da União Européia (UE). Mas, de repente, o "modelo irlandês" desabou. Foi arrasado como um castelo de areia pela crise financeira.

Apenas na quarta-feira passada o governo de Dublin, em mais um "plano de salvação da economia" que anunciou, revelou que já havia liberado empréstimo de ajuda de 7 bilhões de euros aos dois maiores bancos do país, o Allied Irish Bank e o Bank of Ireland.

Aliás, na semana passada, o Bank of Ireland esticou de novo a mão pedindo ajuda do governo do primeiro-ministro Brian Cowen, o qual, ano passado, sucedeu o primeiro-ministro do "milagre econômico irlandês", Bertie Ahern, e foi chamado para gerenciar uma situação econômica que ninguém esperava que ocorresse neste país-ilha: a derrocada do setor bancário, estouro da bolha no mercado local de imóveis, profunda queda da economia e contração do Produto Interno Bruto (PIB), que deverá superar 8% neste ano.

Atração de trabalhadores

Mas o que, exatamente, aconteceu ao "tigre celta", que há alguns, poucos anos, anunciava números de crescimento asiáticos? O que aconteceu ao país-modelo que, agoniado, procurava mão-de-obra nos demais países da UE para cobrir os postos de trabalho que eram criados em seu setor de serviços?

Era característica a oferta de 5 mil marcos (cerca de 2,5 mil euros) que oferecia a Agência de Trabalho de Berlim aos alemães que decidissem imigrar à Irlanda com emprego garantido.

Porque naquela brilhante época o pequeno país insular de apenas 4,5 milhões de habitantes atraía como imã os capitais para investimentos norte-americanos, enquanto os gigantes Microsoft, IBM, Hewlett Packard, Dell e quase todas as demais grandes empresas norte-americanas de alta tecnologia, assim como vários bancos e inúmeras outras empresas norte-americanas, haviam criado cabeças-de-ponte na Irlanda. Criavam unidades de fabricação e subsidiárias, transformando-as em ponto de partida para alavancar seus interesses no Continente Europeu.

Porém, nos anos das vacas gordas julgava-se que a chave do sucesso da Irlanda era a redução dos tributos empresariais. De fato, a partir de 1988 começou a ser reduzido, gradualmente, o denominador dos tributos empresariais e de 47% que era despencou para 12,5% hoje.

Menor taxa do planeta

Trata-se do menor percentual tributário entre todos os países desenvolvidos do planeta, com exceção da Republica de Chipre, que registra percentual de 10%. "Os impostos constituem questão chave para nós", havia reconhecido Joe Mc Crea, diretor-geral da subsidiária da Microsoft, a qual, mesmo após o estou da bolha, continuou ocupando o maior número de empregados entre todas as demais empresas instaladas na Irlanda.

E com o passar dos anos provou-se que a Irlanda poderia se tornar o Silicon Valey da Europa, não tanto por sua baixa tributação empresarial, mas graças a inúmeras outras importantes vantagens comparativas e competitivas que oferecia, como moderna infra-estrutura, legislação favorável para instalação de empresas estrangeiras, elevado nível de profissionalização da população de língua inglesa e, também, distante apenas quatro horas de Nova York.

Mas, tudo isso é passado. De acordo com Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais de Dublin, no triênio 2008-2010 a Irlanda está sendo fustigada pela pior crise econômica de todos os países desenvolvidos, crise esta que somente poderá ser comparada com aquela da década de 1930.

A economia da Irlanda deverá se contrair neste ano em 8,3%, enquanto o desemprego atingiu os mais altos níveis dos últimos 14 anos. Acredita-se que, se o mercado de trabalho dos EUA se tornasse sadio, o mundo testemunharia a maior onda de imigrantes da Irlanda para os EUA. Mas, algo assim, certamente, não acontecerá. Exatamente, porque a "bênção da Irlanda" há alguns anos transformou-se em "maldição".