A culpa não é de São Pedro

Por Jamil Murad*

Os temporais que atingiram São Paulo no início de dezembro trouxeram à tona, mais uma vez, os problemas estruturais da cidade e o sofrimento da população trabalhadora, ignorados pela peça orçamentária do próximo ano, aprovada em 1ª discussão, que opta pela redução dos recursos para obras de combate à enchente e que demonstra a completa falta de sintonia entre as diretrizes da gestão do Prefeito Kassab e as reais necessidades da população.

O orçamento 2010 não atende o paulistano que teve a casa inundada, aquele que ficou parado nos pontos de ônibus alagados, nos trens e metrô paralisados. Em vez de investimentos massivos, o Executivo corta 17 milhões da Secretaria das Subprefeituras que cuida da intervenção, urbanização e melhoria de bairros. Também corta 12 milhões das obras em áreas com riscos geológicos e prevê para a limpeza pública do próximo ano, 300 milhões de reais a menos do que o orçamento de 2009.

Kassab prossegue seguindo à risca a cartilha das prioridades eleitoreiras, como foi o caso das obras de ampliação das pistas da marginal Tietê, no infeliz consórcio de poder com o PSDB, que servirão prioritariamente ao transporte individual. Arrancaram mais de 800 árvores e impermeabilizaram o solo contribuindo para o alagamento da pista e a instalação do caos no trânsito da cidade nesses dias de chuvas torrenciais.

As imagens valem mais que palavras; basta ver as cenas vividas no início desta semana. Os números também não mentem: o Rio Tietê subiu 07 metros e o Rio Pinheiros 04 metros, foram mais de 100 pontos de alagamentos. Segundo a Defesa Civil, São Paulo registrou desde o início deste mês, oito mortes e uma centena de desabrigados.

O prefeito Kassab minimizou o caos que se instalou na cidade preferindo jogar a culpa em São Pedro pelas chuvas intensas. Após um período de silêncio descabido, o governador Serra declarou que a cheia não poderia ser evitada ignorando que a responsabilidade sobre obras no Rio Tietê e Pinheiros é do governo do Estado. Da mesma forma é dever do Estado manter as bombas em bom estado de funcionamento. O que não aconteceu.

A verdade é que o temporal do início da semana não foi o pior de São Paulo. Em 25/05/05, 10/03/06 e 07/02/07 chuvas mais intensas ocorreram na cidade sem as conseqüências dos últimos dias. Medidas simples como limpeza das ruas, dos córregos, dos bueiros e piscinões são indispensáveis, mas não foram tomadas.

O homem desenvolveu conhecimento para dominar os efeitos diversos da natureza. Não podemos nos conformar com a desculpa de que as intempéries são incontroláveis. O povo está cansado do mesmo discurso ano após ano. É responsabilidade do poder público investir em ações que minimizem e solucionem os problemas crônicos da cidade. O orçamento poderia ser um instrumento para esse fim se a prioridade fosse a cidade e seu povo.

* Jamil Murad, é vereador na cidade de São Paulo, membro dos comitês, Municipal de São Paulo, Comitê Estadual de SP e membro do Comitê Central do PCdoB