Antonio Capistrano: Hugo Chávez, ditador?

O PIG, Partido da Imprensa Golpista, não tem jeito. Continua com a mesma cantilena, qualificando o presidente Hugo Chávez de ditador.

hugo chávez

Ouvi, nesta terça-feira (15/12/09), na tevê senado, todos os discursos dos senadores e senadoras durante a sessão daquela casa legislativa que aprovou a entrada da Venezuela no Mercosul. Uma verdadeira repetição dos mesmos argumentos que vem sendo utilizado pela oposição e o PIG durante todo processo de tramitação dessa matéria, tanto no Senado como na Câmara Federal. Argumento em cima de uma única justificativa, Hugo Chávez é um ditador, portanto a Venezuela, hoje, não é uma democracia e a sua entrada no Mercosul poderá contaminar os países democráticos do continente. Imagine só, essa turma falando em democracia!

Uma justificativa muito fajuta, sem a mínima consistência, muito pelo contrario, a Venezuela em toda a sua história nunca viveu um período tão democrático como esse que ela está vivendo. Fui durante muitos anos professor de História das Américas, conheço a história: política, econômica e administrativa dos países latino americano, todos sabem de verdadeiras pilhagens ocorridas nesse imenso e rico continente, feitas, inicialmente, pelas potências colonialistas e depois pelas nações capitalistas.

Com a Venezuela não foi diferente, igual a todas as ex-colônias espalhadas pelo mundo, ela sofreu à evasão das suas riquezas através dos saques realizadas pelas potências colonialistas. Além do mais, a Venezuela possui uma elite antipovo, sempre aliada aos interesses da metrópole do momento. A população trabalhadora da Venezuela, o povo venezuelano, sempre foi excluído das riquezas do seu país. Hoje, a Venezuela tem um governo popular e nacionalista que vem mudando, junto com outros governos nacionalistas e de esquerda, o cenário econômico e político do nosso continente, governos que não aceitam a tutela do neoliberalismo e os saques que vinham sendo efetuados pelas potências capitalistas com o beneplácito das elites desses países.

O presidente Chávez, em duas eleições, foi eleito e reeleito para o cargo de Presidente da República. Eleições com a fiscalização de organismos internacionais, inclusive com a presença do ex-presidente norte-americano Jimmy Carter, que comprovou a lisura do pleito e tem dado declarações a favor do presidente venezuelano. Durante esse período, que Chávez governa a Venezuela, já foram realizadas 10 consultas populares (plebiscitos) Chávez só perdeu uma e aceitou, democraticamente, o resultado. Em todas as pesquisas realizadas, até hoje, Chávez, tem mais de 50% de aprovação da população venezuelana. E isso é ser antidemocrático?

A posição da grande imprensa e dos tucanos/demos faz lembrar uma famosa declaração de um embaixador brasileiro nos Estados Unidos, se não me falha a memória, Juracy Magalhães, que disse certa fez: “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”. Claro que isso é uma mentira deslavado, é uma declaração entreguista, antipatriótica. Há muito tempo, nas relações internacionais, o que é bom para os Estados Unidos não é bom para os países em desenvolvimento ou para os países subdesenvolvidos. Essa declaração lembra a luta em defesa da Petrobras, a luta que ficou conhecida como, “O petróleo é nosso”. São essas mesmas forças, a mesma mídia, as oligarquias tradicionais, se posicionando contra os interesses do Brasil.

Defender a entrada da Venezuela e de todos os países da América do Sul, inclusive da Colômbia, hoje, governada pelo governo antidemocrático de Uribe, no Mercosul, é uma questão de fortalecimento das relações econômicas dos nossos países. Não vejo essa elite e a grande imprensa se posicionarem contra a militarização do nosso continente, contra as bases militares norte-americanas instaladas na Colômbia, aí sim, uma verdadeira afronta às democracias que a cada dia vem se consolidando na América do Sul. Essa mesma elite e essa a mesma mídia, que combatem Chávez, não se posicionou contra o golpe em Honduras, muito pelo contrario procuram justificar-lo.

Hoje, na Venezuela existe uma democracia, mesmo sofrendo alguns percalços, próprios de um processo novo, igual às dificuldades que temos aqui no Brasil, dificuldades essas consequencia de um peso cultural complicado, resultado de uma dominação colonial, corrupta, predadora, nociva ao nosso pleno desenvolvimento. A nossa história é semelhante. Somos ex-colônias de um mesmo sistema. Na Venezuela, como no restante do continente, o processo de dominação foi excludente, escravocrata e elitista, as nossas elites são gananciosas e entreguistas.

Chávez, Lula, Evo, Correa, Cristina Kirchner, Lugo, Bachelet e Mujica, são resultados dessa nova face política da América do Sul, foram democraticamente eleitos e, isso incomoda muito a elite. O PIG, como expressão midiática dessa elite, é contra as mudanças, eles não sabem conviver em uma verdadeira democracia. Democracia onde o povo tem vez, pra eles não é uma democracia. Mas, já dizia o velho Lênin, “existem dois tipos de democracia uma proletária (da maioria) e outra burguesa (da minoria)”.

por Antonio Capistrano, professor de história da América e filiado ao PCdoB