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Juiz dos EUA retém conta do BC argentino

O ministro argentino da Economia, Amado Boudou, anunciou, nesta terça-feira (12), que a Justiça americana embargou parte das reservas do Banco Central da Argentina nos Estados Unidos. Ele pediu à população que não se preocupe, assinalando que a medida envolve, inicialmente, 1,7 milhão de dólares, e, em nenhuma circunstância, poderá superar os 15 milhões. O BC vai recorrer da decisão.

A medida tomada por um velho conhecido da Argentina, o juiz Thomas Griesa, ocorre no contexto de uma crise gerada pela recusa do presidente do Banco Central, Martin Redrado, de liberar parte das reservas internacionais – que somam cerca de US $ 48 bilhões a partir da recuperação do país desde 2003 até agora – para o Fundo Bicentenário, destinado a negociar a dívida e sair do default, produzido em 2001.

Esta recusa levou a presidente a pedir a renúncia do funcionário, mas Redrado se negou, argumentando que só o Congresso poderia tomar a decisão de despedí-lo, levando a presidente a recorrer a um decreto de necessidade e urgência para sua saída da entidade.

Em parceria com todo o arco adversário de direita e com o vice-presidente Julio Cobos, Redrado conquistou o amparo de uma juíza ligada familiarmente a militares da passada ditadura, que em duas horas ordenou a sua reintegração.

Boudou defendeu a decisão da presidente para criar o Fundo Bicentenário e utilizar parte das reservas do Banco Central para pagar as obrigações de dívida em 2010 e evitar pedir créditos a taxas elevadas.

A medida de Griesa repercutiu e, segundo o ministro, causou danos à reabertura de troca de dívida, razão pela qual considerou que "existe uma conspiração para que a Argentina pague mais taxas de juros".

Ele convocou Redrado a assumir uma atitude correta e permitir que "as instituições continuem a funcionar". Visivelmente irritado, também fez duras críticas ao vice-presidente da República, Julio Cobos, e setores da Justiça, aos quais culpou pela atual turbulência. Segundo Boudou, Cobos – que rompeu com a presidente Cristina e tornou-se o principal presidenciável da oposição – lidera um "complô" contra o governo.

"É chamativo que um governo que quer avançar em dar independência ao País se encontre, nesse momento, praticamente em um estado de pressão sobre sua capacidade de agir por causa de um conjunto de ações da oposição de políticos, de alguns setores da Justiça, dos detentores de bônus que nunca quiseram se acertar com o País", acusou.

O ministro qualificou o juiz norte-americano de "embargador serial dos ativos argentinos". Ele recordou que, nos últimos anos, Griesa "buscou ativos argentinos de consulados, embaixadas, de ciência e tecnologia, procurando em todos e em cada um dos lugares possíveis, recursos para pagar os credores conhecidos como fundos abutres" (especulativos).

Em 2006, quando houve o cancelamento da dívida da Argentina com o Fundo Monetário Internacional (FMI), Griesa mencionou a possibilidade de um embargo sobre as reservas do BC e, antes de tomar a medida atual, "tinha ordenado embargos sucessivos contra os bônus argentinos negociados e os fundos do Banco Nação nos Estados Unidos, assim como as contas bancárias da Embaixada da Argentina, na França", disse o jornal La Nación.

Toda esta situação resultou em uma forte debate interno, com acusações de uma tentativa de "golpe brando", do qual participa toda a direita nacional e alguns setores teoricamente "progressistas". Todos os dedos acusadores também apontam ao enviado do presidente Brack Obama à América latina, Arturo valenzuela, que falou de "insegurança jurídica" quando não havia essa situação no país, reuniu-se com a oposição e expressou alguma nostalgia dos anos 90, auge do neoliberalismo que levou o país à pior crise de sua história.

"Me parece que Cobos quer ser presidente antes de 2011. E são estas pessoas que falam sobre a governabilidade", disse a presidente , acrescentando que, apesar de ele ter o direito de se candidatar à presidência em 2011 – como já anunciou anteriormente -, está incorrendo em uma "falta de ética", uma vez que, "da vice-presidência, quer ser candiudato do principal partido da oposição".

Cristina reiterou sua intenção de avançar no cancelamento da dívida do país com credores privados externos, a fim de reduzir as taxas de juros que devem ser pagas nos mercados financeiros, e defendeu a proposta de quitar os débitos com fundos do BC.

Para ela, os fundos especulativos que moveram a ação visando o sequestro das contas do BC "querem que sigamos endividados", além de tentarem "apoderar-se dos recursos de todos os argentinos". Foi então que advertiu que não deixará o seu posto.

Com agências