Bahia: Iyalorixá nega ritual do candomblé no crime das agulhas

Em entrevista coletiva concedida na manhã desta quarta-feira (30/12), a Iyalorixá Mãe Stella de Oxóssi, do Terreiro do Ilê Axé Opô Afonjá, descartou qualquer relação de rituais das religiões de matriz africana no atentado cometido contra um garoto de 2 anos, que teve 31 agulhas introduzidas no corpo pelo padrasto. A criança continua internada e já passou por três cirurgias, nas quais foram retiradas 22 agulhas. As demais devem permanecer no organismo do menino.

No último dia 15 de dezembro, a criança foi internada com dezenas de agulhas no corpo, inseridas por seu padrasto, Roberto Carlos Magalhães Lopes. De acordo com Mãe Stella, muitas pessoas associaram o ocorrido com o que popularmente é conhecido como "vudu". "Na verdade, o termo é usado por uma nação africana para chamar as entidades adoradas, os orixás. Não tem nenhuma relação com rituais feitos com agulhas", esclarece.

De acordo com Mãe Stella, a religião de matriz africana trabalha com a cura do espírito e não envolve supostos rituais curandeiros. "As pessoas ficam inventando histórias que não existem. Nenhuma religião séria tem esse tipo de prática" disse.

A Iyalorixá lamentou ainda o envolvimento de uma suposta mãe-de-santo no atentado. "Muita gente diz que é do candomblé por não haver uma regulamentação da religião e isso só gera mais preconceito", afirma. Além disso, para Mãe Stella, a interpretação do crime como um suposto ritual de magia negra gera ainda mais equívocos.

A líder espiritual também expressou o repúdio de toda a comunidade adepta da religião de matriz africana ao ocorrido e a corrente de orações que tem sido feita para o garoto. "Ele é um herói. Estamos pedindo aos orixás que dêem forças para que ele se recupere logo", concluiu.

Recuperação

Com apenas dois anos e sete meses, e depois de passar por três cirurgias para retirada de agulhas espalhadas pelo corpo, M.S.A, segue internado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Ana Nery (HAN), em Salvador. De acordo com os médicos, ele se recupera bem da última cirurgia, realizada na segunda-feira. A criança deverá permanecer na unidade por pelo menos 15 dias. Ele precisará de acompanhamento clínico por cinco anos, devido às agulhas alojadas no corpo.

Até agora já foram retirados 22 agulhas do corpo do menino, que, de acordo com a polícia foram colocadas pelo padrasto da criança. O objetivo era matar o pequeno, sem que ninguém desconfiasse, para se vingar da mãe, disse o acusado do crime Roberto Carlos Magalhães, 30 anos, em depoimento à polícia. A suposta amante de Magalhães, Angelina Ribeiro dos Santos, 47 anos, também foi acusada pelo crime.

Da redação local