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Após agressão, Berlusconi usa tom conciliador e encara problemas

Com um meio sorriso atrás do curativo que cobre seu nariz, o lábio superior e a sobrancelha esquerda, fazendo saudações para as câmeras, Silvio Berlusconi deixou na manhã de quinta-feira (17) o hospital San Raffaelle de Milão, onde passou quatro dias recuperando-se da agressão que sofreu no domingo na praça do Duomo.

Antes de chegar a sua residência, Villa San Martino en Arcore, ao norte da cidade, o primeiro-ministro parou no consultório de seu dentista, Massimo Mazza, para tratar os dois dentes afetados pelo golpe. Agora deverá manter repouso durante dez ou 15 dias, disseram seus médicos. O jornal suíço Le Matin informou que o primeiro-ministro, de 73 anos, marcou consulta em uma clínica de cirurgia estética em Gravesano, na Suíça, supõe-se que para reparar o nariz parcialmente fraturado e possíveis cicatrizes.

As primeiras palavras do primeiro-ministro depois da alta chegaram através de uma nota oficial: “Ficarei com duas ou três recordações desses dias”, disse. “O ódio de alguns poucos e o amor de muitos italianos. A todos eles faço a mesma promessa: seguiremos adiante com a mesma força e determinação que antes e pelo caminho da liberdade”. “Devemos isso ao nosso povo e à nossa democracia”, acrescentou Berlusconi, afirmando que “não prevalecerá nem a violência das pedras nem a das palavras, que ainda é pior”.

“Se com o que aconteceu obtivermos um clima mais tranquilo e honesto na política italiana, minha dor não terá sido inútil”, salientou o primeiro-ministro. Aí acabaram as palavras pacificadoras. O resto mostrou que, embora o magnata tenha saído do trauma tocado de um espírito mais integrador, não se converteu, como alguns pensavam, em um franciscano pacifista.

O primeiro-ministro será inflexível com aqueles que, na sua opinião, promovem o ódio. “Se a oposição souber realmente se distanciar de forma honrada dos poucos que fomentam o ódio, poderemos abrir uma nova fase de diálogo. Eu, de todo modo, seguirei adiante com as reformas, porque os italianos as pedem”, advertiu.

A impressão é de que, usando uma linguagem um pouco menos agressiva, Berlusconi continua tendo as mesmas intenções e os mesmos problemas que antes. E não pensa em renunciar a seu projeto: primeiro, livrar-se como for dos julgamentos que tem pendentes; segundo, reformar a Constituição para controlar melhor promotores e juízes e inclusive o Tribunal Constitucional.

Para isso, tentará isolar a oposição irredutível do ex-juiz Antonio Di Pietro, que no domingo já estava formando uma frente comum anti-Berlusconi com toda a oposição, e sem dúvida continuará atacando a imprensa mais crítica.

O Povo da Liberdade ofereceu ao Partido Democrático e aos democratas-cristãos da UCD um “pacto democrático” e parece ter seduzido a ambos. O Partido Democrático pretende abandonar seu aliado ocasional, Di Pietro. O líder, Pier Luigi Bersani, depois de visitar Berlusconi no hospital, saiu entregue à causa.

E Nicola Latorre, homem de confiança de Massimo D'Alema, disse que “o dever é frear o conflito político e começar a reformar”. A oferta do PDL fala em “não utilizar atalhos judiciais”, frase que não se refere a que Berlusconi vá se submeter aos processos; ao contrário, critica um suposto uso espúrio da justiça para se legitimar a vontade popular.

A ideia da maioria continua sendo aprovar o mais cedo possível um escudo legal transitório, uma lei-ponte sob medida, que ofereça 18 meses de calma para levar adiante a reforma constitucional, que incluirá a imunidade dos altos cargos do Estado. O mediador do plano é Gianfranco Fini, o único do PDL que pode falar com a oposição e com Berlusconi ao mesmo tempo. Sua aspiração é abrir uma nova temporada política, de reformas constituintes e encontro comum em torno da Constituição, com a “estrela polar” do presidente da República como única bússola.

Antes do Natal, Fini terá uma reunião política com Berlusconi em Arcore, explica seu porta-voz, “com a ideia de pactuar uma reforma que agrade a todos”. Em sua opinião, é possível uma relação de respeito recíproco com o líder máximo. Pelo menos é esse seu desejo.

Da Redação, com informações do El País